BRICS: o que é, atuações e impacto

O que é o BRICS e como ele surgiu?

O BRICS representa um agrupamento de nações que, inicialmente, foram identificadas por sua crescente influência econômica global. O acrônimo foi cunhado em 2001 pelo economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, em seu estudo “Building Better Global Economic BRICs”. Naquela época, a ideia central era agrupar as economias emergentes mais promissoras, capazes de remodelar a paisagem econômica mundial nas décadas seguintes. A concepção original focava puramente no potencial econômico, prevendo que essas nações se tornariam potências dominantes até 2050. Este conceito analítico logo transcendeu os relatórios financeiros, ganhando vida própria como um fórum de cooperação internacional.

Inicialmente, o grupo era composto por quatro países: Brasil, Rússia, Índia e China, todos caracterizados por grandes territórios, populações significativas, e economias em rápida expansão. A Rússia, embora diferente das outras em termos de estrutura econômica e demográfica, foi incluída devido à sua vasta base de recursos naturais e sua relevância geopolítica histórica. A formação do grupo como uma entidade política e não apenas econômica começou a tomar forma em 2006, quando os ministros das Relações Exteriores dos quatro países realizaram seu primeiro encontro à margem da Assembleia Geral da ONU. Essa reunião marcou a transição de um conceito acadêmico para uma plataforma de diálogo intergovernamental.

A primeira cúpula formal dos líderes do BRIC ocorreu em 2009, na cidade russa de Ecaterimburgo, solidificando a iniciativa como um mecanismo de consulta e coordenação. Essa cúpula abordou temas cruciais como a crise financeira global, a reforma das instituições financeiras internacionais e a segurança alimentar. A colaboração inicial visava principalmente promover um sistema global mais equilibrado e multipolar, desafiando a hegemonia das economias desenvolvidas. A agenda começou a se ampliar, abrangendo não apenas questões econômicas, mas também cooperação política e social entre os membros.

Em 2010, a África do Sul foi convidada a ingressar no grupo, e sua adesão formal ocorreu em 2011, na cúpula de Sanya, na China. Com a inclusão da África do Sul, o acrônimo passou a ser BRICS, refletindo a representatividade do continente africano e a ampliação geográfica do bloco. A África do Sul, apesar de ter uma economia menor que os outros membros originais, foi vista como uma porta de entrada para o continente africano e um país com relevância estratégica na região. Sua entrada sublinhou a intenção do grupo de ser mais do que apenas uma agregação de “grandes” economias, mas sim um fórum representativo de diversas regiões e interesses emergentes.

Desde sua formação, o BRICS tem realizado cúpulas anuais, nas quais os líderes discutem uma ampla gama de tópicos, desde a coordenação macroeconômica até a segurança global e o desenvolvimento sustentável. Essas cúpulas são precedidas por reuniões ministeriais em diversas áreas, como finanças, comércio, agricultura e saúde, o que demonstra a profundidade e a amplitude da cooperação. O grupo não é uma aliança militar nem uma união econômica formal com acordos comerciais abrangentes, mas opera como um mecanismo de diálogo e coordenação para influenciar a governança global. A ênfase é na cooperação pragmática e na busca por soluções conjuntas para desafios globais.

A evolução do BRICS reflete a dinâmica das relações internacionais contemporâneas, onde potências emergentes buscam maior voz e representatividade. O grupo tem sido um defensor consistente da reforma de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, argumentando que a arquitetura financeira global deve refletir a realidade econômica atual. A busca por um sistema mais equitativo e menos dominado por um pequeno número de nações tem sido uma força motriz por trás de muitas de suas iniciativas. Essa busca por uma ordem global mais multipolar continua a moldar a agenda do bloco em suas várias vertentes de atuação.

O conceito inicial de “BRIC” como um investimento promissor transformou-se em uma plataforma política ativa, com os países membros buscando não apenas ganhos econômicos, mas também uma maior influência no cenário mundial. A trajetória do BRICS ilustra a complexidade da diplomacia e da cooperação entre nações com interesses diversos, mas unidas pela busca por um sistema global mais inclusivo. A capacidade de transcender as diferenças para formar uma frente unida em questões-chave é um testemunho da resiliência e da adaptação do grupo ao longo do tempo.

Quais países compõem o bloco BRICS?

Atualmente, o bloco BRICS é formado por dez nações, após uma significativa rodada de expansão que marcou um novo capítulo em sua história. Originalmente, como mencionado, o grupo era composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A adesão desses cinco países estabeleceu a fundação do que se tornaria uma voz cada vez mais proeminente no Sul Global. Cada um desses membros fundadores trouxe uma perspectiva e uma contribuição únicas para a dinâmica do grupo, desde a vasta base de recursos da Rússia e do Brasil até a mão de obra massiva da China e da Índia, e a representatividade africana da África do Sul.

Em 2023, durante a 15ª Cúpula do BRICS, realizada em Joanesburgo, África do Sul, foi anunciada a primeira grande expansão do bloco. Seis novos países foram convidados a ingressar: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Essa decisão, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2024, marcou um momento transformador para o BRICS, ampliando consideravelmente sua abrangência geográfica e econômica. A inclusão desses países reflete um desejo crescente de criar uma plataforma mais diversificada e inclusiva para a cooperação Sul-Sul, representando uma porção ainda maior da população e do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

A Argentina, por exemplo, é uma economia agrícola e um importante ator na América Latina, trazendo uma perspectiva regional relevante. O Egito e a Etiópia representam a África, com o Egito sendo uma ponte entre a África e o Oriente Médio e a Etiópia uma das economias de crescimento mais rápido no continente. A inclusão do Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos destaca a crescente importância da região do Oriente Médio e sua centralidade na produção global de energia. Esses novos membros adicionam uma complexidade e diversidade ainda maiores aos interesses e objetivos do bloco.

A expansão do BRICS não apenas aumenta o número de membros, mas também reforça o peso econômico e geopolítico do agrupamento. Com os novos membros, o BRICS passa a representar uma parcela ainda maior da população mundial e do PIB global, além de controlar uma porção substancial das reservas de petróleo. Essa ampliação reflete a crescente demanda de países em desenvolvimento por alternativas às estruturas de governança global dominadas pelo Ocidente. A formação de um grupo com tamanha diversidade de culturas, regimes políticos e estágios de desenvolvimento é um testemunho da atratividade do modelo de cooperação do BRICS.

A adesão de novos membros, embora estratégica, também apresenta desafios. A coordenação entre dez países com interesses nacionais distintos pode ser mais complexa. No entanto, a base de cooperação do BRICS sempre foi o respeito à soberania e à não interferência nos assuntos internos, o que pode facilitar a integração dos novos membros. A capacidade do bloco de acomodar essa diversidade de perspectivas será crucial para sua eficácia futura. Os diálogos e as negociações internas se tornam ainda mais importantes para construir consensos e avançar na agenda compartilhada do grupo.

A tabela a seguir ilustra a composição atual do BRICS, com os membros fundadores e os recém-admitidos, destacando a diversidade geográfica e a ampliação da representatividade global do bloco. Essa formação expandida permite ao BRICS ter uma voz ainda mais forte em fóruns internacionais, defendendo os interesses do Sul Global em questões cruciais como comércio, finanças e desenvolvimento sustentável. A inclusão de nações com grandes reservas energéticas também confere ao grupo uma influência significativa nos mercados globais de commodities, fortalecendo sua posição estratégica.

A entrada desses novos membros consolida a posição do BRICS como um fórum global relevante, não apenas em termos de representação econômica, mas também como um centro para a formulação de políticas e a coordenação diplomática. A ampliação reflete a demanda por uma ordem mundial mais equitativa e a crença de que a cooperação Sul-Sul é um motor essencial para o desenvolvimento e a estabilidade globais. O grupo continua a evoluir, adaptando-se às dinâmicas geopolíticas e econômicas, consolidando sua busca por uma maior influência no cenário global.

Qual a importância geopolítica do BRICS no cenário global?

A importância geopolítica do BRICS é inegável e crescente, impulsionada pela sua representatividade demográfica e econômica, bem como pela sua postura em relação à governança global. O grupo de dez nações, abrangendo vastas regiões do mundo, representa mais de 45% da população mundial e uma parcela substancial do PIB global, conferindo-lhe um peso considerável em qualquer debate internacional. A simples existência de um bloco tão diverso, que inclui potências emergentes da Ásia, América Latina e África, desafia a ordem unipolar pós-Guerra Fria e promove um sistema internacional mais multipolar, onde diferentes centros de poder exercem influência. Essa composição diversificada permite que o BRICS aborde questões globais de uma perspectiva que muitas vezes difere daquelas das economias tradicionais.

O BRICS tem sido um defensor vocal de reformas nas instituições de governança global, como o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Os membros argumentam que essas instituições, criadas em grande parte após a Segunda Guerra Mundial, não refletem a realidade geopolítica e econômica do século XXI. A busca por maior representatividade e poder de voto para as nações em desenvolvimento é uma prioridade constante na agenda do grupo. Essa postura desafia a estrutura de poder estabelecida e busca democratizar as decisões que afetam o mundo inteiro, promovendo uma governança mais inclusiva e legítima em escala global.

A formação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), ou Banco dos BRICS, é um exemplo concreto da busca por alternativas à arquitetura financeira dominada pelo Ocidente. O NDB não apenas oferece financiamento para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em seus países membros e outras economias emergentes, mas também serve como um símbolo da capacidade do BRICS de criar instituições próprias para atender às suas necessidades. Este banco atua como um contrapeso ao Banco Mundial e ao FMI, oferecendo termos de empréstimo que podem ser mais flexíveis ou adequados às condições dos países em desenvolvimento. A criação do NDB sublinha a autonomia financeira e a crescente capacidade institucional do bloco.

Além das questões financeiras, o BRICS aborda uma série de temas geopolíticos, incluindo segurança internacional, combate ao terrorismo, cibersegurança e mudanças climáticas. Embora não seja uma aliança militar, os membros buscam coordenar posições em questões de segurança global e regional. A Rússia e a China, em particular, têm coordenado esforços para desafiar a hegemonia dos EUA em certas questões de segurança, enquanto Brasil, Índia e África do Sul buscam uma abordagem mais equilibrada e não alinhada. A diversidade de suas abordagens estratégicas permite que o grupo navegue por um leque complexo de desafios globais, buscando um terreno comum para ação concertada.

A expansão recente do BRICS, com a inclusão de países chave do Oriente Médio como Arábia Saudita e Irã, e nações africanas como Egito e Etiópia, intensifica ainda mais sua importância geopolítica. Essa expansão não só aumenta sua participação no PIB e na população mundial, mas também concentra uma significativa parcela das reservas globais de energia e das principais rotas comerciais. A presença de potências petrolíferas ao lado de grandes consumidores de energia dentro do mesmo bloco cria novas dinâmicas e oportunidades para a cooperação energética. Essa maior representatividade geográfica e econômica solidifica a posição do BRICS como um ator indispensável na arena internacional, capaz de influenciar os mercados de commodities e as cadeias de suprimentos globais.

