Tudo sobre empréstimos modais na música

A música é uma linguagem em constante evolução, um universo de sons e ideias que se transformam e se reinventam a cada instante. Dentro desse vasto panorama, existem técnicas e conceitos que enriquecem a expressividade musical, proporcionando cores e nuances inesperadas. Uma dessas técnicas fascinantes é o empréstimo modal, um recurso que permite aos compositores explorar sonoridades diferentes daquelas encontradas nas escalas maiores e menores tradicionais. Ao introduzir elementos de outros modos musicais, o empréstimo modal adiciona profundidade, caráter e um toque de originalidade às composições. Este artigo é um mergulho profundo nesse conceito, desvendando suas particularidades e mostrando como ele pode ser uma ferramenta poderosa para músicos de todos os estilos.

Compreender o empréstimo modal abre um leque de possibilidades criativas, permitindo que você expresse emoções e ideias de maneiras novas e surpreendentes. Seja você um compositor buscando novas texturas sonoras, um instrumentista querendo entender melhor a música que interpreta, ou simplesmente um entusiasta curioso sobre os mistérios da teoria musical, este guia completo irá te conduzir pelo universo dos modos musicais e suas interconexões. Prepare-se para expandir seus horizontes musicais e descobrir como o empréstimo modal pode transformar sua percepção e sua prática musical.

O que exatamente são empréstimos modais na música?

O conceito de empréstimo modal na música refere-se à prática de incorporar características sonoras de um modo musical em uma composição que fundamentalmente se baseia em outro modo, geralmente o modo maior ou menor. Em outras palavras, é como se a música pegasse emprestado temporariamente um “sabor” diferente, uma cor harmônica ou melódica que não pertence à sua tonalidade principal. Essa técnica permite adicionar variedade e expressividade, criando um senso de tensão, melancolia, brilho ou qualquer outra emoção que o compositor deseje evocar.

Para entender o empréstimo modal, é crucial ter familiaridade com os modos musicais, também conhecidos como modos gregos. Esses modos são variações da escala diatônica (as sete notas naturais) que se distinguem pela sua estrutura de intervalos e pelo seu centro tonal característico. Os sete modos principais são: Jônio (idêntico à escala maior), Dórico, Frígio, Lídio, Mixolídio, Eólio (idêntico à escala menor natural) e Lócrio. Cada um desses modos possui uma sonoridade única devido à diferente disposição dos tons e semitons dentro da escala.

O empréstimo modal ocorre quando um compositor, escrevendo em uma tonalidade específica (por exemplo, Dó maior, que é o modo Jônio de Dó), introduz acordes ou melodias que são característicos de outro modo (por exemplo, um acorde que normalmente apareceria no modo Lídio de Dó). Essa “nota estranha” ou acorde inesperado dentro do contexto tonal estabelecido é o que define o empréstimo modal. É importante notar que o empréstimo modal geralmente não implica uma mudança completa de tonalidade, mas sim uma breve incursão em um território sonoro diferente, enriquecendo a linguagem musical sem abandonar o centro tonal principal.

Como identificar um empréstimo modal em uma peça musical?

Identificar um empréstimo modal em uma peça musical requer uma escuta atenta e um conhecimento básico de teoria musical, especialmente dos modos musicais. O primeiro passo é identificar a tonalidade principal da música. Geralmente, isso é indicado pela armadura de clave e pela nota que soa como o “repouso” ou centro gravitacional da melodia e da harmonia. Uma vez estabelecida a tonalidade, procure por notas ou acordes que não pertencem à escala diatônica dessa tonalidade.

Essas notas ou acordes “estranhos” podem ser indicadores de um empréstimo modal. Para confirmar, tente relacionar essas alterações com as características dos diferentes modos musicais. Por exemplo, se você está em Dó maior e encontra um Fá sustenido, isso pode sugerir um empréstimo do modo Lídio, que possui um quarto grau aumentado. Da mesma forma, um acorde menor construído sobre o segundo grau em uma tonalidade maior (como um Dó maior com um Ré menor) pode indicar um empréstimo do modo Dórico.

