Atentado na Maratona de Boston: o que foi, autores e caçada policial

O que foi o Atentado na Maratona de Boston de 2013?

O Atentado na Maratona de Boston, ocorrido em 15 de abril de 2013, foi um ataque terrorista que chocou os Estados Unidos e o mundo. Duas bombas de fabricação caseira explodiram quase simultaneamente perto da linha de chegada da tradicional Maratona de Boston, um evento que anualmente atrai centenas de milhares de espectadores e corredores. O ataque transformou um dia de celebração atlética em um cenário de caos e horror, com a detonação das cargas explosivas causando ferimentos graves e mortes entre a multidão que se aglomerava para testemunhar o fim da corrida. O impacto inicial foi de uma confusão aterrorizante, com fumaça e destroços preenchendo o ar, e gritos de dor ecoando pela Boylston Street.

As explosões ocorreram com uma diferença de apenas 12 segundos entre si, a primeira às 14h49min, no lado norte da Boylston Street, e a segunda a um quarteirão de distância, no lado sul. Essas bombas, posteriormente identificadas como dispositivos improvisados de panela de pressão, foram projetadas para maximizar o dano, repletas de estilhaços como pregos e esferas de rolamento. A intenção de seus perpetradores era causar não apenas morte e ferimento, mas também um pânico generalizado e um sentimento de vulnerabilidade em um dos maiores eventos esportivos do país. A natureza pública e aberta do evento, sem barreiras de segurança massivas, facilitou a colocação dos artefatos explosivos pelos terroristas.

O ataque resultou na morte de três pessoas inocentes na hora das explosões e feriu outras 264, muitas das quais sofreram amputações de membros e lesões permanentes devido aos estilhaços. As vítimas variavam de crianças a idosos, refletindo a diversidade do público presente. A resposta imediata da população de Boston, dos primeiros socorros e dos civis que correram para ajudar os feridos, foi um testemunho notável de resiliência e solidariedade em face da adversidade. Corredores que haviam acabado de cruzar a linha de chegada, ou que estavam prestes a fazê-lo, viraram-se para oferecer assistência, evidenciando a coragem de muitos diante do terror.

Este ato de terrorismo foi um dos mais significativos em solo americano desde os ataques de 11 de setembro de 2001, não pela escala, mas pela audácia e pelo impacto psicológico que gerou. Ele desencadeou uma das maiores e mais intensas caçadas humanas da história recente dos EUA, envolvendo milhares de agentes federais e locais, e mobilizando a população de Boston em um esforço conjunto para identificar e capturar os responsáveis. A Maratona de Boston, um evento com mais de cem anos de tradição, tornou-se, a partir daquele dia, um símbolo não apenas de superação atlética, mas também da luta contra o terrorismo e da força comunitária.

Qual era o contexto e o cenário do evento antes do ataque?

A Maratona de Boston é um dos eventos esportivos anuais mais antigos e prestigiados do mundo, realizada desde 1897 no dia do Patriots’ Day, um feriado estadual em Massachusetts que comemora as primeiras batalhas da Guerra Revolucionária Americana. Em 2013, a maratona estava em sua 117ª edição e esperava-se que atraísse um público recorde de mais de meio milhão de espectadores e aproximadamente 27.000 corredores de todas as partes do globo. A atmosfera na Boylston Street, onde fica a linha de chegada, era de festa e euforia, com multidões vibrando e aplaudindo os corredores que finalizavam a árdua prova de 42,195 quilômetros.

A segurança em grandes eventos como a Maratona de Boston sempre foi uma preocupação, mas o foco principal estava na gestão de multidões e na saúde dos atletas, em vez de uma ameaça terrorista de grande escala. Embora houvesse oficiais de polícia, equipes médicas e voluntários ao longo do percurso, a natureza aberta da corrida tornava praticamente impossível inspecionar cada pessoa ou mochila presente. A ideia de que um ataque de bomba poderia ocorrer em um dia de celebração pacífica parecia remota e impensável para a maioria dos participantes e espectadores. A cidade de Boston estava imersa em um clima de primavera, com o sol brilhando e as pessoas desfrutando do feriado.

Milhares de famílias e amigos se reuniram ao longo da rota da maratona, especialmente nos últimos quilômetros da Boylston Street, para torcer pelos corredores. Bancos, restaurantes e lojas nas proximidades estavam cheios, com muitas pessoas assistindo à corrida de suas janelas ou calçadas. A área da linha de chegada era particularmente densa, com barreiras de segurança leves para separar os espectadores da pista de corrida, mas permitindo uma proximidade que os perpetradores explorariam. O som das palmas, da música e dos anúncios do alto-falante criava um ambiente vibrante e ensurdecedor, característico de um grande festival.