A postura do BRICS em relação à não ingerência em assuntos internos, ao respeito à soberania nacional e ao multilateralismo tem ressonado com muitas nações em desenvolvimento, que veem no bloco um modelo de cooperação mais equitativo e horizontal. Esse modelo contrasta com as abordagens de algumas potências ocidentais, que por vezes impõem condições ou sanções. O BRICS busca construir parcerias baseadas no benefício mútuo e no respeito, atraindo cada vez mais países para o conceito de “BRICS+”. Essa atração demonstra o apelo de um fórum que valoriza a autonomia e a colaboração entre nações soberanas, sem imposições de um único modelo político ou econômico.

A influência geopolítica do BRICS não se manifesta apenas em declarações conjuntas ou ações institucionais, mas também na maneira como o grupo molda as narrativas sobre o futuro da ordem mundial. Ao promover uma visão multipolar e desafiar as hierarquias existentes, o BRICS contribui para um rebalanceamento do poder global. A capacidade do bloco de influenciar as discussões sobre comércio, finanças, segurança e desenvolvimento sustentável demonstra seu papel crucial na formulação de agendas internacionais. Essa influência continuará a crescer à medida que o grupo aprofunda suas relações e expande sua base de membros, solidificando sua posição como um pilar da futura ordem global.

Como o BRICS impacta a economia mundial?

O impacto econômico do BRICS na economia mundial é profundo e multifacetado, refletindo a vasta dimensão de seus mercados, suas bases produtivas e seu papel crescente no comércio e investimento globais. Juntos, os países do BRICS (agora dez membros) representam uma fatia substancial da produção econômica mundial, exercendo influência significativa sobre os preços de commodities, as cadeias de suprimentos e os padrões de consumo globais. A ascensão dessas economias tem reconfigurado as dinâmicas comerciais, deslocando o centro de gravidade econômico do Ocidente para o Leste e o Sul. Essa mudança tem levado a um rebalanceamento das forças econômicas globais, com implicações para a governança econômica e o desenvolvimento sustentável em escala planetária.

Um dos impactos mais notáveis é a influência do BRICS no comércio global. Os países do bloco são grandes importadores e exportadores, e o volume de comércio intra-BRICS tem crescido consistentemente, embora ainda represente uma pequena porcentagem de seu comércio total. A China, em particular, com sua vasta capacidade manufatureira e seu papel como “fábrica do mundo”, desempenha um papel central nas cadeias de valor globais. A Índia emerge como uma potência de serviços e tecnologia da informação, enquanto o Brasil e a Rússia são fornecedores cruciais de matérias-primas e energia. A África do Sul, por sua vez, serve como um hub econômico para o continente africano, facilitando o comércio e o investimento na região. A expansão recente do bloco para incluir gigantes energéticos como Arábia Saudita e Irã eleva ainda mais sua influência nos mercados de petróleo e gás.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), estabelecido pelo BRICS, representa um pilar fundamental de seu impacto econômico. Com um capital autorizado de 100 bilhões de dólares, o NDB financia projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países membros e em outras economias em desenvolvimento. Ao oferecer uma alternativa aos bancos de desenvolvimento tradicionais, como o Banco Mundial, o NDB promove uma agenda de desenvolvimento que reflete as prioridades do Sul Global. Isso inclui o financiamento de projetos de energia renovável, transporte, saneamento e infraestrutura digital, contribuindo para o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida em muitas regiões. A capacidade do NDB de desembolsar fundos em moedas locais também mitiga os riscos cambiais para os mutuários.

A busca pela desdolarização é outra área em que o BRICS tem um impacto potencial significativo. Embora o dólar americano permaneça a moeda dominante no comércio e nas finanças internacionais, os países do BRICS têm explorado alternativas, como o aumento do comércio em moedas locais e a consideração de uma nova moeda de reserva para o bloco. Essa iniciativa visa reduzir a dependência do dólar e, por extensão, a vulnerabilidade a flutuações cambiais e a decisões políticas de outros países. Embora a transição seja complexa e de longo prazo, qualquer movimento significativo nessa direção teria amplas repercussões para o sistema financeiro global, alterando o equilíbrio de poder monetário.

A capacidade de coordenação macroeconômica entre os membros do BRICS, embora informal, permite que eles abordem questões econômicas globais de forma mais coesa. Por exemplo, eles frequentemente coordenam suas posições em relação a reformas do FMI e do Banco Mundial, buscando uma maior representatividade para as economias emergentes. A cooperação em áreas como a estabilidade financeira, a gestão de crises e a promoção do crescimento sustentável contribui para a resiliência da economia global. A formação de um pool de reservas de contingência (CRA) de 100 bilhões de dólares é outro exemplo de como o BRICS visa fortalecer a estabilidade financeira de seus membros em tempos de estresse econômico, oferecendo uma rede de segurança adicional.

Além das questões financeiras e comerciais, o BRICS também influencia a economia mundial por meio de sua agenda de inovação e desenvolvimento tecnológico. Países como China e Índia são líderes em setores como inteligência artificial, telecomunicações e software, impulsionando a pesquisa e o desenvolvimento em uma escala global. A colaboração em ciência e tecnologia entre os membros pode acelerar o progresso em áreas críticas, como biotecnologia e energia verde. A partilha de conhecimentos e a formação de parcerias estratégicas podem criar novas oportunidades de crescimento e enfrentar desafios globais, promovendo a competitividade e a inovação em escala internacional.

O impacto econômico do BRICS transcende a mera soma de seus PIBs, manifestando-se na sua capacidade de moldar as narrativas sobre o desenvolvimento global, desafiar as normas existentes e criar novas instituições que refletem a multipolaridade do século XXI. A crescente participação do BRICS no comércio, investimento e finanças internacionais demonstra sua influência inegável na direção da economia mundial. As dinâmicas internas e as interações com o sistema global continuarão a definir a magnitude desse impacto, consolidando o BRICS como um ator fundamental na economia global e impulsionando um reequilíbrio contínuo das forças econômicas e financeiras.

Quais são os principais pilares da cooperação BRICS?

A cooperação no âmbito do BRICS se sustenta sobre múltiplos pilares, refletindo a complexidade e a abrangência das interações entre seus membros. Um dos pilares centrais é a cooperação político-diplomática, onde os países buscam coordenar suas posições em fóruns internacionais, como as Nações Unidas, o G20 e outras organizações multilaterais. Essa coordenação visa amplificar a voz do Sul Global e promover um sistema internacional mais representativo e justo. As discussões abrangem desde questões de paz e segurança até a reforma de instituições globais, demonstrando o compromisso com um multilateralismo forte e um maior equilíbrio de poder no cenário global. A capacidade de apresentar uma frente unida em debates cruciais fortalece a posição negocial do grupo.

O segundo pilar fundamental é a cooperação financeira e econômica. Isso inclui a já mencionada criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que serve como um motor para o financiamento de infraestrutura e projetos de desenvolvimento sustentável. Além disso, existe o Arranjo de Reserva de Contingência (CRA), um mecanismo de segurança financeira para os membros em momentos de crise de balanço de pagamentos, funcionando como uma espécie de “rede de segurança” monetária. A discussão sobre o comércio em moedas locais e a busca por alternativas ao dólar americano também se inserem neste pilar, visando aumentar a resiliência econômica e reduzir a dependência de moedas de reserva únicas. A exploração de novas formas de cooperação financeira e a harmonização de políticas macroeconômicas são temas recorrentes nas agendas ministeriais.

A cooperação setorial constitui o terceiro pilar, abrangendo uma vasta gama de áreas que vão além das finanças e da política. Isso inclui agricultura, saúde, educação, ciência e tecnologia, energia, cultura e esportes. Em cada uma dessas áreas, os países do BRICS buscam compartilhar melhores práticas, promover intercâmbios de conhecimento e desenvolver projetos colaborativos. Por exemplo, na área da saúde, há discussões sobre o desenvolvimento de vacinas e a resposta a pandemias; na agricultura, foca-se na segurança alimentar e no desenvolvimento rural. A diversidade de setores de cooperação mostra a profundidade das relações e o interesse em construir um arcabouço de benefícios mútuos abrangente.

O quarto pilar está relacionado à cooperação entre os povos e o intercâmbio cultural. Reconhecendo a riqueza da diversidade cultural de seus membros, o BRICS promove festivais de cinema, exposições de arte, intercâmbios estudantis e programas de turismo. O objetivo é fortalecer os laços entre as sociedades, promover o entendimento mútuo e construir uma base de apoio popular para a cooperação intergovernamental. Essa “diplomacia popular” ou “soft power” ajuda a criar uma identidade BRICS que vai além dos interesses econômicos e políticos, fomentando um senso de comunidade e solidariedade entre os membros. A promoção de laços humanos é vista como essencial para a sustentabilidade da parceria de longo prazo.

A segurança e o combate a desafios transnacionais formam o quinto pilar. Embora não seja uma aliança militar formal, o BRICS discute questões de segurança global, como terrorismo, crime organizado transnacional e cibersegurança. Há um esforço para compartilhar inteligência e coordenar estratégias para enfrentar essas ameaças comuns. A cooperação em áreas de segurança regional e a promoção da estabilidade internacional são pautas importantes nas reuniões de conselheiros de segurança e outros especialistas. A busca por soluções pacíficas para conflitos e a defesa da não proliferação nuclear são exemplos de áreas de convergência que demonstram a relevância do grupo em questões de segurança global.

Uma lista dos principais mecanismos de cooperação e iniciativas que ilustram esses pilares pode ser útil para entender a abrangência da atuação do bloco. Esses pilares se interligam e se reforçam, formando uma estrutura robusta para a cooperação multifacetada do BRICS, permitindo que os membros busquem sinergias e maximizem os benefícios de sua associação. A capacidade de operar em diferentes níveis de governança e em diversos setores é um diferencial do BRICS, permitindo uma abordagem holística aos desafios e oportunidades globais.

• Reuniões de Cúpula Anuais: Principal fórum de decisão e definição de diretrizes.
• Reuniões Ministeriais: Encontros regulares de ministros de Finanças, Relações Exteriores, Comércio, Saúde, Agricultura, etc.
• Novo Banco de Desenvolvimento (NDB): Instituição financeira multilateral para projetos de infraestrutura e desenvolvimento.
• Arranjo de Reserva de Contingência (CRA): Mecanismo de apoio financeiro em caso de crises de liquidez.
• Plataformas de Diálogo Setorial: Grupos de trabalho e comitês em áreas como ciência, tecnologia, inovação, agricultura, energia.
• Fórum de Negócios BRICS: Promove a cooperação entre empresários dos países membros.
• Conselho de Think Tanks BRICS (BTTC): Reúne pesquisadores para propor ideias e análises.
• Fórum da Sociedade Civil BRICS: Engaja organizações não governamentais em debates sobre a agenda do bloco.

A colaboração nessas diversas frentes sublinha a natureza abrangente do projeto BRICS, que vai além das aspirações econômicas para incluir dimensões políticas, sociais e culturais. A força do BRICS reside em sua capacidade de construir consenso e agir em conjunto em um mundo cada vez mais interconectado e complexo, onde os desafios exigem soluções coletivas e inovadoras. A contínua evolução desses pilares reflete a adaptabilidade do grupo e seu compromisso em permanecer relevante no cenário global, respondendo às necessidades em constante mudança de seus membros e do mundo em geral.

