Trisal e Poliamor: um guia completo

O que exatamente é o poliamor?

O poliamor representa uma forma de relacionamento consensual que envolve mais de duas pessoas, onde existe uma profunda conexão emocional e romântica. Diferente da infidelidade, que se baseia em segredos e quebras de confiança, o poliamor opera sob um pilar de abertura, honestidade e consentimento mútuo entre todos os envolvidos. Cada parceiro conhece e aprova a existência dos outros relacionamentos dentro da estrutura.

A essência do poliamor reside na crença de que o amor não é um recurso limitado que precisa ser dividido, mas sim uma capacidade expansiva que pode ser multiplicada e compartilhada com mais de uma pessoa. Essa filosofia desafia as noções tradicionais de amor exclusivo, propondo que é possível amar profundamente múltiplos indivíduos de maneira simultânea, sem diminuir a intensidade ou a qualidade do amor por cada um.

Pessoas que praticam o poliamor buscam construir conexões autênticas e significativas com seus parceiros, valorizando a individualidade e o crescimento pessoal de cada um. Os relacionamentos poliamorosos podem assumir diversas configurações, desde estruturas hierárquicas, onde há um relacionamento primário, até redes não hierárquicas, onde todos os parceiros têm o mesmo nível de importância. A flexibilidade e a adaptabilidade são cruciais.

Um dos pilares mais importantes para o funcionamento do poliamor é a comunicação clara e constante. As expectativas, limites, sentimentos e necessidades de todos os envolvidos devem ser expressos abertamente para evitar mal-entendidos e garantir que todos se sintam seguros e valorizados. Esse diálogo contínuo é o que sustenta a confiança e a coesão dentro da rede de relacionamentos.

O termo poliamor é derivado do grego “poli” (muitos) e do latim “amor” (amor), significando muitos amores. É um conceito que tem ganhado mais visibilidade e compreensão à medida que a sociedade se torna mais aberta a diversas formas de relacionamento e de expressão afetiva. Não se trata de uma moda passageira, mas sim de uma forma de vida que muitas pessoas encontram como a mais autêntica para expressar seu afeto.

A prática do poliamor desafia a hegemonia da monogamia como o único modelo de relacionamento válido, propondo uma alternativa para aqueles que sentem a capacidade de amar e se conectar com mais de uma pessoa. É um caminho que exige introspecção e autoconhecimento, assim como um compromisso com a ética e o respeito pelas outras pessoas. A escolha pelo poliamor reflete uma busca por plenitude nas relações.

Como o poliamor se diferencia da monogamia tradicional?

A principal diferença entre poliamor e monogamia tradicional reside na estrutura e no número de parceiros envolvidos. A monogamia, o modelo de relacionamento predominante na maioria das culturas ocidentais, postula uma conexão exclusiva e romântica entre duas pessoas, onde a intimidade sexual e emocional é reservada apenas para o casal. Esse modelo é frequentemente associado a um compromisso vitalício.

O poliamor, em contrapartida, é um modelo de relacionamento não monogâmico que permite e encoraja a formação de múltiplos relacionamentos românticos e/ou sexuais simultaneamente, com o pleno conhecimento e consentimento de todos os envolvidos. A premissa central é que o amor e a conexão não são limitados a um único indivíduo, desafiando a ideia de que a exclusividade é um pré-requisito para o amor verdadeiro.

A monogamia muitas vezes carrega a expectativa de que um único parceiro deve satisfazer todas as necessidades emocionais, sexuais e sociais de uma pessoa. Essa expectativa pode, em alguns casos, criar uma pressão considerável sobre o indivíduo e o relacionamento, levando a frustrações ou a uma sensação de inadequação se essa expectativa não é plenamente atendida. O poliamor oferece uma perspectiva diferente.

No poliamor, a responsabilidade de suprir todas as necessidades não recai sobre um único parceiro. A rede de relacionamentos poliamorosos pode fornecer uma diversidade de apoio emocional e social, onde diferentes parceiros podem preencher diferentes aspectos da vida de uma pessoa. Essa distribuição pode aliviar a pressão individual e fortalecer a resiliência emocional de todos os envolvidos.

A ênfase na comunicação aberta e honesta é uma característica distintiva do poliamor que contrasta com a monogamia. Enquanto a monogamia pode, por vezes, operar com suposições implícitas sobre lealdade e exclusividade, o poliamor exige que todos os acordos, limites e expectativas sejam explicitamente discutidos e renegociados conforme necessário. Essa comunicação ativa é uma ferramenta de prevenção de conflitos.

A dinâmica do ciúme também é abordada de maneiras diferentes. Na monogamia, o ciúme é frequentemente visto como uma ameaça fundamental ao relacionamento, indicando uma quebra de confiança ou um sinal de insegurança. No poliamor, o ciúme é reconhecido como uma emoção natural que pode surgir, mas é tratado como uma oportunidade para o crescimento pessoal e para uma comunicação mais profunda sobre medos e inseguranças.

Qual a distinção entre poliamor e trisal?

A distinção entre poliamor e trisal é fundamental para compreender a vasta gama de relacionamentos não monogâmicos consensuais. O trisal é uma formação específica dentro do espectro do poliamor, referindo-se a um relacionamento romântico e/ou sexual que envolve precisamente três pessoas. Essa tríade pode ser composta por qualquer combinação de gêneros e orientações, como três mulheres, três homens, ou uma mulher e dois homens, ou dois homens e uma mulher, dentre outras configurações.

O trisal, por sua natureza, é um tipo de relacionamento poliamoroso, mas nem todo relacionamento poliamoroso é um trisal. O poliamor é um termo guarda-chuva muito mais amplo, abrangendo qualquer relacionamento consensual que envolva múltiplos parceiros românticos e/ou sexuais. Isso significa que um relacionamento poliamoroso pode incluir três, quatro, cinco ou mais pessoas, e essas pessoas não precisam necessariamente formar um único grupo fechado, como no trisal.

Em um trisal, as três pessoas geralmente compartilham uma conexão direta e recíproca entre si, formando uma unidade relacional coesa. Muitas vezes, todos os três parceiros estão em um relacionamento romântico e sexual com os outros dois, criando uma dinâmica de “triângulo” onde cada vértice está conectado aos outros dois. Essa interconexão intensa é uma característica definidora do trisal, onde o grupo funciona como uma entidade.