O dia 15 de abril de 2013 era um dia típico de maratona em Boston: uma convergência de atletismo, comunidade e tradição. Ninguém poderia prever que esse dia de alegria seria abruptamente interrompido por atos de violência intencional. O evento era um símbolo da liberdade de reunião e da capacidade humana de superação, valores que os terroristas procuraram atacar. O contexto de celebração e a ausência de um estado de alerta de segurança extremo, diferente dos anos pós-11 de setembro, contribuíram para a vulnerabilidade percebida do evento no momento do ataque.

Como os explosivos foram fabricados e transportados?

As bombas utilizadas no Atentado na Maratona de Boston eram dispositivos improvisados de panela de pressão (IEDs), uma técnica rudimentar, mas perigosamente eficaz, frequentemente associada a grupos terroristas e insurgentes. Os irmãos Tsarnaev, Tamerlan e Dzhokhar, aprenderam a construir esses artefatos através de instruções facilmente encontráveis online, especificamente na revista digital da Al-Qaeda, Inspire. A fabricação ocorreu na residência dos irmãos em Cambridge, Massachusetts, em relativa discrição, utilizando materiais acessíveis que não levantariam suspeitas excessivas em uma compra individual.

Os componentes principais das bombas incluíam panelas de pressão domésticas, das marcas Fagor e Presto, que serviam como invólucros para a carga explosiva. Dentro das panelas, eles inseriram uma mistura de pólvora negra extraída de fogos de artifício e outros produtos químicos. Para maximizar o dano, as bombas foram recheadas com estilhaços diversos, como pregos, esferas de rolamento e pedaços de metal, que se transformariam em projéteis mortais após a detonação. A escolha desses materiais e a forma como foram dispostos demonstravam uma clara intenção de causar o maior número possível de ferimentos graves e mortes.

A detonação dos artefatos foi planejada para ser controlada remotamente, utilizando temporizadores e sistemas de ignição que não foram totalmente detalhados no julgamento público, mas que eram consistentes com as instruções obtidas online. A simplicidade dos dispositivos contrastava com o efeito devastador que produziram. O processo de fabricação não exigiu conhecimentos avançados em explosivos, mas sim meticulosa atenção aos detalhes e uma determinação sinistra para causar dano, o que tornou a detecção prévia por parte das autoridades extremamente difícil, já que os componentes eram commodities comuns.

No dia do ataque, os irmãos Tsarnaev transportaram as bombas em mochilas escuras e discretas, misturando-se à multidão de espectadores ao longo da Boylston Street. Eles posicionaram uma das mochilas perto da linha de chegada, ao lado de um marco, e a outra a cerca de 180 metros de distância, estrategicamente dispostas para atingir um grande número de pessoas. A facilidade com que conseguiram carregar e depositar os artefatos em meio à celebração ressaltou a vulnerabilidade inerente a eventos públicos de grande escala, onde a segurança ostensiva é frequentemente minimizada para preservar a atmosfera de liberdade e acessibilidade.

Quais foram os momentos críticos do ataque e as vítimas?

Os momentos críticos do Atentado na Maratona de Boston se concentraram em um breve intervalo de tempo na tarde de 15 de abril de 2013, que se tornou um ponto de inflexão na história da cidade. Às 14h49min e 43 segundos, a primeira bomba explodiu no lado norte da Boylston Street, em frente à loja de artigos esportivos Marathon Sports. O estrondo ensurdecedor e a fumaça ascendente foram os primeiros sinais para a maioria das pessoas de que algo terrivelmente errado havia acontecido. O local da explosão era densamente povoado por espectadores, muitos deles crianças e idosos, que aguardavam a chegada de seus entes queridos.

Apenas 12 segundos depois, às 14h49min e 55 segundos, a segunda bomba detonou a cerca de 180 metros da primeira, no lado sul da Boylston Street, perto do restaurante Forum. Essa segunda explosão amplificou o pânico, dissipando qualquer dúvida de que se tratava de um acidente. O cenário imediatamente após as detonações foi de caos absoluto: pessoas correndo em pânico, corpos no chão, gritos de dor e confusão, e uma névoa de fumaça misturada com o cheiro de pólvora. As equipes de emergência e até mesmo os próprios corredores e espectadores começaram a prestar socorro, muitos deles usando suas próprias roupas como torniquetes improvisados.

O ataque ceifou a vida de três pessoas no local das explosões: Krystle Campbell, de 29 anos, gerente de restaurante de Medford, Massachusetts; Lu Lingzi, de 23 anos, estudante de pós-graduação chinesa da Universidade de Boston; e Martin Richard, de apenas 8 anos de idade, de Dorchester, Massachusetts, que estava com sua família assistindo à maratona. A morte de uma criança pequena, em particular, ressaltou a barbárie do ato e a vulnerabilidade dos inocentes. As imagens de Martin segurando um cartaz pedindo paz se tornaram um símbolo comovente da tragédia.