O que é o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB)?

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), frequentemente referido como o Banco dos BRICS, é uma instituição financeira multilateral estabelecida pelos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Sua criação foi uma resposta direta à percepção de que as instituições financeiras internacionais existentes, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), não representavam adequadamente os interesses e as necessidades das economias emergentes e em desenvolvimento. O NDB foi formalmente estabelecido em 2014, durante a 6ª Cúpula do BRICS em Fortaleza, Brasil, e iniciou suas operações em 2015, com sede em Xangai, China. Seu principal objetivo é mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em seus estados membros e em outras economias emergentes. A iniciativa reflete a ambição do BRICS de criar uma arquitetura financeira global mais equilibrada e multipolar.

O capital autorizado inicial do NDB é de 100 bilhões de dólares, com um capital subscrito de 50 bilhões de dólares. Cada um dos membros fundadores contribuiu igualmente com 10 bilhões de dólares para o capital subscrito, o que diferencia o NDB de outras instituições onde o poder de voto é proporcional ao tamanho da economia ou da contribuição financeira. Essa estrutura de governança igualitária visa garantir que nenhum membro tenha poder desproporcional e que as decisões sejam tomadas de forma mais consensual e equitativa. Essa paridade na distribuição de capital é um dos aspectos mais inovadores do NDB e um reflexo direto do princípio de igualdade que o BRICS busca promover nas relações internacionais.

O mandato do NDB é amplo, abrangendo o financiamento de projetos em setores críticos para o desenvolvimento sustentável. Isso inclui infraestrutura de transporte, energia renovável, eficiência energética, saneamento básico, recursos hídricos e infraestrutura digital. O banco também se concentra em promover a inovação e o uso de tecnologias avançadas em seus projetos. Ao contrário de algumas instituições tradicionais, o NDB tem sido proativo na emissão de títulos em moedas locais e no financiamento de projetos nessas moedas, o que ajuda os mutuários a evitar riscos cambiais e reduz a dependência do dólar americano. Essa abordagem pragmática e orientada para as necessidades dos países em desenvolvimento tem sido um de seus diferenciais.

Desde o início de suas operações, o NDB aprovou uma série de projetos significativos em seus países membros. Por exemplo, financiou projetos de energia solar na Índia, linhas de trem de alta velocidade na Rússia, projetos de infraestrutura hídrica na África do Sul e iniciativas de transporte urbano no Brasil e na China. A prioridade é dada a projetos que tenham um impacto social e ambiental positivo, contribuindo para o desenvolvimento econômico de forma sustentável e inclusiva. O banco busca parcerias com outras instituições financeiras multilaterais e bancos de desenvolvimento nacionais para co-financiar projetos, maximizando o impacto de seus investimentos. A transparência e a boa governança também são princípios orientadores em suas operações.

Além dos membros fundadores do BRICS, o NDB está aberto à adesão de outros países membros das Nações Unidas, o que tem sido um passo importante para expandir sua influência e recursos. Desde 2021, o NDB já aceitou novos membros como o Egito, os Emirados Árabes Unidos, Bangladesh e o Uruguai. Essa expansão de membros reflete o crescente apelo do NDB como uma fonte de financiamento alternativa e como um símbolo da cooperação Sul-Sul. A diversificação de sua base de membros fortalece a posição do banco como uma instituição financeira global e aumenta sua capacidade de mobilizar recursos para atender às demandas de desenvolvimento em um cenário mundial em constante mudança.

A tabela a seguir apresenta alguns exemplos de setores prioritários de financiamento do NDB, ilustrando a diversidade de investimentos e o foco do banco no desenvolvimento sustentável. A atuação do NDB vai além de um simples empréstimo, buscando impulsionar o crescimento econômico e a melhora da qualidade de vida, enquanto promove práticas de desenvolvimento responsáveis e resilientes às mudanças climáticas.

O NDB é mais do que apenas um banco; ele é um símbolo do compromisso do BRICS com uma nova arquitetura de desenvolvimento global, que prioriza a cooperação Sul-Sul e busca empoderar as economias emergentes. Sua abordagem flexível, seu foco no desenvolvimento sustentável e sua estrutura de governança equitativa o posicionam como um ator cada vez mais relevante no cenário financeiro internacional. A capacidade do NDB de se adaptar às necessidades específicas de seus membros e de outras nações em desenvolvimento garante sua relevância contínua na busca por um crescimento econômico mais inclusivo e ecologicamente responsável.

Como o BRICS tem buscado a desdolarização?

A busca pela desdolarização é uma das aspirações econômicas mais ambiciosas e estratégicas dos países do BRICS, impulsionada por uma combinação de fatores geopolíticos e econômicos. Embora o dólar americano mantenha sua posição como a principal moeda de reserva e de transações internacionais, os membros do BRICS têm expressado repetidamente o desejo de reduzir sua dependência, buscando maior autonomia financeira e resiliência a choques externos. Essa movimentação é vista como um passo essencial para reformar a arquitetura financeira global e criar um sistema mais multipolar, onde o risco de uma única moeda ser usada como instrumento de pressão política seja mitigado. A coordenação e o diálogo sobre essa questão têm sido uma constante nas reuniões financeiras do bloco.

Uma das principais estratégias para a desdolarização é o incentivo ao uso de moedas locais no comércio entre os países do BRICS. Vários acordos bilaterais e multilaterais foram firmados entre os membros para facilitar o comércio e o investimento diretos em suas próprias moedas, contornando a necessidade de conversão para dólares americanos. Por exemplo, a China tem promovido ativamente o uso do yuan em suas relações comerciais com a Rússia, Brasil e outros países. A Índia também tem explorado mecanismos semelhantes com seus parceiros comerciais. Essa prática não apenas reduz custos de transação e riscos cambiais, mas também fortalece as moedas domésticas e o desenvolvimento de mercados financeiros mais profundos dentro do bloco.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) desempenha um papel crucial nesse esforço. O NDB tem sido proativo na emissão de títulos e no financiamento de projetos em moedas locais dos países membros, uma estratégia que difere significativamente das práticas de outras instituições financeiras multilaterais que operam predominantemente em dólares. Ao prover financiamento em moedas como o yuan, o rand sul-africano, o rublo, a rupia indiana ou o real, o NDB não só reduz o risco cambial para os mutuários, mas também estimula o desenvolvimento de mercados de capitais em moedas não-dólar. Essa prática inovadora contribui para a diversificação das moedas utilizadas nas finanças internacionais e diminui a dependência do sistema financeiro global de uma única moeda.

A discussão sobre a criação de uma moeda de reserva comum para o BRICS ou um sistema de pagamentos alternativo é outra faceta da busca por desdolarização. Embora a ideia de uma moeda única seja complexa e exija um alto grau de integração econômica e política, a exploração de um mecanismo de liquidação que evite o dólar é mais palpável. Essa iniciativa visa proteger os membros de sanções financeiras unilaterais e garantir a continuidade do comércio e do investimento, independentemente das pressões externas. A viabilidade de tal sistema está sendo ativamente estudada, considerando-se os desafios técnicos e políticos envolvidos na sua implementação, mas a intenção de buscar alternativas é clara.

A expansão do BRICS com a inclusão de importantes produtores de petróleo como Arábia Saudita, Irã e Emirados Árabes Unidos também tem implicações significativas para a desdolarização. Historicamente, o comércio de petróleo tem sido dominado pelo dólar americano (o “petrodólar”). Com a adesão desses países, há uma crescente possibilidade de que uma parte maior do comércio de petróleo comece a ser liquidada em moedas que não sejam o dólar, especialmente o yuan chinês. Esse movimento, se ganhar tração, poderia ter um impacto sísmico na demanda global por dólares e na sua primazia como moeda de reserva. A coordenação entre grandes exportadores e importadores de energia dentro do bloco reforça essa possibilidade de mudança nos padrões de liquidação de commodities globais.

A lista a seguir destaca algumas das ações e iniciativas que os países do BRICS têm implementado ou discutido para reduzir a dependência do dólar americano, mostrando a diversidade de abordagens e o compromisso de longo prazo com esse objetivo estratégico. Esses esforços, embora incrementais, sinalizam uma transformação potencial na arquitetura financeira global, onde a influência de outras moedas e blocos econômicos poderia se fortalecer gradualmente ao longo do tempo.

• Incentivo ao comércio bilateral em moedas locais.
• Emissão de títulos e financiamento de projetos pelo NDB em moedas não-dólar.
• Discussões sobre a criação de um sistema de pagamentos unificado BRICS (alternativa ao SWIFT).
• Estudos sobre a viabilidade de uma moeda de reserva comum ou de um mecanismo de liquidação multilateral BRICS.
• Fortalecimento dos mercados de títulos denominados em moedas locais.
• Aumento das reservas em ouro e outras moedas fortes pelos bancos centrais dos membros.

Os desafios para uma desdolarização completa são imensos, dada a profundidade e liquidez dos mercados financeiros em dólar e sua aceitação global. No entanto, os esforços do BRICS representam uma pressão contínua sobre a hegemonia do dólar, contribuindo para uma diversificação gradual do sistema monetário internacional. Essa busca reflete uma aspiração mais ampla por um sistema financeiro global que seja mais justo, mais resiliente e menos sujeito a choques unilaterais, consolidando a agenda do BRICS por uma ordem econômica global mais equilibrada e multipolar.

Quais são os desafios internos enfrentados pelo bloco?

Apesar de sua crescente importância e aspirações, o bloco BRICS enfrenta uma série de desafios internos complexos que podem influenciar sua coesão e eficácia. Uma das principais dificuldades reside na grande diversidade de seus membros, que inclui nações com diferentes sistemas políticos, níveis de desenvolvimento econômico, estruturas sociais e interesses estratégicos. A China, por exemplo, é a segunda maior economia do mundo e uma potência autoritária, enquanto a Índia é a maior democracia e uma economia em ascensão. O Brasil e a África do Sul são democracias de porte médio com economias baseadas em commodities, e a Rússia é uma potência energética com um regime mais centralizado. A expansão recente adicionou ainda mais complexidade, com a inclusão de países como Irã e Arábia Saudita, que têm sistemas políticos distintos e relações regionais por vezes tensas. Essa heterogeneidade torna a formulação de políticas conjuntas um exercício delicado e contínuo de negociação.

As assimetrias econômicas entre os membros são outro desafio significativo. A economia da China é de longe a maior do grupo, e seu peso econômico pode gerar preocupações entre os outros membros sobre uma possível dominação chinesa da agenda do BRICS. Embora a China frequentemente enfatize a igualdade e a cooperação, o desequilíbrio de poder é inegável e pode levar a dinâmicas de “parceiro maior-menor”. Essa disparidade pode se manifestar em negociações comerciais, investimentos e na alocação de recursos do NDB, onde os membros menores podem sentir-se em desvantagem competitiva. A busca por um equilíbrio que beneficie a todos, sem que um único país dite os termos, é um esforço constante para a liderança do bloco.