O poliamor, por outro lado, pode se manifestar em diversas estruturas que vão além da tríade. Por exemplo, uma pessoa pode ter dois parceiros distintos que não estão romanticamente ou sexualmente envolvidos entre si (uma estrutura de “V”), ou uma pessoa pode ter múltiplos parceiros em uma rede mais fluida e interconectada, onde as relações se formam de maneira mais orgânica e não necessariamente formam grupos fechados. A flexibilidade estrutural é uma marca do poliamor.

Um trisal pode ser um relacionamento “fechado”, onde os três parceiros concordam em não buscar outras conexões românticas ou sexuais fora da tríade. Este é um tipo de poliamor hierárquico com limites bem definidos, onde a primazia e a exclusividade são mantidas dentro do grupo de três. Essa exclusividade para o grupo pode trazer uma sensação de segurança e estabilidade, similar à monogamia em sua forma mais íntima.

Por outro lado, muitos relacionamentos poliamorosos são “abertos”, permitindo que os indivíduos dentro da rede busquem novas conexões, desde que com transparência e consentimento. Mesmo um trisal pode ser aberto, significando que os três membros podem ter outros parceiros fora do grupo, com o conhecimento e apoio de todos. A escolha pela abertura ou fechamento depende dos acordos específicos feitos pelos envolvidos.

A comunicação continua sendo a chave para o sucesso em ambos os modelos. Em um trisal, a dinâmica é intensificada pela proximidade de três pessoas, exigindo negociações constantes sobre tempo, atenção e intimidade. No poliamor mais amplo, a comunicação é vital para gerenciar uma rede maior de relacionamentos, garantindo que as necessidades e limites de todos sejam respeitados e compreendidos. A compreensão mútua é essencial.

É o poliamor uma orientação sexual?

O poliamor não é classificado como uma orientação sexual. A orientação sexual refere-se à atração romântica, emocional e/ou sexual de uma pessoa por outras pessoas, baseada no gênero delas. Exemplos de orientações sexuais incluem heterossexualidade (atração por gênero oposto), homossexualidade (atração por mesmo gênero), bissexualidade (atração por dois ou mais gêneros), pansexualidade (atração por pessoas independentemente do gênero), e assexualidade (ausência de atração sexual).

O poliamor, por sua vez, é uma orientação relacional ou de relacionamento. Isso significa que ele descreve como uma pessoa estrutura seus relacionamentos e não por quem ela sente atração. Pessoas de qualquer orientação sexual podem ser poliamorosas. Por exemplo, uma mulher heterossexual pode ser poliamorosa e ter relacionamentos com dois homens; um homem homossexual pode ser poliamoroso e ter relacionamentos com dois homens.

A orientação relacional dita a preferência por um modelo de relacionamento específico – monogâmico, poliamoroso, anárquico relacional, entre outros. Ela fala sobre a capacidade ou desejo de se engajar em múltiplos relacionamentos românticos e/ou sexuais de forma consensual. Essa distinção é crucial para entender a complexidade das identidades e práticas relacionais das pessoas, evitando confusões conceituais.

Muitas vezes, a confusão surge porque tanto a orientação sexual quanto a orientação relacional desafiam as normas sociais estabelecidas. A monogamia é o modelo relacional padrão na sociedade, assim como a heterossexualidade foi historicamente o padrão para a orientação sexual. Dessa forma, qualquer desvio dessas normas pode ser erroneamente categorizado ou mal interpretado.

A discussão sobre poliamor e sua natureza levanta questões importantes sobre a rigidez das categorias sociais e a fluidez da experiência humana. Reconhecer o poliamor como uma orientação relacional valida a experiência daqueles que não se encaixam no paradigma monogâmico, sem equipará-lo a uma característica inata de atração sexual, que é o que define uma orientação sexual.

A capacidade de amar e se conectar com múltiplos parceiros é uma escolha consciente e um estilo de vida para muitos, embora para outros, possa ser uma inclinação tão profunda quanto uma orientação. A escolha de viver de forma poliamorosa reflete uma maneira de organizar o afeto e a intimidade que se alinha com os valores e as necessidades individuais de cada pessoa, representando uma liberdade de expressão pessoal.

Quais são os principais tipos e estruturas de relacionamentos poliamorosos?

Os relacionamentos poliamorosos são incrivelmente diversos, sem uma única forma de estruturação. Essa flexibilidade e adaptabilidade permitem que as pessoas criem configurações que melhor atendam às suas necessidades e às de seus parceiros. Compreender os diferentes tipos ajuda a visualizar a amplitude das possibilidades dentro do espectro poliamoroso.

Um dos tipos mais comuns é o poliamor hierárquico. Nesta estrutura, existe um ou mais relacionamentos considerados “primários” ou “centrais”, que frequentemente envolvem maior investimento de tempo, recursos e compromisso, similar a um casamento ou união estável. Os outros relacionamentos são considerados “secundários” ou “terciários”, com menor nível de compromisso formal ou menor tempo dedicado. Os acordos claros são essenciais aqui.

Em contraste, o poliamor não hierárquico, também conhecido como anarquia relacional ou poliamor igualitário, rejeita a ideia de classificar relacionamentos em níveis de importância. Todas as conexões são valorizadas por si mesmas, e o nível de compromisso e investimento é determinado individualmente por cada relacionamento, sem uma estrutura predefinida ditando a prioridade. A autonomia individual é altamente valorizada neste modelo.

Outra estrutura é o trisal (ou tríade), já mencionado, que é um relacionamento fechado entre três pessoas onde todos os três parceiros estão romanticamente e/ou sexualmente envolvidos entre si. Essa formação triangular pode ser uma unidade coesa e exclusiva. É um modelo de poliamor focado no grupo, onde a dinâmica entre os três é a principal.

O relacionamento em formato de “V” ocorre quando uma pessoa tem dois parceiros distintos que não estão romanticamente ou sexualmente envolvidos entre si, mas todos fazem parte da mesma rede. A pessoa no vértice do “V” é o elo comum entre os dois parceiros. Esse modelo exige uma forte comunicação do vértice para garantir que ambos os parceiros se sintam valorizados e informados sobre o relacionamento com o outro.

O poliamor “solo” descreve indivíduos que se identificam como poliamorosos, mas não buscam ter um relacionamento primário ou viver com um parceiro principal. Eles valorizam a independência e a autonomia, mantendo múltiplos relacionamentos significativos sem a expectativa de coabitação ou fusão de vidas. A liberdade pessoal é central para essa abordagem, onde o foco está nas conexões individuais.