Além das vidas perdidas, o ataque deixou 264 feridos, com a maioria sofrendo lesões traumáticas severas devido aos estilhaços e à força das explosões. Pelo menos 17 pessoas tiveram membros amputados, incluindo a própria mãe de Martin Richard, que perdeu uma perna. Muitos outros sofreram fraturas ósseas múltiplas, lesões cerebrais traumáticas, perfurações por estilhaços e queimaduras graves. Os hospitais de Boston, incluindo o Massachusetts General Hospital e o Boston Medical Center, foram sobrecarregados com a afluência de vítimas, demonstrando uma capacidade extraordinária de resposta em uma situação de crise sem precedentes. A rapidez e a eficácia do atendimento médico foram cruciais para a sobrevivência de muitas das vítimas.

Como a resposta de emergência inicial foi coordenada?

A resposta de emergência inicial ao Atentado na Maratona de Boston foi caracterizada por uma velocidade e coordenação impressionantes, que foram cruciais para salvar inúmeras vidas. Em questão de minutos após as explosões, equipes de primeiros socorros, incluindo policiais, bombeiros e paramédicos que já estavam no local devido à maratona, correram em direção ao perigo em vez de se afastar. Eles foram rapidamente acompanhados por civis, corredores e voluntários que, apesar do pânico, se jogaram para ajudar os feridos, improvisando torniquetes e auxiliando na evacuação das vítimas. A bravura e o altruísmo demonstrados por tantos indivíduos foram imediatamente evidentes.

A comunicação entre as diversas agências foi estabelecida quase que imediatamente. A polícia de Boston, o Corpo de Bombeiros de Boston e os Serviços Médicos de Emergência (EMS) de Boston ativaram seus planos de resposta a desastres em grande escala. O Centro de Operações de Emergência da cidade foi acionado, e hospitais da região foram notificados para se prepararem para uma afluxo massivo de pacientes com ferimentos traumáticos. Os médicos e enfermeiros, que estavam de plantão ou foram chamados de casa, responderam com uma mobilização sem precedentes, demonstrando a prontidão do sistema de saúde de Boston.

A área foi rapidamente isolada, e um perímetro de segurança foi estabelecido para proteger a cena do crime e permitir que as equipes de resgate trabalhassem. Milhares de espectadores e corredores foram desviados para rotas alternativas, enquanto os veículos de emergência se aglomeravam na Boylston Street. A coordenação logística para transportar os feridos, alguns em estado crítico, para vários hospitais da cidade foi um desafio monumental que foi superado com notável eficiência. Ambulâncias, veículos policiais e até mesmo táxis foram usados para levar as vítimas aos centros médicos.

A resposta não se limitou apenas ao atendimento médico e à segurança. A polícia e o FBI rapidamente iniciaram a coleta de evidências na cena do crime, enquanto a Guarda Nacional de Massachusetts foi mobilizada para auxiliar na segurança e no controle de multidões. A cidade de Boston demonstrou uma capacidade notável de organização sob extrema pressão, um testemunho do treinamento e da dedicação de seus profissionais de emergência. A resposta inicial foi um dos poucos pontos positivos em um dia de tragédia, minimizando a perda de vidas e demonstrando a resiliência da comunidade diante de um ataque intencional.

Quem eram os irmãos Tsarnaev e qual era a sua origem?

Os autores do Atentado na Maratona de Boston eram os irmãos Tamerlan Tsarnaev e Dzhokhar Tsarnaev, de etnia chechena, que haviam imigrado para os Estados Unidos com sua família em 2002. Eles vieram da região do Cáucaso, um ponto geopolítico complexo com histórico de conflitos e extremismo islâmico, o que posteriormente geraria especulações sobre suas motivações. A família Tsarnaev inicialmente solicitou asilo nos EUA, alegando perseguição na Rússia, e acabou se estabelecendo em Cambridge, Massachusetts. Os irmãos, embora criados em um ambiente de imigrantes, tiveram experiências de vida bastante distintas que moldaram suas trajetórias.

Tamerlan, o irmão mais velho, nascido em 1986 no Quirguistão, era descrito por conhecidos como um boxeador amador promissor que chegou a sonhar com a representação dos EUA nas Olimpíadas. No entanto, sua vida tomou um rumo mais radical nos anos que antecederam o ataque. Ele demonstrou um crescente interesse pelo islamismo radical, frequentando mesquitas locais e se aprofundando em materiais extremistas online. Relatos indicavam que ele havia se tornado mais reservado e dogmático, o que preocupava alguns membros de sua família. Uma viagem à Rússia e ao Daguestão em 2012, onde passou seis meses, foi posteriormente investigada como um período de possível radicalização ou treinamento.