As tensões geopolíticas entre alguns membros também representam um desafio. A mais notória é a rivalidade histórica entre Índia e China, que inclui disputas de fronteira e concorrência por influência regional na Ásia. Embora ambos os países participem ativamente do BRICS, essas tensões podem limitar a profundidade da cooperação em certas áreas sensíveis e exigir uma diplomacia cuidadosa para evitar que essas questões bilaterais afetem a agenda multilateral do bloco. A gestão dessas rivalidades internas é crucial para manter a unidade do grupo e focar nos objetivos compartilhados, sem permitir que divergências prejudiquem a coesão geral.

A falta de um secretariado permanente ou de uma estrutura institucional rígida, que é uma característica do BRICS, também pode ser vista como um desafio. Embora essa flexibilidade permita uma maior adaptabilidade e evite a burocracia, ela também pode dificultar a implementação de decisões e a coordenação de políticas de longo prazo. A dependência de presidências rotativas, que mudam anualmente, significa que a agenda e o ímpeto podem variar de um ano para o outro, refletindo as prioridades do país anfitrião. A ausência de um órgão executivo centralizado pode, por vezes, levar a uma implementação mais lenta de iniciativas e a uma menor continuidade em projetos complexos, exigindo um esforço contínuo de coordenação entre os membros.

A lista a seguir detalha alguns dos principais desafios internos que o BRICS precisa navegar para manter e fortalecer sua relevância e coesão. Abordar esses desafios requer um alto grau de diplomacia, compromisso e visão de longo prazo por parte de todos os membros, garantindo que o bloco possa continuar a exercer sua influência em um mundo em constante evolução e que as divergências não ofusquem os interesses comuns.

• Heterogeneidade política e econômica dos membros.
• Assimetrias de poder, especialmente o peso da economia chinesa.
• Tensões geopolíticas e rivalidades bilaterais entre membros (ex: Índia-China).
• Falta de um secretariado permanente e de estruturas institucionais formais.
• Divergências de interesse em questões específicas de política externa.
• Lentidão na implementação de iniciativas e acordos.
• Desafios de coordenação em um grupo em expansão.

Apesar desses desafios, o BRICS tem demonstrado uma notável capacidade de resiliência e adaptação, o que é um testemunho da força de suas motivações compartilhadas, como a busca por um sistema global mais multipolar e a reforma das instituições existentes. A vontade de superar as diferenças em prol de objetivos comuns tem sido um fator determinante para a sobrevivência e a crescente influência do bloco. A contínua negociação e a busca por consensos em meio à diversidade de interesses são elementos chave para a sua sustentabilidade, permitindo que o BRICS continue a moldar o futuro das relações internacionais.

Como o BRICS tem expandido sua influência global?

O BRICS tem expandido sua influência global de diversas maneiras, consolidando-se como um ator cada vez mais relevante no cenário internacional e buscando redefinir as dinâmicas de poder. A mais evidente dessas expansões é a adesão de novos membros, que ocorreu formalmente em janeiro de 2024. A inclusão de Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos não apenas aumenta o número de nações no bloco, mas também amplifica sua representatividade geográfica e econômica, abrangendo regiões estratégicas como o Oriente Médio e a África de forma mais robusta. Essa ampliação reflete o apelo do BRICS como uma plataforma para o Sul Global e uma alternativa a arranjos dominados por potências ocidentais. A busca por um maior alcance e impacto tem sido um motor contínuo na agenda do grupo.

Além da expansão direta de membros, o conceito de “BRICS+” é uma forma de expandir a influência sem a necessidade de adesão plena. O BRICS+ se refere a um formato de diálogo e cooperação com países não-membros que compartilham interesses e aspirações semelhantes aos do bloco. Isso permite ao BRICS engajar-se com um leque mais amplo de nações em desenvolvimento, discutindo questões de interesse mútuo e construindo coalizões em fóruns multilaterais. Esses diálogos podem levar a parcerias em projetos específicos, a coordenação de posições em negociações internacionais, ou simplesmente a um maior entendimento mútuo sobre os desafios globais. O BRICS+ é, portanto, uma ferramenta flexível para estender o alcance diplomático e a capacidade de influência do grupo.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), embora seja uma instituição do BRICS, também tem sido fundamental para expandir a influência do grupo ao abrir suas portas para membros não-BRICS. Países como Egito, Emirados Árabes Unidos, Bangladesh e Uruguai já se tornaram membros do NDB, permitindo que eles se beneficiem do financiamento de infraestrutura e desenvolvimento sustentável que o banco oferece. Essa adesão ao NDB não implica necessariamente na adesão plena ao BRICS, mas fortalece os laços econômicos e financeiros com o bloco, criando uma rede de interdependências e parcerias. O NDB, ao atuar como um provedor de soluções financeiras em moedas locais e com uma governança mais equitativa, atrai países que buscam alternativas aos mecanismos financeiros tradicionais. A atratividade do NDB reforça a legitimidade e o poder de atração do BRICS em geral.

A coordenação de posições em fóruns multilaterais é outra maneira crucial pela qual o BRICS exerce e expande sua influência. Os líderes e ministros do BRICS frequentemente se reúnem antes ou durante grandes eventos internacionais, como as Assembleias Gerais da ONU, cúpulas do G20 e conferências climáticas, para alinhar suas estratégias e apresentar uma frente unida. Essa coordenação permite que o grupo amplifique sua voz em temas como a reforma da governança global, a mudança climática, o comércio justo e o desenvolvimento sustentável. Ao agir de forma coesa, o BRICS pode influenciar a agenda e os resultados das negociações globais, promovendo uma ordem mundial mais multipolar e inclusiva. A capacidade de construir consensos entre nações diversas demonstra a maturidade diplomática do bloco.

A promoção do uso de moedas locais no comércio e a exploração de alternativas ao dólar americano também contribuem para a expansão da influência do BRICS, desafiando a hegemonia de longa data do sistema financeiro global. Ao reduzir a dependência do dólar, os países do BRICS buscam maior autonomia e resiliência financeira, incentivando outros países a considerar a diversificação de suas reservas e transações. Esse movimento, embora complexo e gradual, pode reconfigurar as dinâmicas monetárias internacionais e aumentar a influência das moedas do BRICS no sistema financeiro global. O crescente comércio de petróleo e outras commodities em moedas não-dólar é um exemplo concreto dessa mudança de paradigma.

A tabela a seguir resume as principais vias pelas quais o BRICS tem estendido sua influência, demonstrando a abordagem multifacetada do bloco. A combinação de expansão direta, formatos de diálogo flexíveis e iniciativas institucionais fortalece a posição do BRICS como um protagonista no cenário mundial, capaz de moldar as relações internacionais e promover uma nova ordem global baseada na cooperação e multipolaridade.

A capacidade do BRICS de atrair novos membros e parceiros, de criar instituições financeiras alternativas e de coordenar posições em questões cruciais demonstra sua crescente habilidade de moldar o cenário global. Essa expansão de influência não é apenas quantitativa em termos de número de países, mas também qualitativa, ao propor uma visão alternativa para a governança mundial. A continuidade desses esforços fortalecerá ainda mais a posição do BRICS como um pilar de uma ordem internacional multipolar, desafiando as hierarquias tradicionais e promovendo uma maior equidade nas relações entre nações.

Qual o papel do BRICS na governança global?

O papel do BRICS na governança global é de transformação e reequilíbrio, buscando ativamente reformar e democratizar as instituições e normas que regem o sistema internacional. Desde sua concepção, o bloco tem sido um defensor vocal de uma ordem mundial mais multipolar, onde o poder e a tomada de decisões sejam distribuídos de forma mais equitativa entre as nações, e não concentrados em um pequeno grupo de potências tradicionais. Essa aspiração por uma governança global mais inclusiva e representativa é o cerne de muitas de suas iniciativas e declarações conjuntas. A presença de dez países influentes de diferentes continentes permite ao BRICS articular uma perspectiva diversificada e abrangente sobre os desafios globais.

Uma das principais áreas de atuação do BRICS na governança global é a reforma das instituições financeiras internacionais, nomeadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Os membros do BRICS argumentam que a estrutura de cotas e votos nessas instituições ainda reflete a realidade econômica do pós-Segunda Guerra Mundial, sub-representando as economias emergentes e em desenvolvimento. O BRICS tem pressionado por um aumento da participação de seus membros e de outros países do Sul Global nas decisões e na liderança dessas organizações, visando uma governança mais justa e legítima. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do Arranjo de Reserva de Contingência (CRA) são exemplos práticos dessa busca por alternativas e complementos à arquitetura financeira existente, demonstrando a capacidade do grupo de criar instituições próprias.

No âmbito da segurança internacional, embora o BRICS não seja uma aliança militar, os membros buscam coordenar posições em questões cruciais no Conselho de Segurança da ONU e em outros fóruns. Eles defendem a solução pacífica de conflitos, o respeito à soberania nacional e a não ingerência em assuntos internos dos estados, princípios que são frequentemente invocados como alternativas às intervenções unilaterais. A Rússia e a China, como membros permanentes do Conselho de Segurança, têm uma voz mais proeminente, mas todos os membros do BRICS contribuem para a busca por uma ordem de segurança mais estável e previsível. A discussão sobre o combate ao terrorismo e à criminalidade transnacional também se enquadra nessa pauta, buscando uma cooperação mais eficaz em desafios que transcendem fronteiras.

O BRICS também desempenha um papel significativo na governança do comércio global, defendendo um sistema comercial multilateral aberto, não discriminatório e baseado em regras, com a Organização Mundial do Comércio (OMC) em seu centro. Os países do BRICS frequentemente coordenam suas posições em negociações comerciais, buscando proteger os interesses das economias em desenvolvimento e garantir que as regras do comércio internacional sejam justas e equitativas. Eles se opõem ao protecionismo e às medidas unilaterais que podem distorcer o comércio, promovendo a liberalização comercial de forma equilibrada. O diálogo dentro do BRICS ajuda a fortalecer a capacidade de negociação individual dos membros em um cenário comercial global cada vez mais complexo.

Em relação às mudanças climáticas e ao desenvolvimento sustentável, o BRICS tem um papel ambivalente, sendo ao mesmo tempo grandes emissores e defensores da “responsabilidade comum, mas diferenciada”. Eles defendem que os países desenvolvidos devem assumir a liderança nos cortes de emissões e no fornecimento de financiamento e tecnologia para os países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o BRICS promove a cooperação em tecnologias verdes e o desenvolvimento de energias renováveis dentro de suas próprias fronteiras, contribuindo para os esforços globais. A coordenação de suas posições nas Conferências das Partes (COPs) da UNFCCC tem sido vital para influenciar os resultados das negociações internacionais sobre o clima, buscando um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental.

Uma lista que exemplifica as áreas onde o BRICS tem um impacto direto na governança global demonstra a amplitude de sua agenda e sua ambição de reformar o sistema internacional. O BRICS não busca demolir a ordem existente, mas sim reformá-la a partir de dentro, tornando-a mais justa e representativa das realidades do século XXI. Essa abordagem pragmática, porém ambiciosa, tem sido uma marca registrada da atuação do bloco em fóruns globais, promovendo uma cooperação mais eficaz e equitativa.