É útil comparar a melodia e a harmonia da peça com as escalas e acordes característicos de cada modo. Observe os intervalos presentes na melodia e a qualidade dos acordes utilizados. Por exemplo, o modo Mixolídio se distingue por ter um sétimo grau menor, o que frequentemente resulta em acordes dominantes com sétima menor em tonalidades maiores. O modo Frígio, por sua vez, possui um segundo grau menor, criando uma sonoridade bastante característica, especialmente em melodias que enfatizam esse intervalo.

Além disso, o contexto musical é fundamental. Um empréstimo modal geralmente serve a um propósito expressivo, adicionando uma cor ou um sentimento específico à música. Preste atenção ao efeito emocional que essas notas ou acordes “emprestados” criam. Eles trazem um toque de melancolia? Um brilho incomum? Uma sensação de tensão? A resposta a essas perguntas pode ajudar a confirmar a presença de um empréstimo modal e a entender sua função dentro da composição.

Quais são os modos gregos e como eles se relacionam com o empréstimo modal?

Os modos gregos, ou modos musicais, são um conjunto de sete escalas diatônicas que formam a base do sistema modal ocidental. Cada modo possui uma sonoridade única devido à sua específica sequência de tons (T) e semitons (S). Eles são derivados da escala maior (modo Jônio) ao começar a escala em diferentes graus. A relação entre os modos gregos e o empréstimo modal é direta: os modos são a fonte das características sonoras que são “emprestadas” para enriquecer uma composição que se baseia primariamente em outro modo.

Vamos explorar brevemente cada um dos sete modos principais:

• Jônio: É idêntico à escala maior. Sua fórmula é T-T-S-T-T-T-S. Tem um caráter brilhante e alegre.
• Dórico: Começa no segundo grau da escala maior. Sua fórmula é T-S-T-T-T-S-T. Possui um caráter menor, mas com uma sonoridade mais suave e melancólica do que o modo menor natural (Eólio).
• Frígio: Começa no terceiro grau da escala maior. Sua fórmula é S-T-T-T-S-T-T. É caracterizado por um semitom entre o primeiro e o segundo grau, conferindo-lhe uma sonoridade exótica e, por vezes, tensa.
• Lídio: Começa no quarto grau da escala maior. Sua fórmula é T-T-T-S-T-T-S. Possui um quarto grau aumentado, o que lhe confere uma sonoridade brilhante e etérea.
• Mixolídio: Começa no quinto grau da escala maior. Sua fórmula é T-T-S-T-T-S-T. É caracterizado por um sétimo grau menor, o que o torna comum em contextos de blues e rock.
• Eólio: É idêntico à escala menor natural. Sua fórmula é T-S-T-T-S-T-T. Tem um caráter menor e melancólico.
• Lócrio: Começa no sétimo grau da escala maior. Sua fórmula é S-T-T-S-T-T-T. Possui um trítono entre o primeiro e o quinto grau, o que o torna instável e raramente utilizado como modo principal.

No contexto do empréstimo modal, um compositor pode, por exemplo, estar escrevendo em Dó maior (Jônio de Dó) e decidir usar um acorde característico do modo Dórico de Dó. O modo Dórico de Dó tem as mesmas notas que a escala maior de Sib, começando em Dó (Dó-Ré-Mib-Fá-Sol-Lá-Sib). Ao introduzir um acorde de Ré menor (que é o ii grau no Dórico de Dó), o compositor está fazendo um empréstimo modal, adicionando uma cor sonora diferente à sua composição em Dó maior. A compreensão das características de cada modo é essencial para identificar e utilizar o empréstimo modal de forma eficaz.

Por que um compositor utilizaria o empréstimo modal em sua música?

Um compositor pode recorrer ao empréstimo modal por diversas razões, todas elas ligadas ao desejo de enriquecer a expressividade e a sonoridade de sua música. Uma das principais motivações é a busca por variedade harmônica e melódica. Ao invés de se limitar aos acordes e melodias diatônicas de uma tonalidade maior ou menor, o empréstimo modal oferece um leque mais amplo de possibilidades sonoras, permitindo criar progressões de acordes e linhas melódicas mais interessantes e surpreendentes.

O empréstimo modal também é uma ferramenta poderosa para a expressão emocional. Cada modo musical possui um caráter e uma atmosfera distintos. Ao incorporar elementos de um modo específico, o compositor pode evocar sentimentos particulares. Por exemplo, o modo Frígio, com seu segundo grau menor, pode criar uma sensação de tensão, mistério ou até mesmo um toque flamenco. O modo Lídio, com seu quarto grau aumentado, pode adicionar um brilho etéreo e sonhador à música. O modo Mixolídio, com seu sétimo grau menor, é frequentemente associado a um sentimento de blues e descontração.