Dzhokhar, o irmão mais novo, nascido em 1993 também no Quirguistão, parecia ter uma vida mais integrada à cultura americana. Ele era um estudante universitário na University of Massachusetts Dartmouth, e muitos de seus amigos o descreviam como um jovem comum e sociável, interessado em esportes e música. Ele se formou no ensino médio na Cambridge Rindge and Latin School em 2011, onde era membro da equipe de luta livre, e demonstrava ser bem-sucedido e adaptado. A aparente normalidade de Dzhokhar contrastava drasticamente com a imagem que emergiu após o atentado, levantando questões sobre a extensão de sua radicalização e a influência de seu irmão mais velho.

A família Tsarnaev, composta pelos pais e os quatro filhos (dois irmãos e duas irmãs), enfrentou desafios típicos de imigrantes. O pai, Anzor Tsarnaev, era um ex-advogado e a mãe, Zubeidat Tsarnaeva, era esteticista. Ambos tinham histórico de problemas de saúde e financeiros. A dinâmica familiar, as tensões internas e a possível marginalização social podem ter contribuído para a espiral de radicalização de Tamerlan, que por sua vez, arrastou Dzhokhar para seu plano sinistro. A complexidade de suas origens e a falta de sinais claros para a maioria dos que os conheciam tornaram a compreensão de suas ações um desafio adicional para as autoridades e a sociedade.

Quais foram as motivações por trás do ataque, segundo os autores?

As motivações por trás do ataque de Boston, conforme revelado pelas investigações e pelo próprio Dzhokhar Tsarnaev, eram profundamente enraizadas em uma ideologia jihadista radical. Os irmãos Tsarnaev, especialmente Tamerlan, acreditavam estar agindo em nome do Islã, em retaliação ao que eles percebiam como agressões dos Estados Unidos contra muçulmanos em guerras no Iraque e no Afeganistão. Essa retórica de jihad global e vingança por supostas injustiças contra comunidades muçulmanas se tornou um tema central em sua radicalização, alimentada por conteúdos online e pela interpretação extremista de textos religiosos.

Tamerlan, o irmão mais velho e o principal mentor do plano, havia se aprofundado em materiais extremistas, incluindo vídeos e literatura da Al-Qaeda e de outros grupos terroristas. Ele absorveu a narrativa de que os muçulmanos estavam sendo oprimidos globalmente e que a jihad era a única resposta. Ele via a Maratona de Boston como um alvo simbólico, representando a liberdade e a cultura ocidental que ele passou a detestar. Sua crescente religiosidade se misturou a um sentimento de alienação e ressentimento, culminando na decisão de perpetrar um ato de terrorismo em solo americano.

Dzhokhar, por sua vez, admitiu que foi influenciado e arrastado para o plano por seu irmão mais velho. Ele afirmou que Tamerlan era o cérebro por trás da operação, e que ele mesmo, embora participante ativo, seguia as ordens do irmão. Após sua captura, Dzhokhar escreveu uma nota em um barco onde se escondia, afirmando que o ataque foi uma retribuição pelas guerras dos EUA em terras muçulmanas e que as vítimas americanas eram “danos colaterais”, assim como as vítimas muçulmanas eram consideradas “danos colaterais” em conflitos militares. Essa nota ofereceu uma visão direta das motivações, embora distorcidas, dos terroristas.

Apesar de algumas tentativas de defesa em atribuir as ações de Dzhokhar exclusivamente à influência de Tamerlan, o júri e os promotores determinaram que Dzhokhar era um participante voluntário e convicto do plano. As motivações, portanto, eram uma mistura complexa de extremismo religioso, ressentimento geopolítico e uma busca por notoriedade ou martírio, especialmente para Tamerlan. A ausência de uma afiliação direta com um grupo terrorista organizado, como Al-Qaeda ou Estado Islâmico (que não existia na forma atual em 2013), significava que eles eram “lobos solitários” ou, mais precisamente, um “par de lobos” radicalizados por conta própria, utilizando as ferramentas da internet para planejar e executar seu ataque.

Como a investigação inicial se desenrolou e quais foram as primeiras pistas?

A investigação inicial do Atentado na Maratona de Boston se desenrolou com uma rapidez e uma intensidade sem precedentes, envolvendo múltiplos níveis de agências de aplicação da lei. O Federal Bureau of Investigation (FBI) assumiu a liderança da investigação, designando-a como um ataque terrorista, e mobilizou uma equipe de centenas de agentes especializados em análise de cena de crime, explosivos, inteligência e análise forense. A área da Boylston Street foi imediatamente isolada e transformada em uma vasta cena de crime, meticulosamente examinada para qualquer vestígio ou pista que pudesse levar aos responsáveis.