• Reforma do FMI e do Banco Mundial para maior representatividade.
• Defesa de um Conselho de Segurança da ONU mais inclusivo.
• Promoção de um sistema comercial multilateral baseado em regras (OMC).
• Defesa do multilateralismo e da não ingerência em assuntos internos.
• Coordenação de posições em negociações climáticas globais.
• Incentivo à cooperação Sul-Sul e à partilha de conhecimento.
• Criação de instituições financeiras alternativas (NDB, CRA).

O papel do BRICS na governança global é de catalisador para uma nova era de multilateralismo, onde a voz das economias emergentes é ouvida e suas prioridades são consideradas. Ao desafiar as estruturas de poder tradicionais e promover um sistema internacional mais equilibrado, o BRICS contribui para uma governança mais legítima e eficaz para os desafios globais do nosso tempo. A sua capacidade de influenciar decisões em fóruns internacionais, seja através de propostas concretas ou da coordenação de votos, continua a solidificar a sua posição como um pilar essencial na evolução da ordem mundial e na promoção de uma diplomacia mais inclusiva.

Como o BRICS aborda questões de segurança e contraterrorismo?

A abordagem do BRICS às questões de segurança e contraterrorismo, embora não se enquadre em uma aliança militar formal, é caracterizada por um esforço crescente de coordenação e compartilhamento de inteligência entre os membros. Reconhecendo que a segurança é um pré-requisito para o desenvolvimento e a estabilidade global, o bloco tem discutido amplamente ameaças transnacionais que afetam a todos. As declarações conjuntas emitidas após as cúpulas do BRICS frequentemente reiteram o compromisso dos países com a paz e a segurança internacionais, com ênfase no papel central das Nações Unidas na manutenção da ordem global. A cooperação visa fortalecer a capacidade dos membros de lidar com os desafios de segurança de forma coletiva e coordenada, sem a imposição de agendas externas.

No que diz respeito ao contraterrorismo, o BRICS tem uma postura unificada de condenação a todas as formas e manifestações de terrorismo, independentemente de sua motivação ou localização. Os membros enfatizam a necessidade de uma abordagem abrangente para combater o terrorismo, que inclua não apenas a repressão, mas também a prevenção do radicalismo, o corte de financiamento e o combate à propaganda extremista online. Houve um aumento da cooperação entre as agências de segurança e inteligência dos países do BRICS para compartilhar informações e melhores práticas. A coordenação de posições em fóruns como a ONU, o G20 e o Grupo de Ação Financeira (GAFI) também busca fortalecer a estrutura legal internacional contra o terrorismo, garantindo que os responsáveis sejam levados à justiça. Essa colaboração pragmática é vista como essencial para proteger a segurança dos cidadãos em todos os países membros.

Outra área importante de cooperação em segurança é a cibersegurança. Com o aumento da dependência de infraestruturas digitais e a proliferação de ameaças cibernéticas, os países do BRICS têm discutido a necessidade de desenvolver um quadro comum para a governança do ciberespaço, baseado em princípios de soberania e não interferência. Eles defendem a cooperação internacional para combater crimes cibernéticos, proteger infraestruturas críticas e promover um ciberespaço seguro e aberto. A troca de expertise e a realização de exercícios conjuntos para fortalecer as defesas cibernéticas são iniciativas que visam aumentar a resiliência digital dos membros. Essa colaboração é crucial para garantir a segurança da informação e a estabilidade das redes globais.

A questão da segurança regional também é frequentemente abordada nas discussões do BRICS. Os membros reconhecem que a estabilidade em suas respectivas regiões tem um impacto direto na segurança global. Por exemplo, Rússia e China têm um interesse comum na estabilidade da Ásia Central, enquanto a Índia se preocupa com a segurança do Oceano Índico e a África do Sul com a estabilidade do continente africano. O Brasil, por sua vez, foca na segurança da América do Sul e na Amazônia. As discussões sobre esses temas buscam promover a resolução pacífica de disputas, o diálogo e a cooperação regional para prevenir conflitos e promover a segurança coletiva. A troca de visões sobre as dinâmicas regionais é fundamental para uma compreensão mais profunda dos desafios de segurança globais.

A lista a seguir destaca os principais focos e mecanismos de cooperação do BRICS em segurança e contraterrorismo. A abordagem do BRICS nessas áreas reflete um compromisso com o multilateralismo e com a ideia de que os desafios de segurança complexos exigem respostas coordenadas e baseadas no direito internacional. Essa colaboração não é apenas reativa, mas também proativa, buscando construir capacidades e frameworks para enfrentar ameaças emergentes antes que elas se tornem crises maiores.

• Condenação unificada do terrorismo em todas as suas formas.
• Compartilhamento de inteligência e melhores práticas no combate ao terrorismo.
• Esforços para combater o financiamento do terrorismo e o uso da internet por grupos extremistas.
• Diálogo sobre segurança cibernética e desenvolvimento de um ciberespaço seguro.
• Coordenação de posições em fóruns multilaterais sobre segurança internacional (ONU, G20).
• Discussões sobre a resolução pacífica de conflitos regionais e a estabilidade.
• Promoção da não proliferação de armas de destruição em massa.

A cooperação em segurança dentro do BRICS é um pilar importante da sua agenda, demonstrando que o grupo vai além das questões econômicas e financeiras. A busca por um ambiente de segurança estável e previsível é fundamental para o desenvolvimento e a prosperidade de seus membros e do mundo em geral. A capacidade de construir consenso em questões tão sensíveis, apesar das diferenças políticas, sublinha a maturidade do bloco e seu compromisso em atuar como um ator responsável e construtivo na arena da segurança global.

Qual a contribuição do BRICS para o desenvolvimento sustentável?

A contribuição do BRICS para o desenvolvimento sustentável é um aspecto cada vez mais relevante da sua agenda, refletindo a conscientização de que o crescimento econômico deve ser equilibrado com a proteção ambiental e a inclusão social. Apesar de serem grandes economias emergentes com desafios de desenvolvimento, os países do BRICS reconhecem a urgência das questões climáticas e a necessidade de uma transição para modelos de desenvolvimento mais verdes. A coordenação de suas posições em fóruns internacionais, como as Conferências das Partes (COPs) da UNFCCC e as cúpulas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, demonstra um esforço para influenciar as negociações e promover uma abordagem que considere as necessidades do Sul Global. A atuação conjunta visa fortalecer a capacidade de implementar agendas ambiciosas de sustentabilidade global.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) desempenha um papel central nessa contribuição, direcionando uma parcela significativa de seus investimentos para projetos de infraestrutura sustentável. Isso inclui financiamento para energias renováveis (solar, eólica), eficiência energética, transporte público de baixa emissão, saneamento e gestão de resíduos. O NDB tem a meta de aumentar progressivamente a proporção de projetos verdes em seu portfólio, promovendo a descarbonização e a resiliência climática. Ao apoiar esses projetos, o banco não só contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também para a criação de empregos verdes e o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis nos países membros e em outras economias emergentes. A abordagem do NDB é vista como um modelo para bancos de desenvolvimento do século XXI.

A colaboração em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias verdes é outro pilar da contribuição do BRICS. Países como a China e a Índia têm investido pesadamente em energias renováveis e veículos elétricos, e há um interesse em compartilhar essas inovações e conhecimentos com os outros membros. A cooperação em ciência e tecnologia pode acelerar a adoção de práticas mais sustentáveis em setores como a agricultura (com técnicas mais eficientes em água e menos uso de fertilizantes), a indústria (com processos de produção mais limpos) e a urbanização (com cidades mais inteligentes e verdes). A troca de informações e a formação de parcerias de pesquisa são cruciais para impulsionar a inovação e a adaptação às mudanças climáticas.

A questão da segurança alimentar e hídrica é também uma prioridade dentro da agenda de desenvolvimento sustentável do BRICS. Os países do bloco buscam cooperar em métodos agrícolas sustentáveis, gestão eficiente dos recursos hídricos e estratégias para garantir a resiliência dos sistemas alimentares frente a eventos climáticos extremos. A partilha de experiências e tecnologias nesse campo é vital para assegurar a nutrição de suas vastas populações, especialmente em um contexto de crescimento demográfico e pressões ambientais. O foco na agricultura sustentável e na gestão hídrica reflete um compromisso em longo prazo com a segurança de recursos essenciais para a qualidade de vida e a estabilidade social.

Embora o BRICS defenda o princípio das “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” nas negociações climáticas – argumentando que as nações desenvolvidas têm uma responsabilidade histórica maior e devem liderar no financiamento e transferência de tecnologia – o bloco também demonstra um compromisso crescente com suas próprias ações. A Índia, por exemplo, tem metas ambiciosas de energia renovável, e a China tem sido uma líder global em investimentos em energias limpas. O Brasil, apesar dos desafios recentes, possui um vasto potencial em energia hidrelétrica e biocombustíveis. Esses esforços internos, combinados com a coordenação em fóruns internacionais, fortalecem a posição do BRICS como um ator relevante na luta contra as mudanças climáticas e na promoção de uma economia verde global.

A tabela abaixo ilustra algumas das metas e focos de cooperação do BRICS em relação ao desenvolvimento sustentável, mostrando a amplitude do engajamento do bloco nesse tema crucial. A busca por um modelo de desenvolvimento que seja simultaneamente economicamente viável, socialmente inclusivo e ecologicamente responsável é uma prioridade que permeia diversas áreas de cooperação dentro do BRICS, refletindo uma visão de futuro que integra os três pilares da sustentabilidade, e promovendo uma abordagem holística para o crescimento.

A colaboração do BRICS no desenvolvimento sustentável é um reflexo da sua complexa posição no cenário global, equilibrando as necessidades de crescimento de suas vastas populações com a urgência de agir sobre as mudanças climáticas e outros desafios ambientais. Ao demonstrar liderança em áreas como o financiamento verde e a inovação tecnológica, o BRICS fortalece sua voz nas discussões globais e contribui para um futuro mais sustentável e equitativo para todos. A sinergia entre os interesses econômicos e a agenda de sustentabilidade continua a ser um motor para a ação coletiva do grupo e a promoção de uma transição global para economias mais verdes.

Como o BRICS promove a cooperação cultural e educacional?

A cooperação cultural e educacional é um pilar vital da agenda do BRICS, que busca ir além das dimensões econômicas e políticas para construir laços mais profundos entre os povos de seus países membros. Reconhecendo a riqueza da diversidade cultural e das tradições de cada nação, o bloco promove ativamente o intercâmbio de ideias, talentos e conhecimentos. Essa dimensão “soft power” é crucial para fomentar o entendimento mútuo, fortalecer a confiança e criar uma base sólida para a cooperação de longo prazo. As iniciativas nessa área visam desmistificar estereótipos e celebrar as identidades únicas que compõem o grupo, permitindo que a cooperação se enraíze em um solo cultural fértil.