Há também o poliamor em rede ou poliamor em constelação, que descreve uma vasta rede interconectada de relacionamentos, onde os parceiros de uma pessoa podem ter outros parceiros, e esses outros parceiros podem ter seus próprios parceiros, formando uma complexa teia de conexões. Essa estrutura pode ser fluida e mutável, com limites e dinâmicas negociadas constantemente.

A formação de um comunidade poliamorosa ou pod é um modelo onde múltiplas pessoas poliamorosas vivem juntas ou formam um grupo próximo de apoio mútuo, embora não necessariamente todos estejam romanticamente envolvidos uns com os outros. Pode ser uma forma de criar um ambiente seguro e de apoio para a prática do poliamor, promovendo a interdependência e a solidariedade entre os membros.

Como a comunicação se torna fundamental em relações poliamorosas?

A comunicação não é apenas importante, mas absolutamente fundamental para o sucesso e a saúde das relações poliamorosas. Diferente da monogamia, onde muitas expectativas podem ser implícitas devido a normas sociais, no poliamor, quase tudo precisa ser discutido, negociado e acordado explicitamente. A ausência de um modelo único e universal exige que os parceiros construam suas próprias regras e limites.

A transparência total é um pilar da comunicação poliamorosa. Isso significa ser honesto sobre sentimentos, medos, alegrias e, crucialmente, sobre a existência e a natureza de outros relacionamentos. Esconder informações ou ter “segredos” minaria a confiança, que é a base de qualquer relacionamento, especialmente aqueles que desafiam as convenções sociais. A honestidade radical é um valor central.

Negociar os limites e as expectativas é uma tarefa contínua. Questões como tempo dedicado a cada parceiro, nível de intimidade física e emocional, envolvimento em eventos familiares, e até mesmo como lidar com situações como ciúme, precisam ser conversadas abertamente. Esses acordos podem ser dinâmicos e necessitam de revisões regulares para garantir que continuem a atender às necessidades de todos. O consentimento informado e contínuo é vital.

A prática de “check-ins” regulares é uma estratégia comum. Momentos dedicados para que todos os parceiros possam expressar como se sentem sobre a dinâmica do relacionamento, o que funciona, o que precisa de ajuste e quaisquer preocupações que possam ter. Esses check-ins promovem um ambiente de segurança psicológica e permitem que os problemas sejam abordados antes que se tornem maiores.

A escuta ativa é uma habilidade crucial. Não basta apenas falar; é preciso ouvir verdadeiramente o que o outro está dizendo, suas preocupações, seus desejos e suas necessidades. Isso envolve não interromper, fazer perguntas para esclarecer e validar os sentimentos do parceiro, mesmo que não se concorde com eles. A empatia e a compreensão são reforçadas através da escuta atenta.

Resolver conflitos no poliamor exige a mesma comunicação excepcional. Com mais pessoas envolvidas, a probabilidade de mal-entendidos ou conflitos pode aumentar. Abordar esses problemas de forma construtiva, sem culpar e focando em soluções, é vital. Ferramentas como a comunicação não violenta (CNV) podem ser extremamente úteis para expressar necessidades e sentimentos de forma eficaz.

A comunicação também se estende à gestão do ciúme, uma emoção inevitável para a maioria das pessoas. Ao invés de ignorar ou reprimir o ciúme, os parceiros poliamorosos são encorajados a comunicá-lo abertamente. Isso permite que a emoção seja desempacotada e que as necessidades subjacentes sejam identificadas e, se possível, atendidas através de negociação e reasseguramento.

Quais desafios comuns surgem em relacionamentos poliamorosos?

Relacionamentos poliamorosos, apesar de suas muitas recompensas, enfrentam um conjunto único de desafios que exigem resiliência e dedicação para serem superados. Um dos obstáculos mais significativos é a gestão do tempo e da energia. Com múltiplos parceiros, alocar tempo de qualidade e atenção individual para cada um pode ser uma tarefa complexa e exaustiva, exigindo planejamento e priorização cuidadosos.

A navegação do ciúme é um desafio quase universal. Mesmo em relacionamentos monogâmicos, o ciúme é uma emoção comum, mas no poliamor, ele pode ser intensificado pela presença de outros parceiros. Lidar com o ciúme não significa eliminá-lo, mas sim reconhecê-lo, comunicá-lo de forma construtiva e trabalhar as inseguranças subjacentes que o provocam. Essa é uma jornada de autoconhecimento.

A pressão social e o estigma são desafios externos consideráveis. A sociedade ainda é predominantemente monogâmica, e o poliamor é frequentemente incompreendido, julgado ou ridicularizado. Isso pode levar a preconceitos no ambiente de trabalho, por parte da família e amigos, e até mesmo a dificuldades legais. Manter a força e a resiliência emocional é crucial diante do julgamento.

A comunicação constante e complexa, embora seja uma ferramenta vital, também pode ser um desafio em si. Manter todos os parceiros informados e envolvidos, negociar limites e expectativas em evolução, e resolver conflitos de forma eficaz requer um alto nível de habilidade comunicativa, paciência e inteligência emocional. A fadiga da comunicação é um risco real.

Questões de hierarquia e equidade podem surgir, especialmente em relacionamentos poliamorosos hierárquicos. Parceiros secundários podem se sentir desvalorizados ou menos importantes se a atenção e os recursos forem desproporcionalmente alocados ao parceiro primário. Encontrar um equilíbrio e garantir que todos se sintam amados e respeitados é uma negociação delicada e contínua.

A gestão das expectativas também é um grande desafio. Cada pessoa traz suas próprias ideias sobre como um relacionamento deve funcionar, e em um contexto poliamoroso, essas expectativas podem colidir. Alinhar as expectativas em relação ao compromisso, futuro, coabitação ou parentalidade requer conversas honestas e às vezes difíceis.

A falta de um modelo cultural predefinido para o poliamor significa que os casais e as redes precisam inventar suas próprias regras e navegar por territórios desconhecidos. Isso, embora ofereça liberdade, também pode ser avassalador e exigir uma grande dose de criatividade e adaptabilidade. A ausência de roteiro torna a jornada única, mas também desafiadora.

Como lidar com o ciúme no contexto do poliamor?