As primeiras e mais cruciais pistas vieram diretamente da cena do crime. Os investigadores encontraram fragmentos de panela de pressão, pedaços de nylon preto que pareciam ser de mochilas, pregos, esferas de rolamento e até mesmo restos de fiação e circuitos eletrônicos. Esses detritos foram coletados e analisados por especialistas em explosivos, que rapidamente confirmaram que os dispositivos eram IEDs de panela de pressão, uma tática familiar de terroristas. A análise forense do tipo de estilhaços e da construção das bombas forneceu informações vitais sobre a natureza dos artefatos e a intenção dos perpetradores.

Uma das fontes mais valiosas de informação foi o vastíssimo material audiovisual disponível. Com a presença de centenas de milhares de pessoas na área da maratona, muitos celulares e câmeras de segurança capturaram imagens e vídeos dos momentos antes, durante e depois das explosões. O FBI emitiu um apelo público massivo para que qualquer pessoa com gravações as enviasse às autoridades. Essa colaboração da comunidade foi fundamental, gerando uma quantidade gigantesca de dados para serem revisados por analistas de vídeo, que buscavam por rostos, movimentos suspeitos ou objetos incomuns.

A combinação de evidências físicas da cena do crime com a análise forense digital de fotos e vídeos permitiu aos investigadores começar a construir um perfil dos suspeitos. Relatórios de testemunhas oculares, embora às vezes inconsistentes devido ao trauma e à confusão, também foram levados em consideração. A polícia e o FBI trabalharam dia e noite, vasculhando milhares de horas de filmagens, comparando imagens de pessoas com mochilas na cena do crime com a linha do tempo das explosões. Cada fragmento de informação foi considerado valioso, culminando na eventual identificação dos irmãos Tsarnaev como os principais suspeitos, uma reviravolta que marcou o início de uma caçada policial sem precedentes.

Qual foi o papel das câmeras de segurança na identificação dos suspeitos?

O papel das câmeras de segurança e do vasto material de vídeo enviado por civis foi absolutamente decisivo na identificação dos irmãos Tsarnaev como os principais suspeitos do Atentado na Maratona de Boston. Nos dias imediatamente após o ataque, o FBI e as agências locais de aplicação da lei montaram uma operação massiva de coleta e análise de vídeo. Milhares de horas de filmagens foram obtidas de câmeras de vigilância de empresas e prédios ao longo da Boylston Street, bem como de vídeos caseiros e fotos de celulares enviados pelo público. Essa montanha de dados se tornou a espinha dorsal da investigação.

Analistas de vídeo e especialistas em reconhecimento facial trabalharam incansavelmente, revisando cada quadro das gravações. Eles procuravam por indivíduos que se comportassem de maneira suspeita, que portassem mochilas incomuns ou que estivessem nas proximidades dos locais das explosões nos momentos críticos. A meticulosa análise de timelines e padrões de movimento permitiu que os investigadores filtrassem a multidão e se concentrassem em algumas figuras. Foi nesse processo que duas figuras, posteriormente identificadas como Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, começaram a se destacar por seu comportamento e pela presença de mochilas.

Em uma filmagem crucial de uma câmera de segurança de uma loja de artigos esportivos, Marathon Sports, próxima ao local da primeira explosão, foi possível observar Tamerlan Tsarnaev depositando uma mochila no chão e, subsequentemente, afastando-se do local antes da detonação. Outra filmagem, de uma câmera do restaurante Forum, capturou Dzhokhar Tsarnaev colocando sua mochila perto do local da segunda explosão e, em seguida, caminhando tranquilamente antes da detonação. Essas imagens de alta qualidade não apenas mostravam os irmãos, mas também revelavam o exato momento da colocação das bombas, fornecendo provas irrefutáveis de seu envolvimento.

Uma vez que os rostos dos suspeitos foram identificados nas filmagens, o FBI divulgou imagens de vigilância para o público em 18 de abril, cerca de 72 horas após o ataque, pedindo a colaboração da população para identificá-los. Essa divulgação estratégica foi um ponto de virada na investigação. Os suspeitos foram designados como “Suspeito 1” (Tamerlan) e “Suspeito 2” (Dzhokhar). A difusão das fotos levou a um reconhecimento quase imediato por parte de um ex-treinador de luta livre e de alguns colegas de faculdade de Dzhokhar, que entraram em contato com as autoridades. A tecnologia de vigilância e a colaboração pública foram, sem dúvida, os fatores mais importantes para desvendar a identidade dos terroristas.

Como a caçada policial se intensificou após a divulgação das imagens?

A caçada policial intensificou-se drasticamente e de forma dramática após a divulgação pública das imagens dos irmãos Tsarnaev pelo FBI na tarde de 18 de abril de 2013. Com os rostos dos suspeitos agora conhecidos, a pressão para localizá-los e prendê-los se tornou imensa. Milhares de agentes de diversas agências – incluindo o FBI, a Polícia Estadual de Massachusetts, a Polícia de Boston e outras agências locais – foram mobilizados em um esforço coordenado massivo. A informação das imagens se espalhou rapidamente pela mídia e redes sociais, transformando a busca em um assunto de segurança nacional e pânico generalizado.