No campo cultural, o BRICS organiza uma série de eventos e festivais que celebram as artes, a música, o cinema e a literatura dos países membros. O Festival de Cinema BRICS, por exemplo, é uma plataforma para cineastas do bloco exibirem seus trabalhos, promovendo o diálogo cultural e a colaboração na indústria cinematográfica. Exposições de arte, concertos e feiras de livros também são promovidos para que o público em geral possa ter contato com as diversas expressões artísticas e culturais do grupo. Esses eventos não apenas enriquecem a vida cultural dos países, mas também servem como ferramentas de diplomacia pública, construindo pontes entre as sociedades e aumentando a visibilidade global de cada cultura. A valorização da herança cultural de cada nação é uma prioridade, incentivando a criatividade e a inovação artística.

Na área educacional, o BRICS busca promover o intercâmbio acadêmico, a colaboração em pesquisa e o desenvolvimento de programas de estudo conjuntos. Universidades e instituições de pesquisa dos países membros são incentivadas a estabelecer parcerias, facilitando a mobilidade de estudantes, professores e pesquisadores. A criação da Rede de Universidades BRICS (BRICS Network University) é um exemplo dessa iniciativa, visando fomentar a excelência acadêmica e a pesquisa colaborativa em áreas de interesse comum, como energias renováveis, segurança alimentar e estudos sobre o desenvolvimento. A cooperação educacional é vista como um investimento no capital humano e na capacidade de inovação dos países, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a formação de líderes que compreendam as complexidades do mundo.

O intercâmbio de jovens é outro componente vital da cooperação cultural e educacional. Programas de intercâmbio para jovens profissionais, estudantes e voluntários são incentivados para que as novas gerações possam aprender sobre as culturas e os sistemas sociais dos outros países do BRICS. Essa experiência direta é fundamental para construir laços pessoais e profissionais que podem sustentar a cooperação futura. A promoção do turismo entre os países membros também contribui para esse intercâmbio, permitindo que os cidadãos explorem as paisagens, as histórias e as tradições uns dos outros. A formação de uma “geração BRICS” que compreenda e valorize a diversidade do grupo é um objetivo de longo prazo, buscando uma conexão mais profunda entre as sociedades.

A lista a seguir destaca algumas das iniciativas e fóruns que promovem a cooperação cultural e educacional no âmbito do BRICS. Essas atividades demonstram o compromisso do bloco em construir uma base de entendimento mútuo e solidariedade que transcenda os interesses econômicos e políticos, fortalecendo os laços interpessoais e a identidade coletiva do BRICS. A cooperação nessa área é fundamental para consolidar a parceria e garantir sua longevidade e relevância no cenário global.

• Festival de Cinema BRICS.
• Rede de Universidades BRICS (BRICS Network University).
• Fórum de Jovens Diplomatas BRICS.
• Intercâmbio de estudantes e pesquisadores.
• Eventos culturais e exposições artísticas.
• Cooperação em turismo.
• Compartilhamento de melhores práticas em educação.

A promoção da cooperação cultural e educacional é um testemunho da visão holística do BRICS para a colaboração internacional. Ao investir na compreensão mútua e na construção de pontes entre suas sociedades, o bloco não apenas enriquece a vida de seus cidadãos, mas também fortalece a base de sua parceria intergovernamental. Essa dimensão de “soft power” é um complemento poderoso à cooperação econômica e política, assegurando que o BRICS continue a ser um fórum vibrante e relevante para a construção de um futuro mais conectado e harmonioso entre as nações.

Quais são os principais projetos de infraestrutura financiados pelo NDB?

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como o Banco dos BRICS, tem sido um motor fundamental para o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em seus países membros e, mais recentemente, em outras economias emergentes que aderiram à instituição. Desde o início de suas operações, o NDB tem priorizado investimentos que gerem um impacto significativo no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida e na transição para uma economia mais verde. Os projetos são cuidadosamente selecionados para garantir sua viabilidade, sustentabilidade ambiental e social, e alinhamento com as prioridades de desenvolvimento dos países. A diversidade de investimentos reflete as necessidades específicas de cada nação e a visão abrangente do banco para o desenvolvimento.

No setor de energia, o NDB tem financiado extensivamente projetos de energia renovável, como usinas solares e eólicas, e iniciativas de eficiência energética. Na Índia, por exemplo, o banco apoiou projetos de grande escala para a instalação de capacidade solar, contribuindo para a meta do país de aumentar sua matriz energética limpa. No Brasil, foram financiadas linhas de transmissão e projetos de energia eólica. Esses investimentos são cruciais para a descarbonização das economias do BRICS e para o cumprimento de suas metas climáticas. A ênfase na energia limpa demonstra o compromisso do NDB com a sustentabilidade ambiental e a criação de uma infraestrutura resiliente às mudanças climáticas, alinhando-se com as discussões globais sobre a transição energética.

O setor de transporte e logística é outra área chave de investimento do NDB, visando melhorar a conectividade e a eficiência da movimentação de pessoas e mercadorias. Projetos incluem a modernização de ferrovias na Rússia, a expansão de sistemas de metrô em grandes cidades chinesas, e o desenvolvimento de infraestrutura portuária na África do Sul. Esses investimentos facilitam o comércio, reduzem os custos de transporte e melhoram o acesso a mercados e serviços para as populações. A construção de uma infraestrutura de transporte moderna e integrada é fundamental para o crescimento econômico e para a competitividade das economias do BRICS no cenário global, promovendo uma maior integração entre os membros e com o resto do mundo.

Em relação à infraestrutura hídrica e saneamento, o NDB tem apoiado projetos para garantir o acesso à água potável e a sistemas de esgoto adequados, essenciais para a saúde pública e a qualidade de vida. Na África do Sul, por exemplo, o banco financiou projetos para melhorar a gestão de recursos hídricos e o saneamento em áreas urbanas. Essas iniciativas contribuem para a resiliência hídrica e para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados à água e saneamento. A gestão sustentável dos recursos hídricos é uma prioridade, especialmente em regiões que enfrentam escassez ou que são vulneráveis às secas. Os investimentos buscam garantir a segurança hídrica de comunidades e cidades.

A tabela a seguir apresenta exemplos de projetos emblemáticos financiados pelo NDB, ilustrando a diversidade de setores e a abrangência geográfica de suas operações. A atuação do NDB demonstra a capacidade do BRICS de traduzir suas aspirações em ações concretas, contribuindo para o desenvolvimento de infraestruturas modernas e sustentáveis que são essenciais para o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida em seus países membros e além. A capacidade de financiamento do banco é um reflexo do compromisso do BRICS em construir um futuro mais próspero e equitativo para o Sul Global.

A expansão geográfica dos projetos do NDB para países não-BRICS que se tornaram membros da instituição reflete a sua crescente relevância como uma alternativa às fontes tradicionais de financiamento multilateral. O NDB não apenas injeta capital em projetos essenciais, mas também promove a partilha de conhecimentos e a implementação de melhores práticas em desenvolvimento sustentável. A sua atuação demonstra a capacidade do BRICS de criar e operar instituições financeiras robustas que atendam às necessidades das economias emergentes, solidificando seu papel na arquitetura financeira global e impulsionando um crescimento mais inclusivo.

Como o BRICS se posiciona em relação às sanções econômicas?

A posição do BRICS em relação às sanções econômicas é uma das áreas mais sensíveis e críticas de sua agenda geopolítica, refletindo uma forte oposição a medidas coercitivas unilaterais e um compromisso com o multilateralismo e a soberania nacional. Os membros do BRICS, em suas declarações conjuntas, frequentemente expressam sua preocupação com o uso de sanções econômicas como ferramentas de política externa, especialmente quando estas não são endossadas pelo Conselho de Segurança da ONU. Eles argumentam que tais medidas podem ter impactos negativos desproporcionais sobre a população civil, desestabilizar o comércio global e prejudicar o desenvolvimento econômico dos países afetados. Essa postura é um reflexo direto da experiência de alguns membros do bloco, ou de seus parceiros, que foram ou são alvo de sanções ocidentais, promovendo a busca por mecanismos de resiliência.

A Rússia, em particular, tem sido alvo de extensas sanções econômicas por parte de países ocidentais, o que tem intensificado sua busca por alternativas ao sistema financeiro dominado pelo dólar. A China, embora não diretamente sob o mesmo nível de sanções, tem visto o uso de medidas coercitivas contra seus setores de tecnologia e empresas específicas. Essa experiência compartilhada tem impulsionado a agenda de desdolarização dentro do BRICS e a busca por sistemas de pagamento e comércio que sejam imunes a tais pressões externas. A cooperação para construir mecanismos de resiliência a sanções inclui a promoção do comércio em moedas locais e a exploração de canais financeiros alternativos, visando reduzir a vulnerabilidade a medidas unilaterais e garantir a continuidade das transações. A solidariedade entre os membros sobre esta questão é uma demonstração de uma preocupação estratégica compartilhada.

A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do Arranjo de Reserva de Contingência (CRA) pode ser vista, em parte, como uma resposta à necessidade de os países do BRICS terem suas próprias instituições financeiras que não estejam sujeitas às pressões políticas de potências externas. Ao oferecer financiamento e apoio de liquidez sem as condicionalidades frequentemente associadas às instituições tradicionais, o NDB e o CRA fornecem uma rede de segurança alternativa. Essa autonomia financeira é crucial para os membros que buscam desenvolver suas economias sem estar sob a ameaça de medidas punitivas que possam interromper o acesso a mercados financeiros ou a tecnologias essenciais. A capacidade de financiar projetos em moedas locais também minimiza os riscos decorrentes de flutuações do dólar ou de restrições de acesso a ele.

A expansão do BRICS com a inclusão de países como Irã, que está sob sanções extensivas, e Arábia Saudita, que busca maior autonomia estratégica, reforça a posição do bloco contra as sanções unilaterais. Essa diversificação dos membros para incluir nações com experiências variadas em relação a essas medidas demonstra um compromisso com uma abordagem mais cooperativa e menos coercitiva nas relações internacionais. A união de países que buscam maior soberania econômica e que defendem o multilateralismo como o caminho para a resolução de disputas internacionais solidifica a postura do BRICS contra o uso de sanções como arma de política externa, e promove uma visão alternativa de relações globais.

O BRICS defende que as disputas internacionais devem ser resolvidas através do diálogo e da diplomacia, em conformidade com o direito internacional e os princípios da Carta da ONU. Eles argumentam que as sanções unilaterais minam a autoridade do multilateralismo e podem exacerbar tensões globais, ao invés de resolvê-las. A busca por um sistema internacional mais justo e equitativo implica em um questionamento do uso de ferramentas que um pequeno grupo de países pode usar para impor sua vontade sobre outros. Essa defesa do direito internacional e do multilateralismo é uma constante nas declarações do BRICS, refletindo uma visão compartilhada de governança global. O bloco continuará a explorar formas de proteger seus membros e parceiros de pressões econômicas externas, reforçando sua resiliência coletiva.

A posição do BRICS em relação às sanções econômicas é de oposição às medidas unilaterais e de defesa de um sistema internacional baseado em regras e no multilateralismo. Essa postura não apenas reflete os interesses de seus membros, mas também se alinha com uma visão mais ampla de uma ordem mundial multipolar, onde o uso de ferramentas coercitivas é limitado e a cooperação é priorizada. O fortalecimento de suas próprias instituições financeiras e a busca por alternativas ao sistema dominado pelo dólar são manifestações práticas dessa posição, buscando construir uma maior autonomia estratégica e econômica para seus membros e para o Sul Global como um todo.