Além disso, o empréstimo modal pode ser usado para criar interesse e evitar a monotonia. Em peças musicais mais longas, a utilização de empréstimos modais pode ajudar a manter a atenção do ouvinte, introduzindo novas cores e texturas sonoras sem necessariamente mudar completamente a tonalidade. Essa técnica permite criar seções contrastantes dentro de uma mesma peça, adicionando profundidade e complexidade à estrutura musical.

Outra razão para o uso do empréstimo modal é a referência cultural ou estilística. Certos modos estão fortemente associados a gêneros musicais específicos ou a tradições musicais de diferentes culturas. Por exemplo, o modo Dórico é comum na música folclórica irlandesa, enquanto o modo Frígio tem uma forte presença na música flamenca e em algumas formas de música do Oriente Médio. Ao utilizar empréstimos modais, um compositor pode evocar essas associações culturais e estilísticas, enriquecendo sua música com influências diversas.

Em suma, o empréstimo modal é uma técnica versátil que permite aos compositores adicionar cor, emoção, variedade e profundidade às suas composições. Ele oferece uma maneira de expandir as fronteiras da tonalidade tradicional sem abandoná-la completamente, proporcionando um vasto território para a exploração criativa.

Quais são alguns exemplos famosos de empréstimos modais na música popular e erudita?

O empréstimo modal é uma técnica amplamente utilizada em diversos gêneros musicais, tanto na música popular quanto na erudita. Reconhecer exemplos concretos pode ajudar a solidificar a compreensão desse conceito.

Na música popular, um exemplo clássico de empréstimo modal é encontrado na canção “Scarborough Fair”, uma tradicional balada inglesa. A melodia da música utiliza elementos do modo Dórico, conferindo-lhe um caráter melancólico e arcaico. Embora a canção possa ser harmonizada de diversas maneiras, a própria melodia carrega a marca do modo Dórico.

Outro exemplo notável na música popular é a canção “Eleanor Rigby” dos Beatles. A melodia do verso, especialmente a frase “Ah, look at all the lonely people”, possui uma forte influência do modo Frígio, com seu característico semitom entre o primeiro e o segundo grau. Essa sonoridade contribui para a sensação de tristeza e isolamento expressa na letra.

Na música erudita, o compositor francês Claude Debussy foi um mestre no uso de empréstimos modais para criar atmosferas impressionistas. Em sua peça para piano “La Cathédrale Engloutie”, Debussy utiliza elementos do modo Lídio para evocar uma sensação de mistério e solenidade, com a sonoridade brilhante e etérea característica desse modo.

Outro exemplo pode ser encontrado na obra de Gustav Mahler. Em sua Sinfonia nº 2, conhecida como “Ressurreição”, Mahler utiliza passagens que exploram sonoridades do modo Frígio para criar momentos de intensa expressividade dramática e introspectiva.

Além desses exemplos específicos, o empréstimo modal é frequentemente utilizado no jazz. Músicos de jazz improvisam frequentemente sobre acordes que sugerem diferentes modos, explorando as cores e as possibilidades melódicas que cada modo oferece. Por exemplo, improvisar sobre um acorde dominante com sétima menor (como um Sol7 em Dó maior) naturalmente leva à exploração do modo Mixolídio.

A música folclórica de diversas culturas também é rica em exemplos de melodias e harmonias modais. As músicas tradicionais irlandesas frequentemente utilizam os modos Dórico e Mixolídio, enquanto a música flamenca muitas vezes explora o modo Frígio.

Esses são apenas alguns exemplos que ilustram a presença e a importância do empréstimo modal na música. Ao ouvir atentamente diferentes estilos e gêneros musicais, é possível identificar inúmeros outros casos em que essa técnica é utilizada para enriquecer a linguagem musical e expressar uma ampla gama de emoções e ideias.

O empréstimo modal se limita apenas à melodia ou pode afetar a harmonia?

O empréstimo modal não se limita apenas à melodia; ele pode e frequentemente afeta a harmonia de uma peça musical. De fato, muitas vezes é na esfera harmônica que o empréstimo modal se manifesta de forma mais evidente e impactante. A introdução de acordes que não pertencem à tonalidade principal é uma das maneiras mais comuns e eficazes de utilizar o empréstimo modal.