Horas após a divulgação das fotos, já na noite de 18 de abril, os eventos tomaram um rumo violento e imprevisível. Os irmãos Tsarnaev, percebendo que suas identidades haviam sido reveladas, decidiram empreender uma fuga desesperada. Eles atacaram e mataram o oficial de segurança do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Sean Collier, de 27 anos, em Cambridge, em uma tentativa de roubar sua arma. Esse assassinato não apenas adicionou um novo crime hediondo ao seu histórico, mas também deu às autoridades uma nova e urgente pista sobre sua localização e a direção de sua fuga. A morte de Collier foi um momento sombrio que galvanizou ainda mais a resposta policial.

Logo após o assassinato do oficial Collier, os irmãos Tsarnaev sequestraram um motorista chinês, Dun Meng, em seu carro Mercedes-Benz em Brighton. Eles forçaram o motorista a levá-los a vários caixas eletrônicos para sacar dinheiro, e durante o sequestro, Dun Meng ouviu os irmãos discutindo o Atentado na Maratona de Boston e mencionando que eles tinham mais explosivos. Em um momento de descuido dos sequestradores, Meng conseguiu escapar em um posto de gasolina em Cambridge e imediatamente ligou para o 911, fornecendo detalhes cruciais sobre os criminosos, sua descrição, o carro roubado e a terrível confissão. Essa ligação foi o ponto de virada definitivo na caçada.

A informação de Dun Meng desencadeou uma perseguição de alta velocidade que levou as forças policiais a Watertown. O sequestro e a confissão de Meng confirmaram não apenas a identidade dos suspeitos, mas também a sua periculosidade extrema e a posse de mais armamento. A caçada se transformou de uma busca por imagens em uma perseguição em tempo real de terroristas armados e perigosos. A divulgação das imagens, que visava solicitar a ajuda pública, acabou por precipitar a fuga desesperada dos irmãos, culminando nos confrontos violentos que se seguiriam em Watertown e na eventual captura de Dzhokhar Tsarnaev.

Quais foram os eventos cruciais da perseguição em Watertown?

A perseguição em Watertown foi a sequência mais dramática e decisiva da caçada aos irmãos Tsarnaev, transformando a tranquila cidade suburbana em um campo de batalha na noite de 18 para 19 de abril de 2013. Após a fuga do motorista sequestrado, Dun Meng, e sua ligação para o 911, as informações sobre o Mercedes-Benz roubado foram rapidamente transmitidas às patrulhas policiais. Uma viatura da Polícia de Watertown avistou o carro, iniciando uma perseguição que culminou em um violento tiroteio e explosão na Laurel Street.

O confronto que se seguiu foi intenso e caótico. Os irmãos Tsarnaev, armados com pistolas e uma espingarda, dispararam contra os policiais. Tamerlan Tsarnaev, o irmão mais velho, chegou a arremessar uma das últimas bombas de panela de pressão que haviam fabricado contra os policiais, que, embora não tenha detonado com a força letal esperada, demonstrou a disposição dos terroristas de usar toda a sua capacidade de destruição. As ruas residenciais de Watertown foram tomadas por disparos e o som de sirenes, enquanto moradores eram instruídos a se abrigar.

No ápice do tiroteio, Tamerlan Tsarnaev ficou sem munição e tentou fugir a pé dos policiais. Durante a tentativa de fuga e o confronto físico, ele foi gravemente ferido por disparos e, posteriormente, atropelado pelo próprio irmão, Dzhokhar, que dirigia o Mercedes-Benz roubado em uma tentativa desesperada de escapar. Esse momento crucial resultou em Tamerlan sendo arrastado por alguns metros, sofrendo ferimentos fatais adicionais. A cena era de pura adrenalina e terror, com a polícia lutando para conter os criminososos e proteger suas próprias vidas.

Após atropelar Tamerlan, Dzhokhar Tsarnaev abandonou o carro e conseguiu escapar a pé, dando início a uma nova fase da caçada. Tamerlan foi capturado pela polícia em estado crítico e levado ao hospital, onde foi declarado morto pouco depois. A perseguição em Watertown, com seu tiroteio, explosão de bomba e o atropelamento fatal de um dos terroristas pelo próprio irmão, marcou o fim da linha para Tamerlan e consolidou a determinação das autoridades em encontrar Dzhokhar a todo custo. Os eventos de Watertown foram um ponto de inflexão que direcionou a operação de busca para a fase final.

Como Tamerlan Tsarnaev foi neutralizado e Dzhokhar fugiu?