Qual a perspectiva futura do BRICS na ordem mundial?

A perspectiva futura do BRICS na ordem mundial aponta para um papel cada vez mais proeminente e influente, impulsionado por sua contínua expansão, o aprofundamento de suas instituições e a crescente demanda por uma governança global mais representativa. O bloco, que agora conta com dez membros, está posicionado para ser um dos principais arquitetos de uma ordem multipolar, desafiando o modelo unipolar ou bipolar que dominou as últimas décadas. A sua capacidade de atrair novas nações, tanto para a adesão plena quanto para formatos de cooperação como o “BRICS+”, demonstra um apelo crescente e a percepção de que o grupo oferece uma plataforma vital para países do Sul Global expressarem suas prioridades e aspirações. A continuidade da coordenação entre seus diversos membros será fundamental para a sua eficácia e relevância.

A expansão da agenda do BRICS para além das questões puramente econômicas, englobando segurança, desenvolvimento sustentável, cultura e inovação, indica uma consolidação de seu papel como um fórum abrangente para a cooperação internacional. Essa amplitude permite que o bloco aborde os desafios globais de forma mais holística, propondo soluções que considerem as complexas interconexões entre diferentes setores. A cooperação em áreas como inteligência artificial, energia limpa e saúde pública é um indicativo do desejo do BRICS de ser um líder em tecnologias do futuro e na promoção de soluções inovadoras para o bem-estar global. A crescente interligação entre as economias e sociedades dos membros promete um futuro de maior integração e oportunidades compartilhadas.

O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) continuará a ser uma instituição central para a projeção da influência do BRICS, oferecendo financiamento alternativo para projetos cruciais de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. A capacidade do NDB de operar em moedas locais e de atrair novos membros fortalece sua posição como um pilar da arquitetura financeira global, complementando e, em alguns casos, desafiando instituições financeiras tradicionais. A sua crescente carteira de projetos e o seu foco em prioridades do Sul Global, como a resiliência climática e a infraestrutura digital, cimentam a sua relevância. O NDB, ao continuar a crescer e a diversificar sua base de membros e suas operações, ampliará ainda mais o poder de atração do BRICS e a sua capacidade de influenciar o desenvolvimento em escala global.

A busca pela desdolarização, embora um objetivo de longo prazo e complexo, é uma tendência que o BRICS continuará a impulsionar, com implicações significativas para o sistema financeiro global. O aumento do comércio em moedas locais e a exploração de alternativas para liquidações internacionais são passos graduais, mas constantes, em direção a um sistema monetário mais diversificado. A inclusão de grandes produtores de energia como Arábia Saudita e Irã fortalece a possibilidade de um maior volume de comércio de commodities ser liquidado fora do dólar, acelerando potencialmente essa transição. A capacidade do BRICS de fornecer alternativas viáveis e seguras para transações financeiras internacionais será um fator determinante para a velocidade e a magnitude da mudança na ordem monetária global.

A tabela a seguir apresenta cenários e tendências que podem moldar a perspectiva futura do BRICS, ilustrando a complexidade e a dinâmica de sua evolução. A adaptabilidade do bloco frente aos desafios internos e externos será crucial para sua capacidade de consolidar um papel de liderança em um mundo em constante mudança. A busca por um consenso entre as diversas nações que o compõem, enquanto se mantém fiel aos seus princípios de multipolaridade e cooperação inclusiva, é um esforço contínuo para moldar a ordem mundial vindoura e garantir um futuro mais equitativo para todos.

A perspectiva futura do BRICS é de um ator global cada vez mais assertivo, que busca reconfigurar as relações internacionais e a governança global em direção a um modelo mais distribuído e justo. A sua capacidade de crescer, inovar e coordenar posições em um mundo complexo será fundamental para determinar a extensão de sua influência. O BRICS não é apenas um grupo de economias em ascensão, mas uma força motriz para uma nova era de cooperação e uma ordem mundial mais equilibrada, onde diversas vozes e perspectivas moldam o futuro coletivo e as dinâmicas de poder.

Como o BRICS lida com a diversidade de regimes políticos de seus membros?

Lidar com a diversidade de regimes políticos é uma característica definidora e, por vezes, um desafio inerente ao funcionamento do BRICS. O bloco reúne uma gama notável de sistemas políticos: democracias vibrantes como Brasil, Índia e África do Sul; uma potência autocrática como a China; um regime híbrido como a Rússia; e, com a recente expansão, países com monarquias absolutas como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, e uma república islâmica como o Irã. Essa variedade, embora complexa, é gerenciada por meio de princípios como o respeito à soberania nacional, a não ingerência nos assuntos internos e a busca por consenso em vez de imposição. O foco em interesses comuns e benefícios mútuos permite que o grupo transcenda suas diferenças ideológicas e promova a cooperação pragmática. A ausência de uma estrutura rígida, como um tratado vinculante, permite a flexibilidade necessária para acomodar essa diversidade.

Ao invés de tentar harmonizar ou impor um único modelo político, o BRICS adota uma abordagem de “coexistência pacífica” e respeito às escolhas de desenvolvimento de cada país. As discussões dentro do bloco não se concentram em questões de governança interna, mas sim em tópicos de interesse global que afetam todos os membros, como a reforma da governança econômica, o desenvolvimento sustentável e a segurança internacional. Essa neutralidade em relação aos sistemas políticos internos permite que países com abordagens muito diferentes para a política interna colaborem eficazmente em arenas multilaterais. A premissa é que a soberania é primordial e que cada nação tem o direito de escolher seu próprio caminho de desenvolvimento, sem críticas ou interferências de outros membros. Essa abordagem se distingue de outros blocos que frequentemente baseiam a cooperação em valores políticos compartilhados.

A busca por consenso é um mecanismo crucial para lidar com a diversidade política. As decisões no BRICS são geralmente tomadas por consenso, o que significa que todos os membros devem concordar com uma determinada posição ou iniciativa. Embora isso possa tornar o processo de tomada de decisão mais lento e, por vezes, desafiador, garante que as ações do bloco reflitam os interesses e as prioridades de todos os envolvidos, independentemente de seu regime político. Esse processo de construção de consenso força os membros a encontrar um terreno comum e a fazer concessões, o que fortalece a legitimidade e a aceitação das decisões do grupo. A diplomacia paciente e a negociação contínua são essenciais para manter a unidade do bloco.

As assimetrias de poder, especialmente o peso econômico e político da China, são gerenciadas por meio de um esforço para garantir que a voz de todos os membros seja ouvida. A estrutura igualitária do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), onde cada membro fundador tem uma parcela igual de votos, é um exemplo de como o BRICS tenta mitigar essas assimetrias em suas instituições. As presidências rotativas das cúpulas anuais também garantem que cada país tenha a oportunidade de liderar a agenda e definir as prioridades do grupo por um período. Essa governança distribuída ajuda a contrabalançar as diferenças de tamanho e poder, promovendo um sentimento de igualdade e propriedade compartilhada entre os membros.

A tabela a seguir ilustra as diferentes formas de regimes políticos entre os membros do BRICS, demonstrando a complexidade da coexistência e a necessidade de princípios de cooperação baseados no respeito e na não ingerência. A capacidade do BRICS de navegar por essa diversidade e, ainda assim, encontrar áreas para a cooperação produtiva é uma de suas características mais notáveis, e um testemunho da sua vocação para um multilateralismo verdadeiramente inclusivo, que não exige uniformidade política para que a parceria seja eficaz.

A capacidade do BRICS de lidar com essa diversidade de regimes políticos é uma prova de sua abordagem pragmática e de seu compromisso com um modelo de cooperação internacional que não exige a convergência ideológica. Ao focar em interesses compartilhados e no respeito mútuo, o bloco consegue manter sua coesão e ampliar sua influência, demonstrando que a cooperação global eficaz pode florescer mesmo entre nações com sistemas internos profundamente distintos. Essa flexibilidade é, de fato, uma de suas grandes forças, permitindo que o BRICS continue a ser um fórum relevante para uma ampla gama de nações do Sul Global e que a diplomacia da diversidade prevaleça.

Qual o impacto do BRICS na balança comercial dos países membros?

O impacto do BRICS na balança comercial de seus países membros é um aspecto crucial de sua influência econômica global, impulsionado pela vastidão de seus mercados e pela crescente conectividade entre as economias do bloco. Embora o comércio intra-BRICS ainda represente uma parcela relativamente pequena do comércio total de cada membro, a tendência é de crescimento constante. O grupo, em sua essência, busca fortalecer as relações econômicas entre si, diminuindo a dependência de mercados tradicionais e diversificando as rotas comerciais. A complementariedade entre as economias, com alguns exportando commodities e outros produtos manufaturados e tecnologia, cria um potencial significativo para um aumento do intercâmbio comercial e para um equilíbrio mais justo nas relações comerciais globais.

Para o Brasil, membro original e uma das maiores economias agrícolas do mundo, o BRICS, especialmente a China, representa um mercado fundamental para suas commodities, como soja, minério de ferro e petróleo. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, e a demanda chinesa tem um impacto direto na balança comercial brasileira, muitas vezes contribuindo para superávits significativos. A Rússia também se beneficia da exportação de energia e outros recursos naturais para os parceiros do BRICS. Esses fluxos comerciais reforçam a importância de uma cooperação mais estreita e da busca por novos acordos comerciais que possam beneficiar a todos os membros, garantindo uma maior estabilidade e resiliência econômica frente às flutuações do mercado global. A diversificação de mercados de destino e origem é uma estratégia chave.

A Índia e a China, como grandes potências manufatureiras e de serviços, buscam acesso aos mercados uns dos outros, bem como aos mercados dos outros membros do BRICS para seus produtos e tecnologias. Embora a balança comercial entre Índia e China seja frequentemente desfavorável à Índia, impulsionada pelas importações de bens manufaturados chineses, o comércio dentro do BRICS oferece oportunidades para diversificar as exportações indianas para outros mercados como Brasil e Rússia. A África do Sul, por sua vez, atua como um hub para o comércio com o continente africano, facilitando o acesso dos produtos dos BRICS a novos mercados regionais e vice-versa. A promoção de cadeias de valor regionais e a redução de barreiras comerciais entre os membros são prioridades para impulsionar o volume de trocas. O fomento à cooperação empresarial e a organização de fóruns de negócios são instrumentos para atingir esses objetivos.

A recente expansão do BRICS com a inclusão de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã adiciona um novo e significativo componente à balança comercial, especialmente no setor de energia. Esses países são importantes exportadores de petróleo e gás, enquanto a China e a Índia são grandes importadores. Essa complementaridade energética pode levar a um aumento do comércio de petróleo e gás dentro do bloco, com potencial para ser liquidado em moedas locais, como parte dos esforços de desdolarização. Esse movimento poderia ter um impacto substancial nas balanças comerciais e nas reservas de divisas dos países envolvidos, além de consolidar a influência do BRICS nos mercados globais de commodities. A garantia de um suprimento energético estável e a preços razoáveis é uma preocupação fundamental para as economias importadoras.