Quando um compositor decide usar um empréstimo modal na harmonia, ele pode introduzir acordes que são característicos de um modo específico dentro do contexto da tonalidade principal. Por exemplo, em uma peça em Dó maior, um compositor pode usar um acorde de Fá menor. Esse acorde não é diatônico à escala de Dó maior, mas é um acorde comum no modo Dórico de Dó (onde o iv grau é menor). A utilização desse acorde de Fá menor adiciona uma cor sonora diferente à harmonia, criando um efeito de empréstimo modal.

Da mesma forma, em uma tonalidade menor, como Lá menor (modo Eólio de Lá), um compositor pode introduzir um acorde de Dó maior com sétima maior. Esse acorde não é diatônico ao modo Eólio de Lá, mas é característico do modo Lídio de Lá (que tem um quarto grau aumentado, resultando em um acorde IV maior com sétima maior). A presença desse acorde cria um contraste interessante e enriquece a paleta harmônica.

O empréstimo modal na harmonia também pode envolver a utilização de progressões de acordes que são típicas de outros modos. Por exemplo, uma progressão que enfatiza o acorde construído sobre o segundo grau menor (típico do modo Frígio) pode ser utilizada em uma peça que está fundamentalmente em outro modo, criando um efeito de empréstimo modal na harmonia.

É importante notar que a melodia e a harmonia frequentemente trabalham juntas no empréstimo modal. Uma melodia que utiliza notas características de um modo específico pode ser harmonizada com acordes que também refletem essa sonoridade modal, reforçando o efeito desejado pelo compositor. Por outro lado, uma harmonia modalmente emprestada pode influenciar a escolha das notas melódicas, criando uma interação rica e expressiva entre os dois elementos musicais.

Em resumo, o empréstimo modal é uma técnica que pode afetar tanto a melodia quanto a harmonia de uma peça musical. Embora a identificação de notas melódicas “estranhas” possa ser um primeiro passo para reconhecer um empréstimo modal, é na análise da harmonia, especialmente na identificação de acordes não diatônicos, que muitas vezes se encontra a evidência mais clara e impactante dessa prática.

Existem regras específicas para usar o empréstimo modal ou é uma técnica livre?

Embora não existam regras rígidas e universais para o uso do empréstimo modal, existem algumas diretrizes e princípios que os compositores geralmente seguem para garantir que o efeito desejado seja alcançado e que a música não soe caótica ou incoerente. O empréstimo modal é, em grande parte, uma técnica livre e criativa, mas um bom entendimento do contexto tonal e das características dos modos é fundamental para utilizá-lo com sucesso.

Uma das principais considerações ao usar o empréstimo modal é a relação entre o modo principal e o modo emprestado. Geralmente, os empréstimos modais mais eficazes ocorrem entre modos que compartilham algumas notas em comum com a tonalidade principal. Isso ajuda a criar uma conexão sonora e a evitar mudanças abruptas que possam soar desconexas. Por exemplo, emprestar do modo Dórico (que compartilha muitas notas com o modo menor natural) em uma tonalidade menor é uma prática comum e geralmente soa natural.

Outra diretriz importante é a clareza do centro tonal. Embora o empréstimo modal introduza elementos de outros modos, é crucial que a tonalidade principal da peça permaneça clara para o ouvinte. O empréstimo modal geralmente é um evento passageiro, uma “cor” adicionada à paleta sonora, e não uma mudança completa de tonalidade. Se o centro tonal se perder completamente, a técnica deixa de ser um empréstimo modal e se torna uma modulação (mudança de tonalidade).

A função expressiva do empréstimo modal também é um fator importante a considerar. O uso de um modo emprestado deve servir a um propósito musical, seja para criar uma emoção específica, adicionar variedade ou evocar uma referência estilística. Um empréstimo modal que parece aleatório ou sem um objetivo claro pode soar confuso ou desnecessário.

Além disso, a frequência e a duração do empréstimo modal são importantes. Empréstimos muito frequentes ou muito longos podem enfraquecer a sensação da tonalidade principal. Geralmente, os empréstimos modais são utilizados em momentos específicos da música para criar um efeito particular e, em seguida, a música retorna à sua sonoridade principal.