Lidar com o ciúme no contexto do poliamor é uma arte que exige autocompaixão, comunicação aberta e trabalho intencional. Ao contrário da monogamia, onde o ciúme muitas vezes é visto como um sinal de posse ou uma ameaça, no poliamor, ele é geralmente encarado como uma emoção natural que pode surgir, uma oportunidade para crescimento pessoal e aprofundamento da conexão.

O primeiro passo é reconhecer e validar o ciúme. Sentir ciúme não torna a pessoa “ruim” ou “incapaz” de ser poliamorosa. É uma emoção humana complexa, muitas vezes enraizada em medos de abandono, insegurança ou comparações. Aceitar que o ciúme existe é o ponto de partida para poder desempacotá-lo e trabalhar através dele. A aceitação da emoção é fundamental.

A comunicação transparente é a ferramenta mais poderosa para gerenciar o ciúme. O parceiro que sente ciúme deve expressar seus sentimentos de forma calma e construtiva, focando em suas próprias emoções e necessidades, e não em acusações. Da mesma forma, os parceiros devem ouvir com empatia, sem julgar ou minimizar os sentimentos do outro. Essa abertura de diálogo é crucial.

É importante tentar identificar a causa raiz do ciúme. É medo de ser substituído? Insegurança sobre o próprio valor? Uma necessidade não atendida de tempo ou atenção? Muitas vezes, o ciúme é um sintoma de algo mais profundo. Explorar essas raízes permite que a pessoa e seus parceiros abordem a verdadeira questão, em vez de apenas a manifestação superficial da emoção. A introspecção profunda é encorajada.

Uma estratégia comum é a prática da compersão, que é a alegria vicária que se sente ao ver o parceiro feliz no seu outro relacionamento. Embora possa parecer contra-intuitivo, cultivar a compersão ajuda a reorientar a perspectiva do ciúme para uma celebração do amor e da felicidade do parceiro. Isso não significa que o ciúme desaparecerá, mas oferece uma perspectiva construtiva.

Acordos e limites claros também podem ajudar a mitigar o ciúme. Por exemplo, definir “regras” sobre como e quando os parceiros se encontrarão, ou ter certos momentos que são exclusivos para um determinado relacionamento, pode proporcionar uma sensação de segurança. Esses acordos devem ser negociados por todos e podem ser ajustados conforme as necessidades evoluem. A segurança nos acordos é reconfortante.

Buscar apoio, seja de amigos poliamorosos, comunidades online, ou até mesmo terapia com profissionais que compreendem as dinâmicas não monogâmicas, pode ser muito útil. Compartilhar experiências e estratégias com outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes pode oferecer novas perspectivas e reforçar a sensação de que não se está sozinho nessa jornada. A rede de apoio é vital.

Quais são os benefícios de explorar o poliamor?

Explorar o poliamor oferece uma série de benefícios profundos e transformadores para aqueles que escolhem esse caminho. Um dos mais significativos é a oportunidade de uma expansão do amor e da conexão. Ao invés de limitar o afeto a uma única pessoa, o poliamor permite que o amor seja multiplicado, proporcionando uma riqueza de experiências e perspectivas emocionais que podem ser intensamente gratificantes.

Aumenta a autonomia e o autoconhecimento. Para navegar em múltiplos relacionamentos, os indivíduos são incentivados a entender profundamente suas próprias necessidades, desejos, limites e gatilhos. Essa introspecção leva a um maior senso de si e a uma capacidade aprimorada de expressar autenticamente quem se é, promovendo um crescimento pessoal contínuo.

O poliamor frequentemente leva a uma comunicação excepcional. Como a clareza e a honestidade são pilares, os praticantes desenvolvem habilidades de comunicação avançadas, incluindo escuta ativa, expressão de necessidades e negociação de limites. Essas habilidades são valiosas não apenas nos relacionamentos, mas em todas as áreas da vida. A clareza comunicativa é uma ferramenta poderosa.

Oferece uma rede de apoio ampliada. Com múltiplos parceiros e, muitas vezes, uma comunidade de metacomores (parceiros dos parceiros), as pessoas poliamorosas podem contar com um sistema de suporte emocional e prático mais diversificado e robusto. Diferentes parceiros podem atender a diferentes necessidades, aliviando a pressão sobre um único indivíduo para ser “tudo” para alguém.

Pode promover uma maior liberdade e flexibilidade nos relacionamentos. Sem as restrições da monogamia, os indivíduos podem explorar diferentes tipos de conexões, ritmos e estruturas que se alinham melhor com suas personalidades e estilos de vida. Essa adaptabilidade permite que os relacionamentos evoluam de maneira mais orgânica e autêntica, gerando criatividade relacional.

A prática da compersão, a alegria que se sente ao ver o parceiro feliz em seus outros relacionamentos, é um benefício emocional único do poliamor. Cultivar a compersão pode transformar o ciúme em uma emoção positiva e altruísta, promovendo uma visão de mundo onde o amor não é escasso, mas sim abundante e celebrável. A capacidade de compartilhar a felicidade é enriquecedora.

A quebra de paradigmas sociais sobre o amor e os relacionamentos pode ser libertadora. Viver fora das normas monogâmicas pode ser uma afirmação poderosa de identidade e uma forma de encontrar uma comunidade de pessoas com valores semelhantes, diminuindo a sensação de isolamento e promovendo a aceitação da diversidade relacional. A autenticidade radical é um caminho recompensador.

Como se pode começar a explorar o poliamor de forma ética?

Explorar o poliamor de forma ética exige introspecção, comunicação e um compromisso inabalável com o consentimento. É um processo que deve ser abordado com seriedade e respeito por todos os envolvidos, garantindo que ninguém seja pego de surpresa ou se sinta desvalorizado. A ética no poliamor é um pilar essencial para a sustentabilidade.

O primeiro passo é a auto-reflexão profunda. Pergunte a si mesmo por que você está interessado no poliamor. Quais são suas motivações? Quais são seus medos e inseguranças? Compreender suas próprias necessidades e limites é crucial antes de envolver outras pessoas. Uma análise honesta dos próprios desejos é o ponto de partida.

Se você já está em um relacionamento monogâmico e deseja explorar o poliamor, a comunicação aberta e honesta com seu parceiro atual é não negociável. Não se trata de uma decisão unilateral; ambos devem estar dispostos a discutir, aprender e, eventualmente, consentir com a mudança na dinâmica do relacionamento. Apresente a ideia com sensibilidade e esteja preparado para todas as reações. A conversa inicial é crucial.