A tabela a seguir apresenta dados simplificados do comércio intra-BRICS, demonstrando a evolução e o potencial de crescimento das relações comerciais entre os membros. Esses números ilustram o volume crescente de trocas e a busca por uma maior integração econômica entre as nações do bloco. O fortalecimento das relações comerciais internas contribui para a resiliência econômica do grupo frente a choques externos e para a construção de uma rede de interdependências que beneficia a todos. O objetivo é criar um mercado integrado que impulsione o crescimento e a prosperidade compartilhada, reduzindo a dependência de mercados tradicionais fora do bloco.

O impacto do BRICS na balança comercial de seus membros é um reflexo de sua estratégia mais ampla de construir uma ordem econômica global mais multipolar e interconectada. Ao fortalecer o comércio intra-bloco, os países do BRICS não apenas impulsionam seu próprio crescimento, mas também contribuem para uma maior diversificação das cadeias de suprimentos globais e para uma redução da dependência excessiva de mercados únicos. A promoção de um comércio mais equilibrado e justo é uma prioridade, garantindo que os benefícios da globalização sejam distribuídos de forma mais equitativa entre as nações, e que o comércio seja um motor de desenvolvimento para todos, solidificando a sua posição de força no comércio mundial.

Como o BRICS busca aprimorar a conectividade digital e tecnológica?

O aprimoramento da conectividade digital e tecnológica é uma área de crescente importância na agenda do BRICS, reconhecendo que a infraestrutura e a inovação digitais são cruciais para o desenvolvimento econômico, a inclusão social e a competitividade global. Os países do bloco, que incluem potências tecnológicas como China e Índia, buscam colaborar para fechar a lacuna digital, promover a pesquisa e o desenvolvimento em novas tecnologias e garantir um ciberespaço seguro e aberto. A cooperação nessa área visa criar um ambiente propício para a inovação, o intercâmbio de conhecimento e o desenvolvimento de soluções digitais que atendam às necessidades de suas vastas populações. A troca de expertise e a harmonização de regulamentações são consideradas essenciais para o avanço tecnológico compartilhado.

Um dos focos principais é o desenvolvimento de infraestrutura digital robusta, incluindo redes de banda larga de alta velocidade, centros de dados e conectividade via cabo submarino. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) já tem financiado projetos nesse setor, como a expansão de redes de fibra óptica em áreas rurais ou o desenvolvimento de infraestrutura de telecomunicações. A ideia é garantir que a maior parte da população do BRICS tenha acesso a serviços digitais de qualidade, impulsionando a inclusão digital e o desenvolvimento de economias digitais vibrantes. A colaboração em projetos de infraestrutura permite o compartilhamento de custos e de conhecimentos, acelerando a implementação de redes de última geração e garantindo a conectividade para o futuro.

A cooperação em ciência, tecnologia e inovação (CT&I) é outro pilar essencial. Os países do BRICS promovem a pesquisa conjunta em áreas de ponta, como inteligência artificial, big data, computação quântica e biotecnologia. A criação de plataformas para o compartilhamento de conhecimento e a colaboração entre instituições de pesquisa e empresas de tecnologia é incentivada. O objetivo é impulsionar a capacidade de inovação do bloco, gerar novas soluções para desafios comuns e posicionar o BRICS como um líder em tecnologias disruptivas. A partilha de experiências em políticas de inovação e o fomento a ecossistemas de startups são vistos como cruciais para a competitividade futura e para o avanço da economia do conhecimento.

A segurança cibernética é um tema recorrente nas discussões sobre conectividade digital. Os membros do BRICS buscam fortalecer a cooperação para combater ameaças cibernéticas, como crimes virtuais, ataques a infraestruturas críticas e espionagem cibernética. Eles defendem a criação de normas e princípios internacionais para o comportamento responsável no ciberespaço, com foco na soberania dos estados e na não interferência. A troca de informações sobre vulnerabilidades e a coordenação de respostas a incidentes são práticas que visam aumentar a resiliência cibernética dos países. Essa colaboração é fundamental para proteger a integridade das redes digitais e a confiança nas tecnologias que permeiam a vida moderna.

A promoção de plataformas digitais e a governança da internet também estão na pauta. O BRICS discute como garantir que a internet permaneça aberta, livre e global, ao mesmo tempo em que aborda questões como a privacidade de dados, o controle de conteúdo e a distribuição equitativa dos benefícios da economia digital. A busca por alternativas aos ecossistemas digitais dominados por empresas ocidentais, como o desenvolvimento de sistemas de pagamento e redes sociais locais, também faz parte da estratégia de aprimoramento da conectividade digital, visando maior autonomia e resiliência. A capacidade de construir ecossistemas digitais robustos e independentes é um objetivo estratégico para o futuro do bloco e sua influência global.

A lista a seguir destaca algumas das áreas chave e iniciativas que o BRICS tem empreendido para aprimorar sua conectividade digital e tecnológica. Esses esforços demonstram um reconhecimento da importância estratégica da tecnologia e da digitalização para o futuro de suas economias e sociedades, e o compromisso em colaborar para construir um futuro digital mais conectado, seguro e inovador, alinhado com as prioridades de desenvolvimento de cada membro e com a visão compartilhada de um futuro digital inclusivo e equitativo.

• Desenvolvimento de infraestrutura de banda larga e conectividade.
• Cooperação em pesquisa e desenvolvimento de inteligência artificial e big data.
• Compartilhamento de melhores práticas em políticas de inovação.
• Fortalecimento da cibersegurança e combate ao crime cibernético.
• Discussões sobre governança da internet e privacidade de dados.
• Fomento a ecossistemas de startups e inovação tecnológica.
• Apoio a projetos de infraestrutura digital pelo NDB.

O aprimoramento da conectividade digital e tecnológica é um campo dinâmico de cooperação para o BRICS, que busca alavancar o poder da tecnologia para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida de suas populações. Ao trabalhar em conjunto para construir infraestruturas digitais robustas, fomentar a inovação e garantir a segurança do ciberespaço, o BRICS fortalece sua posição na economia global e contribui para um futuro digital mais inclusivo e resiliente. A contínua evolução nessa área é fundamental para a competitividade do bloco e para a sua capacidade de moldar a quarta revolução industrial, garantindo que os benefícios da digitalização sejam amplamente compartilhados entre seus membros.

Quais são as críticas mais comuns dirigidas ao bloco BRICS?

Apesar de sua crescente importância e aspirações, o bloco BRICS não está isento de críticas e ceticismo, tanto de analistas externos quanto, ocasionalmente, de vozes internas. Uma das críticas mais comuns reside na heterogeneidade fundamental de seus membros. A falta de homogeneidade em termos de sistemas políticos (democracias vs. regimes autoritários), níveis de desenvolvimento econômico (China como gigante vs. África do Sul como economia menor) e interesses estratégicos é frequentemente apontada como um fator que limita a capacidade do grupo de agir de forma coesa e eficaz. Essa diversidade, embora celebrada como uma força, também pode ser vista como uma fonte de divergências, dificultando a formulação de políticas conjuntas e a implementação de iniciativas ambiciosas, levando a um ritmo de integração que pode ser considerado lento ou inconsistente.

Outra crítica frequente concerne à ausência de uma estrutura institucional rígida, como um secretariado permanente ou um tratado vinculante. Embora essa flexibilidade seja vista por alguns como uma vantagem que permite adaptabilidade, outros argumentam que ela resulta em uma coordenação mais frouxa e uma dependência excessiva das presidências rotativas, o que pode levar à descontinuidade de projetos. A falta de um mecanismo formal para a resolução de disputas internas entre os membros, como as tensões geopolíticas entre Índia e China, também é apontada como uma fraqueza que pode minar a unidade do bloco em momentos de crise. A natureza informal do grupo pode dificultar a tradução de intenções em ações concretas e duradouras, tornando o progresso percebido como fragmentado ou lento.

A assimetria de poder dentro do BRICS, com a China emergindo como a maior economia e um ator dominante, é uma fonte de preocupação para alguns. Críticos argumentam que a agenda do BRICS pode ser excessivamente influenciada pelos interesses de Pequim, em detrimento dos outros membros, que podem se sentir em uma posição subordinada. Embora a China frequentemente afirme sua adesão aos princípios de igualdade e consenso, a realidade de seu peso econômico e político é inegável e pode gerar apreensão sobre uma possível “sinicização” do bloco. Essa percepção pode afetar a vontade de outros membros de aprofundar certas formas de cooperação, caso sintam que seus interesses nacionais não estão sendo suficientemente representados ou que o equilíbrio de poder está se inclinando demais em favor de um único participante.

O impacto do BRICS na governança global também é alvo de questionamentos. Apesar de suas declarações em favor de um multilateralismo mais justo, alguns críticos argumentam que o bloco não tem sido suficientemente eficaz na reforma das instituições globais ou na apresentação de alternativas concretas e amplamente aceitas. A busca pela desdolarização, por exemplo, é vista por céticos como um objetivo extremamente ambicioso, mas com progresso muito lento e com desafios práticos imensos. A falta de uma voz unificada em todas as questões internacionais e a complexidade de coordenar dez países com interesses diversos podem limitar a capacidade do BRICS de ser um “contrapeso” verdadeiramente efetivo às potências tradicionais. A ausência de um plano de ação detalhado para reformas específicas e a dificuldade em construir consenso em temas controversos são frequentemente mencionadas como obstáculos à sua influência reformista.

A lista a seguir resume as críticas mais comuns dirigidas ao BRICS, oferecendo uma perspectiva equilibrada sobre os desafios que o bloco enfrenta em sua jornada para se consolidar como uma força influente na ordem mundial. Reconhecer essas críticas é fundamental para uma compreensão completa das complexidades e limitações do BRICS, bem como para avaliar sua capacidade de superá-las e continuar a moldar o futuro das relações internacionais e a governança global. A capacidade de autocrítica e adaptação será crucial para a longevidade e relevância do bloco.

• Heterogeneidade e diversidade de regimes políticos entre os membros.
• Assimetrias de poder, com a China exercendo uma grande influência.
• Falta de estrutura institucional formal e secretariado permanente.
• Lentidão na implementação de iniciativas e tomada de decisões por consenso.
• Divergências de interesses e tensões geopolíticas entre membros.
• Eficácia limitada na reforma das instituições de governança global.
• Ambições como a desdolarização vistas como difíceis de concretizar.
• Falta de uma identidade coesa ou visão estratégica totalmente unificada.

As críticas ao BRICS, embora válidas em muitos aspectos, também sublinham a magnitude do desafio que o bloco se propõe a enfrentar: reequilibrar o poder global e construir uma ordem mundial mais inclusiva e multipolar. A capacidade do BRICS de aprender com essas críticas, adaptar suas estratégias e aprofundar sua cooperação será determinante para sua trajetória futura. A sua persistência e o seu crescimento, apesar das dificuldades, sugerem que as motivações para a cooperação superam as diferenças internas, e que o grupo continuará a ser um ator relevante e dinâmico na arena internacional, buscando um caminho de desenvolvimento e influência próprio.

Bibliografia

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