É importante ressaltar que muitos compositores experimentam e quebram essas “diretrizes” em busca de novos sons e expressões. A música é uma arte em constante evolução, e a criatividade muitas vezes reside em desafiar as convenções. No entanto, para iniciantes no uso do empréstimo modal, compreender esses princípios pode ser um bom ponto de partida para explorar essa técnica de forma eficaz e expressiva. A prática e a análise de obras que utilizam o empréstimo modal são as melhores formas de desenvolver um senso intuitivo de como e quando aplicar essa ferramenta musical.

Como o empréstimo modal difere da simples mudança de tonalidade?

A distinção entre empréstimo modal e mudança de tonalidade (ou modulação) é crucial para entender a teoria musical e analisar composições. Embora ambas as técnicas envolvam a introdução de elementos sonoros que não pertencem à tonalidade inicial, elas operam em níveis diferentes e têm efeitos distintos na estrutura e na percepção da música.

A mudança de tonalidade ocorre quando uma peça musical abandona completamente sua tonalidade inicial e se estabelece em uma nova tonalidade. Isso geralmente é marcado por uma cadência forte na nova tonalidade e, muitas vezes, por uma nova armadura de clave. A mudança de tonalidade implica uma alteração fundamental no centro tonal da música, criando uma sensação de movimento e progressão em larga escala.

Por outro lado, o empréstimo modal é uma técnica mais localizada e sutil. Ele envolve a incorporação de elementos (notas, acordes, progressões) característicos de um modo musical diferente dentro do contexto de uma tonalidade principal que permanece fundamentalmente inalterada. O empréstimo modal não implica uma mudança completa do centro tonal; em vez disso, ele adiciona uma “cor” ou um “sabor” diferente à sonoridade da música por um período limitado.

Uma maneira de pensar sobre a diferença é em termos de estabilidade tonal. Em uma mudança de tonalidade, a nova tonalidade se torna o novo centro de repouso e estabilidade. No empréstimo modal, a tonalidade principal continua sendo o ponto de referência, e os elementos modais emprestados são percebidos como desvios ou variações dentro dessa tonalidade.

Outra diferença importante reside na forma como as alterações são introduzidas. As mudanças de tonalidade geralmente são preparadas por acordes de transição que conduzem à nova tonalidade, como acordes dominantes secundários ou acordes pivô. O empréstimo modal, por outro lado, pode ocorrer de forma mais direta, com a introdução de um acorde ou uma melodia modal sem uma preparação elaborada.

Em resumo, enquanto a mudança de tonalidade representa uma alteração estrutural significativa no centro tonal de uma peça musical, o empréstimo modal é uma técnica de enriquecimento harmônico e melódico que ocorre dentro de uma tonalidade estabelecida. O empréstimo modal adiciona cor e expressividade sem alterar fundamentalmente o centro tonal, enquanto a mudança de tonalidade redefine esse centro. Reconhecer essa distinção é essencial para uma análise musical precisa e para a compreensão das intenções do compositor.

O empréstimo modal pode ser encontrado em diferentes gêneros musicais?

Sim, o empréstimo modal é uma técnica versátil que pode ser encontrada em uma ampla variedade de gêneros musicais, desde a música popular e o jazz até a música erudita e a música folclórica de diversas culturas. Sua capacidade de adicionar cor, expressividade e variedade harmônica e melódica o torna uma ferramenta valiosa para compositores e arranjadores em diferentes contextos estilísticos.

Na música popular, como vimos em exemplos anteriores, o empréstimo modal é utilizado para criar melodias e harmonias interessantes e memoráveis. Canções de diversos gêneros, como rock, pop e folk, frequentemente incorporam elementos modais para adicionar um toque especial à sua sonoridade. A utilização de acordes menores em contextos maiores (emprestando do modo menor) ou de acordes maiores em contextos menores (emprestando do modo maior) são exemplos comuns de empréstimos modais na música popular.

No jazz, o empréstimo modal é uma prática fundamental. A improvisação em jazz muitas vezes se baseia em escalas e acordes modais, permitindo aos músicos explorar uma ampla gama de cores sonoras. O conceito de “jazz modal”, popularizado por músicos como Miles Davis, leva essa ideia ao extremo, com peças inteiras construídas sobre progressões de acordes que enfatizam diferentes modos.