Estabeleçam acordos claros e limites bem definidos desde o início. Isso inclui discutir o que é aceitável e o que não é, em termos de intimidade física e emocional, tempo, comunicação e até mesmo questões de segurança. Esses acordos não são estáticos e devem ser revisados e renegociados regularmente, à medida que o relacionamento e as pessoas evoluem. O consentimento contínuo é a base.

Priorize a segurança e o bem-estar emocional de todos os envolvidos. Isso significa ser consciente do impacto de suas ações nos outros, praticar a empatia e estar disponível para conversas difíceis quando surgirem sentimentos de ciúme, insegurança ou confusão. A responsabilidade emocional é uma pedra angular.

Eduque-se sobre o poliamor. Leia livros, artigos, participe de grupos de discussão online ou presenciais, e ouça as experiências de outras pessoas poliamorosas. Entender as diferentes estruturas, desafios e benefícios pode fornecer ferramentas valiosas e ajudar a desmistificar a prática. A aprendizagem contínua é empoderadora.

Comece devagar e com passos pequenos. Não há necessidade de apressar-se para ter múltiplos parceiros imediatamente. Alguns casais optam por começar com um “relacionamento aberto” focado em sexo casual consensual, antes de explorar conexões emocionais mais profundas. Outros preferem um ritmo mais lento e gradual, construindo uma base sólida de confiança e compreensão.

Mantenha a honestidade com novos parceiros desde o início. Certifique-se de que qualquer pessoa com quem você se envolva esteja totalmente ciente de que você é poliamoroso e que entenda as dinâmicas do seu relacionamento existente. Evitar surpresas desagradáveis garante que todas as partes envolvidas estejam entrando no relacionamento com um consentimento pleno e informado.

O que é “compersão” e qual sua importância?

A compersão é um conceito profundamente valorizado na comunidade poliamorosa, representando uma emoção complexa e muitas vezes desafiadora de cultivar: a alegria empática ou vicária que se sente quando um parceiro experimenta alegria e satisfação em seus outros relacionamentos. É o oposto do ciúme, embora as duas emoções possam coexistir. A capacidade de celebrar a felicidade alheia é o cerne da compersão.

A importância da compersão reside na sua capacidade de transformar a dinâmica dos relacionamentos poliamorosos. Ao invés de ver a felicidade do parceiro com outra pessoa como uma ameaça ou uma perda, a compersão permite que essa felicidade seja vista como um ganho, uma extensão do amor e da abundância. Ela promove uma mentalidade de abundância em oposição a uma mentalidade de escassez de amor.

A compersão ajuda a desconstruir a ideia de posse e exclusividade que é tão intrínseca à monogamia. Ela ensina que o amor não é um recurso limitado que precisa ser dividido ou guardado, mas sim uma capacidade expansiva que pode ser compartilhada e até mesmo crescer ao ser compartilhada. Isso libera os parceiros da pressão de serem “tudo” um para o outro.

Cultivar a compersão pode ser um antídoto poderoso para o ciúme. Embora não elimine o ciúme por completo, a compersão oferece uma estrutura para reinterpretar e responder a essa emoção. Em vez de permitir que o ciúme domine, a prática da compersão permite que a alegria e o apoio ao parceiro prevaleçam, promovendo uma atitude mais positiva diante das relações.

A compersão também fortalece a confiança e a segurança nos relacionamentos. Quando um parceiro sabe que o outro se alegra com a sua felicidade, mesmo que essa felicidade venha de fora da relação direta, isso constrói uma base de segurança e aceitação. Essa aceitação incondicional é vital para a liberdade e a autenticidade de cada indivíduo dentro da rede.

A prática da compersão exige autodesenvolvimento e vulnerabilidade. Ela convida as pessoas a confrontarem suas próprias inseguranças e medos, e a trabalhar nelas, em vez de projetá-las nos parceiros. É um processo de crescimento pessoal que leva a uma maior maturidade emocional e a uma capacidade mais profunda de amar.

Embora a compersão seja um ideal, é importante reconhecer que é uma emoção que se desenvolve com o tempo e a prática, e nem todos a sentem da mesma forma ou na mesma intensidade. O esforço consciente para cultivar essa emoção, mesmo que não seja totalmente alcançada, já representa um passo significativo em direção a relacionamentos mais abertos, éticos e gratificantes.

O poliamor é legalmente reconhecido em algum lugar?

O reconhecimento legal do poliamor é uma área em evolução e complexidade, com pouquíssima formalização em nível global. Na grande maioria dos países e jurisdições, as leis de casamento e união civil são estruturadas sob a premissa da monogamia, reconhecendo apenas duas pessoas em uma união legal. Isso cria desafios significativos para famílias poliamorosas em aspectos como herança, direitos parentais, seguro saúde e decisões médicas.

Existem raras exceções e avanços pontuais em alguns lugares. Em certas municipalidades nos Estados Unidos, por exemplo, houve casos de reconhecimento de uniões civis ou parcerias domésticas plurais. Somerville, Massachusetts, em 2020, foi uma das primeiras cidades a expandir o conceito de parceria doméstica para incluir três ou mais adultos, concedendo a eles alguns dos mesmos direitos e proteções que casais monogâmicos.

Outros exemplos incluem decisões judiciais que reconheceram a possibilidade de trios ou grupos de três pessoas serem pais legais de uma criança, geralmente através de adoção ou decisões específicas de custódia, mesmo que não seja um reconhecimento do relacionamento poliamoroso em si. Essas decisões são geralmente casos isolados e dependem muito da interpretação jurídica local e das circunstâncias específicas. A jurisprudência é fragmentada.

Um dos maiores obstáculos é a natureza complexa do direito de família, que tradicionalmente se baseia em dinâmicas de dois pais e dois parceiros. Alterar essas estruturas exige uma revisão profunda das leis existentes e uma adaptação a cenários multirrelacionais, que não são facilmente enquadrados nos moldes jurídicos atuais. A legislação é lenta para se adaptar a novas realidades sociais.

Além disso, a falta de reconhecimento legal pode levar a discriminação e vulnerabilidade para indivíduos em relacionamentos poliamorosos. Eles podem enfrentar dificuldades em questões como a obtenção de benefícios para parceiros não reconhecidos, visitas hospitalares ou a tomada de decisões médicas de emergência para um parceiro “não oficial”. A proteção legal é inexistente em muitos contextos.