A neutralização de Tamerlan Tsarnaev ocorreu durante o intenso confronto armado com a polícia na Laurel Street, em Watertown, na madrugada de 19 de abril de 2013. Após disparar contra os policiais e arremessar uma bomba de panela de pressão que não detonou completamente, Tamerlan ficou sem munição em sua pistola. Ele foi então derrubado e confrontado por vários policiais que tentavam algemá-lo. Durante a luta, Tamerlan foi atingido por múltiplos disparos e já estava gravemente ferido.

No clímax desse confronto, Dzhokhar Tsarnaev, que estava dirigindo o Mercedes-Benz roubado em uma tentativa de fuga, percebeu que seu irmão estava sendo detido pelos policiais. Em um ato desesperado, Dzhokhar acelerou o veículo em direção aos policiais e a Tamerlan, atropelando deliberadamente seu irmão e arrastando-o por uma curta distância antes de fugir do local. Esse ato, que chocou os investigadores, foi um elemento bizarro e brutal da noite, demonstrando a determinação de Dzhokhar em escapar a qualquer custo, mesmo que isso significasse passar por cima do próprio irmão já ferido.

Tamerlan foi imediatamente levado ao Beth Israel Deaconess Medical Center em Boston, onde chegou em estado crítico, sofrendo de ferimentos a bala e trauma severo de impacto. Apesar dos esforços dos médicos, ele foi declarado morto às 01h35 da manhã. A autópsia confirmou que a combinação de ferimentos a bala e o trauma causado pelo atropelamento foram fatais. A morte de Tamerlan Tsarnaev significou que um dos principais autores do atentado nunca enfrentaria a justiça em um tribunal, mas sua morte em um confronto com a polícia trouxe uma sensação de justiça imediata para as vítimas e para a comunidade.

Com Tamerlan neutralizado, a atenção total das forças policiais se voltou para Dzhokhar, que havia conseguido escapar do local do tiroteio a pé. A sua fuga desencadeou um bloqueio sem precedentes em Boston e nas áreas circundantes, com a imposição de um “shelter-in-place” (abrigo no local) para milhões de moradores. A caçada por Dzhokhar se tornou o foco principal, e a sua fuga, embora breve, alimentou um novo nível de tensão e medo na região, enquanto as autoridades vasculhavam cada rua e casa em busca do último suspeito.

Qual foi a busca final por Dzhokhar Tsarnaev e sua captura?

A busca final por Dzhokhar Tsarnaev foi uma operação maciça e sem precedentes que paralisou a cidade de Boston e seus subúrbios. Após sua fuga a pé do confronto em Watertown, as autoridades implementaram um bloqueio total em Boston e em várias comunidades vizinhas. Milhões de pessoas foram instruídas a permanecerem em suas casas, comércios fechados, transportes públicos suspensos e ruas desertas, criando uma atmosfera surreal de cidade fantasma. Agentes do FBI, policiais estaduais e locais, além da SWAT, vasculhavam casa por casa, rua por rua, em uma caçada intensa.

Durante o dia de 19 de abril, a tensão era palpável. Centenas de veículos blindados e oficiais armados podiam ser vistos patrulhando as ruas, e helicópteros sobrevoavam a área constantemente. A cada nova pista ou rumor, equipes eram despachadas, mas Dzhokhar parecia ter desaparecido. Ele conseguiu se esconder em um barco coberto no quintal de uma casa em Watertown, localizada na Franklin Street, a poucos quarteirões do local do tiroteio. O barco, de propriedade de um residente chamado David Henneberry, estava guardado sob uma lona, oferecendo um esconderijo improvável, mas eficaz por algumas horas.

A descoberta de Dzhokhar Tsarnaev ocorreu no final da tarde de 19 de abril, quando o bloqueio estava prestes a ser suspenso. David Henneberry, o proprietário do barco, saiu de sua casa para verificar sua propriedade após o bloqueio, e notou que a lona do barco estava solta e que havia manchas de sangue e movimento dentro. Ele rapidamente chamou a polícia, que respondeu em força total. O local foi cercado por uma enorme presença policial, com snipers em posições elevadas e agentes da SWAT preparando-se para o confronto.

Após horas de negociações e a utilização de granadas de concussão para desorientá-lo, Dzhokhar Tsarnaev foi finalmente apreendido. Ele estava gravemente ferido, com ferimentos na cabeça, pescoço, pernas e mão, provavelmente causados pelos disparos durante o tiroteio em Watertown e pelo impacto do barco. Sua captura, anunciada em um alívio coletivo pelos chefes de polícia de Boston e Watertown, marcou o fim de uma semana de terror e uma das maiores caçadas humanas da história recente dos EUA. A imagem de Dzhokhar sendo levado em uma ambulância se tornou um símbolo da vitória da lei e da ordem sobre o terror.

Como a comunidade de Boston reagiu à prisão dos suspeitos?