Na música erudita, o empréstimo modal tem sido utilizado ao longo da história da música, desde o período medieval (com o uso dos modos eclesiásticos) até a música contemporânea. Compositores como Debussy e Mahler exploraram as possibilidades expressivas dos modos gregos em suas obras, utilizando empréstimos modais para criar atmosferas particulares e adicionar profundidade emocional às suas composições.

A música folclórica de muitas culturas ao redor do mundo é intrinsecamente modal. Muitas melodias e harmonias tradicionais não se encaixam perfeitamente nas escalas maiores e menores tradicionais, mas sim em modos musicais específicos. O reconhecimento desses modos e a compreensão de como eles podem ser incorporados em outros contextos musicais são essenciais para apreciar e analisar a música folclórica.

Até mesmo em gêneros mais modernos e experimentais, como a música eletrônica e a música ambiente, o empréstimo modal pode ser utilizado para criar texturas sonoras únicas e atmosferas imersivas. A exploração de diferentes modos pode levar a paisagens sonoras inesperadas e a novas formas de expressão musical.

Em resumo, o empréstimo modal não está confinado a um único gênero musical. Sua flexibilidade e sua capacidade de enriquecer a linguagem musical o tornam uma técnica relevante e utilizada em uma vasta gama de estilos, refletindo a universalidade e a atemporalidade dos princípios da teoria musical.

Quais são os benefícios de entender e utilizar o empréstimo modal para músicos?

Compreender e utilizar o empréstimo modal traz uma série de benefícios significativos para músicos de todos os níveis e especialidades. Essa técnica enriquece a paleta sonora disponível, expande as possibilidades criativas e aprofunda a compreensão da linguagem musical.

Um dos principais benefícios é o aumento da expressividade musical. O empréstimo modal permite aos músicos adicionar cores e nuances emocionais que não são facilmente acessíveis através das escalas maiores e menores tradicionais. Cada modo possui um caráter único, e a capacidade de incorporar essas sonoridades em uma composição ou improvisação abre novas avenidas para a expressão de sentimentos e ideias.

Para compositores e arranjadores, o empréstimo modal oferece uma ferramenta poderosa para criar melodias e harmonias mais interessantes e originais. Ele permite fugir das progressões de acordes convencionais e adicionar um toque de surpresa e sofisticação à música. A compreensão dos modos também pode inspirar novas ideias melódicas e harmônicas, levando a composições mais ricas e complexas.

Para instrumentistas e improvisadores, o conhecimento dos modos e do empréstimo modal amplia o vocabulário musical e a capacidade de se expressar de forma mais eficaz. Ao entender as características de cada modo, um improvisador pode criar solos mais melódicos e expressivos, utilizando as notas e os intervalos que melhor se adequam à sonoridade do momento. No jazz, em particular, o conhecimento modal é essencial para uma improvisação bem-sucedida sobre diferentes tipos de acordes.

Além disso, a compreensão do empréstimo modal melhora a capacidade de análise musical. Ao reconhecer os empréstimos modais em uma peça musical, é possível obter uma compreensão mais profunda das intenções do compositor e das escolhas musicais que foram feitas. Isso enriquece a experiência de ouvir música e permite uma interpretação mais informada e expressiva.

Outro benefício importante é o desenvolvimento de um ouvido mais apurado e sensível. A prática de identificar e utilizar os diferentes modos musicais ajuda a refinar a percepção das nuances sonoras e a distinguir as sutilezas da linguagem musical. Isso pode levar a uma apreciação mais profunda da música em geral e a uma maior sensibilidade artística.

Em resumo, o entendimento e o uso do empréstimo modal proporcionam aos músicos uma gama mais ampla de ferramentas expressivas, estimulam a criatividade, aprofundam a compreensão teórica e melhoram a capacidade de análise e apreciação musical. É um conhecimento que enriquece a jornada musical em todos os seus aspectos, tornando a experiência de criar e interpretar música ainda mais gratificante e significativa.

Fontes e Referências Consultadas:

• Teoria Musical de A a Z (Livro)
• O Livro da Música (Livro)
• Berklee Online (Website)
• Open Music Theory (Website)
• Coursera (Plataforma de cursos online)
• Udemy (Plataforma de cursos online)
• Wikipedia (Website)
• YouTube (Plataforma de vídeos)
• Artigos e blogs especializados em teoria musical