Organizações como a Polyamory Legal Advocacy Coalition (PLAC) nos Estados Unidos estão trabalhando para promover a conscientização e advogar por mudanças legais que reconheçam as famílias poliamorosas. Seu objetivo é garantir que pessoas em relacionamentos múltiplos tenham os mesmos direitos e proteções básicas que as famílias monogâmicas. A luta por direitos é contínua.

A situação legal do poliamor no Brasil e em outros países da América Latina é ainda mais incipiente. Embora haja debates e alguns ativistas busquem o reconhecimento, a legislação atual não oferece amparo para uniões poliamorosas. A monogamia continua sendo a base do direito de família, e qualquer mudança dependeria de avanços significativos na legislação e na aceitação social.

Como o poliamor impacta a parentalidade e a família?

O poliamor, embora desafie as normas sociais de relacionamento, não impede a formação de famílias ou a parentalidade; na verdade, pode oferecer uma abordagem expansiva e enriquecedora para a criação de filhos. Em famílias poliamorosas, as crianças podem ter acesso a múltiplos cuidadores, mais fontes de amor e apoio, e uma diversidade de perspectivas e modelos de vida. A rede de apoio estendida é um benefício substancial.

A presença de múltiplos adultos na vida de uma criança pode significar mais mãos para ajudar, mais ouvidos para escutar e mais corações para amar. Isso pode aliviar a pressão sobre os pais biológicos ou legais, distribuindo as responsabilidades e permitindo que cada adulto contribua com suas habilidades e paixões únicas para o desenvolvimento da criança. A divisão de tarefas pode ser mais equitativa.

Um dos maiores desafios é a navegação do estigma social. Crianças de famílias poliamorosas podem enfrentar curiosidade, incompreensão ou até mesmo preconceito de colegas, professores ou outros adultos. É fundamental que os pais poliamorosos criem um ambiente de apoio e resiliência em casa, ensinando seus filhos a lidar com a diversidade e a ter orgulho de sua família. A preparação para o mundo exterior é essencial.

A comunicação aberta é ainda mais crucial na parentalidade poliamorosa. Os adultos precisam ter conversas honestas e frequentes sobre os papéis parentais, disciplina, valores, educação e a gestão do tempo e recursos para as crianças. É importante apresentar uma frente unida aos filhos, mesmo que a dinâmica interna seja complexa. A coerência na educação é vital.

As crianças criadas em famílias poliamorosas tendem a crescer com uma visão mais aberta e flexível sobre o amor, os relacionamentos e a diversidade. Elas podem aprender sobre comunicação não violenta, negociação de limites e respeito às diferenças desde cedo, habilidades que são valiosas em todas as esferas da vida. A exposição à diversidade é formativa.

A questão do reconhecimento legal é uma grande preocupação. Na maioria dos lugares, apenas dois adultos podem ser legalmente reconhecidos como pais de uma criança, o que pode deixar outros pais “sociais” sem direitos legais em situações de emergência médica, escola ou herança. Famílias poliamorosas precisam buscar aconselhamento jurídico para proteger seus filhos e garantir a segurança de todos os cuidadores. A proteção jurídica é um desafio.

Apesar dos desafios, muitas famílias poliamorosas relatam uma profunda satisfação e alegria em criar seus filhos dentro de uma estrutura que reflete seus valores de amor expandido e comunidade. O foco está sempre no bem-estar da criança, garantindo um ambiente seguro, amoroso e estável para seu desenvolvimento pleno. O bem-estar infantil é a prioridade máxima.

Quais são os mitos e equívocos frequentes sobre o poliamor?

O poliamor é cercado por muitos mitos e equívocos, em grande parte devido à sua natureza não convencional e à falta de representação positiva na mídia e na cultura popular. Desmistificar essas ideias errôneas é crucial para promover uma compreensão mais precisa e justa dessa forma de relacionamento.

Um dos equívocos mais comuns é que o poliamor é apenas uma desculpa para a infidelidade ou traição. Isso é categoricamente falso. O poliamor é definido pelo consentimento, transparência e ética. A infidelidade, por outro lado, envolve segredo e quebra de acordos de exclusividade. No poliamor, todos os parceiros estão cientes e consentem com os múltiplos relacionamentos.

Muitas pessoas acreditam que o poliamor é puramente sobre sexo, sendo um caminho para a promiscuidade descontrolada. Embora a intimidade sexual seja uma parte de muitos relacionamentos poliamorosos, o foco principal é na construção de conexões emocionais profundas e significativas. Para muitos, a satisfação emocional e romântica é tão ou mais importante que a física.

Outro mito é que o poliamor é para pessoas que não conseguem se comprometer ou têm medo da intimidade profunda. Na realidade, o poliamor exige um nível extraordinário de comunicação, vulnerabilidade e compromisso emocional para funcionar. Gerenciar múltiplos relacionamentos com integridade requer uma capacidade de compromisso ainda maior do que em relacionamentos monogâmicos.

Existe a ideia de que o poliamor é intrinsecamente instável e fadado ao fracasso. Embora todos os relacionamentos enfrentem desafios, pesquisas e relatos de experiências mostram que relacionamentos poliamorosos, quando baseados em boa comunicação e acordos claros, podem ser tão estáveis e duradouros quanto os monogâmicos. A longevidade não é exclusiva da monogamia.

Alguns pensam que o ciúme é impossível de ser superado no poliamor, ou que as pessoas poliamorosas são “imunes” a ele. O ciúme é uma emoção humana, e pessoas poliamorosas também o sentem. A diferença é que elas aprendem a processá-lo e comunicá-lo de forma construtiva, usando-o como uma oportunidade para autoconhecimento e para fortalecer o relacionamento, em vez de deixar que ele destrua a conexão.

A noção de que o poliamor é um modismo ou uma fase passageira, especialmente entre jovens, também é um equívoco. Para muitos, é uma orientação relacional profunda e duradoura, uma forma autêntica de viver o amor e a conexão que persiste ao longo da vida, independentemente da idade.

Finalmente, há o mito de que o poliamor sempre envolve um “casal primário” que busca um “terceiro” para “apimentar” a relação, sem se importar com os sentimentos dessa terceira pessoa. Embora essa dinâmica (conhecida como “unicórnio caça”) possa ocorrer, ela não representa a totalidade do poliamor. Muitos relacionamentos poliamorosos são não-hierárquicos e valorizam igualmente todos os parceiros, promovendo a ética e o consentimento de todos.

Como a sociedade enxerga e reage ao poliamor?

A sociedade majoritariamente monogâmica tem uma reação complexa e variada ao poliamor, que vai desde a curiosidade e aceitação limitada até a incompreensão profunda e o estigma. A percepção pública é frequentemente moldada por estereótipos e uma falta de informação precisa, o que leva a preconceitos e julgamentos.

A visão mais comum é a de que o poliamor é “estranho” ou “anormal”, uma desviância das normas sociais estabelecidas de casamento e família. Essa reação é frequentemente enraizada em uma concepção cultural de que o amor verdadeiro é e deve ser exclusivo a duas pessoas, e qualquer desvio disso é visto como uma ameaça aos valores tradicionais.

O poliamor frequentemente é associado a um comportamento irresponsável ou hedonista, focado apenas no prazer sexual e na falta de compromisso. Essa simplificação ignora a profundidade emocional, a complexidade e o rigor ético que são exigidos para manter relacionamentos poliamorosos de forma saudável e sustentável. A superficialidade da percepção é um problema.

Há também o desafio do estigma social, que pode afetar a vida de pessoas poliamorosas em diversas esferas. Eles podem enfrentar discriminação no trabalho, na escola dos filhos, entre familiares e amigos que não compreendem ou não aceitam sua forma de vida. Esse preconceito pode levar ao isolamento ou à necessidade de manter a vida poliamorosa em segredo.

No entanto, a sociedade está começando a mostrar sinais de maior abertura. A crescente visibilidade do poliamor na mídia (embora nem sempre precisa), em livros e documentários, está gerando mais discussões e, em alguns círculos, uma curiosidade mais informada. As novas gerações, em particular, parecem mais abertas a explorar diferentes modelos de relacionamento.

Movimentos por direitos LGBTQIA+ também contribuíram para um diálogo mais amplo sobre a diversidade de relacionamentos. A luta por aceitação de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero abriu portas para a discussão sobre diferentes orientações relacionais, embora o poliamor ainda esteja passos atrás em termos de reconhecimento e aceitação social plena.

Em ambientes mais progressistas ou urbanos, é mais provável encontrar comunidades de apoio e maior aceitação do poliamor. Nessas bolhas, as pessoas poliamorosas podem encontrar um refúgio do julgamento e construir redes de apoio. A formação de comunidades é vital para a resiliência.

A reação da sociedade ao poliamor reflete um processo contínuo de adaptação a novas formas de amor e conexão. É uma jornada que exige paciência e educação, desafiando concepções arraigadas sobre o que constitui um relacionamento válido e amoroso. A evolução da aceitação é um processo gradual.

Há considerações de segurança e consentimento no poliamor?

Sim, as considerações de segurança e consentimento são absolutamente cruciais e centrais para a prática ética do poliamor. Na verdade, esses princípios são a espinha dorsal de qualquer relacionamento não monogâmico consensual, diferenciando-o drasticamente de práticas não éticas como a traição ou a exploração. A integridade ética depende disso.

O consentimento no poliamor é contínuo e informado. Não é um “sim” inicial que se aplica a todas as situações para sempre. Os parceiros devem consentir ativamente e repetidamente com as mudanças na dinâmica do relacionamento, a introdução de novos parceiros, e os limites de cada interação. Isso significa que as discussões sobre o consentimento são constantes e evolutivas, garantindo que todos se sintam seguros e respeitados.

A segurança emocional é uma prioridade. Isso envolve criar um ambiente onde todos os parceiros se sintam à vontade para expressar seus sentimentos, medos e limites sem o medo de serem julgados, diminuídos ou punidos. A validade das emoções é fundamental. Um relacionamento poliamoroso ético nutre a segurança de que as vulnerabilidades serão tratadas com cuidado e respeito.

A segurança física e de saúde também é de extrema importância. Em relacionamentos que envolvem intimidade sexual com múltiplos parceiros, a discussão sobre saúde sexual, testes regulares para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), e o uso de métodos de barreira (como camisinhas) é essencial. A responsabilidade compartilhada pela saúde é um acordo básico.

A transparência sobre as ISTs é uma parte vital do consentimento informado. Todos os parceiros devem ser abertos sobre seu histórico de saúde sexual e quaisquer riscos potenciais, permitindo que cada indivíduo tome decisões informadas sobre sua própria saúde e segurança. A honestidade sobre saúde protege a todos.

Estabelecer limites claros e respeitá-los é uma faceta da segurança. Isso pode incluir limites sobre o tipo de intimidade, o tempo gasto com cada parceiro, o nível de envolvimento de outros parceiros nas vidas dos indivíduos, e o compartilhamento de informações pessoais. A violação desses limites, sem renegociação e consentimento, é uma ruptura da confiança.

A safe word ou uma forma de sinalização de desconforto pode ser útil, especialmente em interações íntimas ou complexas, para que qualquer pessoa possa comunicar rapidamente se precisa de uma pausa ou de que a atividade pare. Essa ferramenta empodera os indivíduos a expressar suas necessidades em tempo real, reforçando a agência pessoal.

A ética da saída também é uma consideração de segurança. Significa que, se um parceiro decide que o poliamor não é mais para ele ou se um relacionamento específico precisa terminar, há um processo acordado para fazê-lo de forma respeitosa e com o mínimo de dano emocional possível. O cuidado no término de relações é tão importante quanto no seu início.

Como o poliamor se relaciona com a ética e a moralidade?

O poliamor, longe de ser desprovido de princípios, está intrinsecamente ligado a um conjunto de valores éticos e morais que são fundamentais para sua prática saudável e sustentável. A ética no poliamor é um sistema de conduta que prioriza o respeito, a honestidade, o consentimento e a responsabilidade para com todos os envolvidos, desafiando a ideia de que a monogamia é o único modelo moralmente aceitável.

O princípio da transparência e honestidade radical é uma pedra angular. Mentir, omitir informações ou enganar parceiros é considerado antiético no poliamor, assim como seria em qualquer relacionamento. A ética poliamorosa exige que todos os envolvidos estejam cientes e consintam com a existência de outros relacionamentos e suas dinâmicas.

A responsabilidade afetiva e emocional é um pilar moral essencial. Isso significa assumir a responsabilidade pelos próprios sentimentos e ações, e considerar o impacto de suas escolhas nos sentimentos e bem-estar dos outros parceiros. Não se trata de evitar o desconforto, mas de abordá-lo de forma madura e construtiva, oferecendo apoio e validação.

O consentimento informado e contínuo é o coração da ética poliamorosa. Ninguém é forçado ou coagido a participar de uma estrutura relacional que não deseja. O consentimento deve ser dado livremente, com base em informações completas e compreensíveis, e pode ser revogado a qualquer momento. Isso garante a autonomia e a dignidade de cada indivíduo.

A igualdade e o respeito mútuo entre todos os parceiros, independentemente de sua posição em uma estrutura hierárquica (se houver), são valores morais cruciais. Evitar a criação de dinâmicas onde um parceiro é desvalorizado ou negligenciado é um objetivo ético importante. Cada pessoa merece ser tratada com dignidade e consideração.

A prática da compersão, já discutida, embora seja uma emoção, também tem uma dimensão ética. Ao cultivar a alegria pela felicidade do parceiro em outros relacionamentos, as pessoas poliamorosas buscam uma forma de amar que transcende o ciúme possessivo, promovendo uma visão mais altruísta e abundante do amor.

O poliamor desafia a moralidade tradicional que equipara a monogamia à virtude e a não-monogamia à imoralidade. Ele propõe que a ética de um relacionamento não está no número de pessoas envolvidas, mas na qualidade das interações, na forma como os parceiros se tratam e no grau de honestidade, respeito e consentimento presente.

A moralidade no poliamor é uma construção ativa e negociada, não um conjunto de regras preexistentes. As pessoas envolvidas são encorajadas a definir seus próprios códigos de conduta, baseados em seus valores pessoais e no compromisso de tratar uns aos outros com bondade e integridade. Essa autodeterminação ética é um aspecto libertador e responsável.

Quais recursos existem para aprender mais sobre o poliamor?

Para quem busca aprofundar seu entendimento sobre o poliamor, há uma variedade crescente de recursos disponíveis que oferecem perspectivas diversas e informações valiosas. A busca por conhecimento é um passo fundamental para qualquer pessoa interessada em explorar ou compreender relacionamentos não monogâmicos consensuais.

Livros são uma das fontes mais ricas de informação. Títulos como The Ethical Slut: A Practical Guide to Polyamory, Open Relationships, & Other Freedoms in Sex & Love, de Janet W. Hardy e Dossie Easton, são considerados clássicos, oferecendo uma base prática e filosófica. Outra obra influente é More Than Two: A Practical Guide to Ethical Polyamory, de Franklin Veaux e Eve Rickert, que se aprofunda nas complexidades da comunicação e dos acordos.

Comunidades online e fóruns de discussão oferecem um espaço para intercâmbio de experiências e apoio mútuo. Plataformas como Reddit (especialmente subreddits como r/polyamory), grupos no Facebook e outros fóruns especializados permitem que as pessoas façam perguntas, compartilhem histórias e aprendam com a vivência de outros. Esses espaços podem ser incrivelmente acolhedores e informativos.

Podcasts dedicados ao poliamor e relacionamentos não monogâmicos estão se tornando cada vez mais populares. Eles oferecem entrevistas com especialistas, histórias pessoais e discussões sobre diversos tópicos, desde a gestão do ciúme até a parentalidade poliamorosa. Essa mídia proporciona uma abordagem auditiva e dinâmica ao aprendizado.

Blogs e websites especializados são outra excelente fonte de informação. Muitos indivíduos e casais poliamorosos mantêm blogs onde compartilham suas jornadas, conselhos práticos e reflexões sobre os desafios e as alegrias do poliamor. Websites de organizações de advocacia e educação também oferecem artigos e guias. A informação digital é abundante.

Documentários e séries de TV, embora nem sempre apresentem uma imagem totalmente precisa ou abrangente, podem servir como um ponto de partida para a discussão. Eles ajudam a trazer o tema para o mainstream e a gerar curiosidade, embora seja importante complementar essa exposição com recursos mais aprofundados e acadêmicos para uma compreensão mais completa.

Eventos e conferências sobre poliamor, quando disponíveis, oferecem uma oportunidade de aprendizado mais imersiva e de networking com a comunidade. Workshops e palestras podem abordar temas específicos e proporcionar um ambiente seguro para o debate e a troca de experiências. O envolvimento presencial é enriquecedor.

Finalmente, a terapia com profissionais que possuem conhecimento e experiência em relacionamentos não monogâmicos pode ser um recurso valioso. Terapeutas especializados podem oferecer apoio individual ou para casais, ajudando a navegar pelos desafios e a desenvolver as habilidades de comunicação e gestão emocional necessárias para o sucesso do poliamor. O apoio profissional é uma opção importante.

A seguir, uma tabela comparativa dos desafios e benefícios do poliamor:

Os diferentes tipos de relacionamentos poliamorosos e suas características:

Aqui estão algumas diretrizes para iniciar eticamente no poliamor:

• Realize uma auto-reflexão profunda sobre suas motivações e necessidades.
• Comunique-se aberta e honestamente com seu parceiro(s) atual(is).
• Estabeleça acordos e limites claros com todos os envolvidos.
• Priorize a segurança emocional e física de todos.
• Eduque-se continuamente sobre as dinâmicas e éticas do poliamor.
• Comece devagar e gradualmente, sem pressa para escalar.
• Seja transparente sobre sua situação com novos parceiros.
• Esteja preparado para conversas difíceis e negociações constantes.

A importância da comunicação em relações poliamorosas é multifacetada:

• Facilita a transparência e a honestidade, pilares essenciais.
• Permite a negociação de limites e expectativas em constante evolução.
• Ajuda na gestão do ciúme, transformando-o em oportunidade de crescimento.
• Promove a segurança emocional, garantindo que todos se sintam ouvidos.
• É fundamental para a resolução construtiva de conflitos.
• Garante o consentimento contínuo e informado de todos os parceiros.

Bibliografia

• Hardy, Janet W.; Easton, Dossie. The Ethical Slut: A Practical Guide to Polyamory, Open Relationships, & Other Freedoms in Sex & Love. Celestial Arts, 2017.
• Veaux, Franklin; Rickert, Eve. More Than Two: A Practical Guide to Ethical Polyamory. Thorntree Press, 2014.
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