A comunidade de Boston reagiu à prisão de Dzhokhar Tsarnaev com uma onda avassaladora de alívio e celebração, que varreu a cidade após dias de medo, incerteza e luto. Quando a notícia de sua captura foi anunciada na noite de 19 de abril, moradores de Boston e Watertown saíram às ruas em massa, aplaudindo os policiais e gritando de alegria. Buzinas de carro soaram, sirenes de emergência foram ligadas em celebração, e as pessoas se abraçaram e choraram, expressando a libertação de uma tensão inimaginável. Essa reação espontânea demonstrou a profunda angústia que a cidade havia suportado.

A atmosfera de apreensão e paralisia que havia dominado Boston durante o bloqueio se transformou em uma catarse coletiva. Muitos compararam o momento ao de um feriado improvisado, com a sensação de que a vida poderia finalmente começar a voltar ao normal. A captura do último suspeito significou que a ameaça imediata havia sido neutralizada, permitindo que as pessoas respirassem aliviadas e começassem a processar o trauma dos dias anteriores. Essa reação de celebração não era de vingança, mas sim de alívio e reafirmação da segurança e da resiliência da comunidade.

Além do alívio, a prisão dos irmãos Tsarnaev também uniu a comunidade em um sentimento de orgulho e solidariedade. O lema “Boston Strong” (Boston Forte) emergiu como um grito de guerra, simbolizando a determinação da cidade em se recuperar do ataque e honrar as vítimas. A resposta heroica dos primeiros socorros, a solidariedade dos cidadãos e a eficiência das agências de aplicação da lei foram amplamente elogiadas. O espírito de colaboração e apoio mútuo que se manifestou durante e após a crise se tornou uma característica definidora da resposta de Boston.

No entanto, a prisão também abriu caminho para um período de luto e reflexão sobre as perdas e o impacto duradouro do terrorismo. Enquanto a cidade celebrava a captura, a dor pelas vidas perdidas e pelos ferimentos sofridos ainda era intensa. A comunidade de Boston demonstrou que, mesmo diante da adversidade mais sombria, sua força e união prevaleceriam. A reação à prisão dos suspeitos foi um testemunho da capacidade de uma cidade de se erguer após um ato de violência, transformando o trauma em um símbolo de resiliência e determinação.

Quais foram os processos legais e o julgamento de Dzhokhar Tsarnaev?

O processo legal contra Dzhokhar Tsarnaev foi um dos mais complexos e acompanhados da história jurídica americana, estendendo-se por quase dois anos após sua captura. Ele foi formalmente acusado em 22 de abril de 2013, ainda no hospital, de uso de arma de destruição em massa resultando em morte, e de vandalismo de propriedade usando explosivos resultando em morte, entre outras 30 acusações federais. A natureza dos crimes, que incluíam o assassinato de três pessoas na maratona e do oficial Sean Collier, além de dezenas de ferimentos graves, garantiu que o caso fosse tratado com a mais alta prioridade e atenção pública.

O julgamento de Dzhokhar Tsarnaev começou em 4 de março de 2015, no Tribunal Distrital dos EUA em Boston. A seleção do júri foi um processo longo e difícil, dada a notoriedade do caso e o impacto emocional na comunidade. A equipe de defesa de Tsarnaev, liderada pela renomada advogada Judy Clarke, que já havia defendido outros terroristas notórios, adotou uma estratégia de admitir a participação de Dzhokhar nos ataques, mas argumentar que ele estava sob a forte influência de seu irmão mais velho, Tamerlan. O objetivo era evitar a pena de morte, pintando Dzhokhar como um jovem passivo e manipulado.

A promotoria, por outro lado, apresentou um caso robusto, demonstrando que Dzhokhar Tsarnaev era um participante ativo e voluntário no complô, compartilhando a mesma ideologia radical de seu irmão. Eles exibiram evidências contundentes, como as imagens de vigilância dos irmãos plantando as bombas, o testemunho de vítimas e testemunhas oculares, e a nota escrita por Dzhokhar dentro do barco, que expressava suas motivações jihadistas. A promotoria enfatizou a brutalidade dos crimes e o sofrimento das vítimas, buscando a pena capital como a única punição justa.

Em 8 de abril de 2015, Dzhokhar Tsarnaev foi considerado culpado de todas as 30 acusações, incluindo 17 das quais eram passíveis de pena de morte. A fase de sentença, que determinaria se ele receberia a pena de morte ou prisão perpétua, começou em 21 de abril. Após intensos argumentos e testemunhos emocionantes de vítimas e familiares, o júri recomendou a pena de morte em 15 de maio de 2015, concluindo que as ações de Tsarnaev foram deliberadas, premeditadas e resultaram em terríveis consequências. Em 24 de junho de 2015, o juiz George A. O’Toole Jr. impôs formalmente a sentença de morte a Dzhokhar Tsarnaev, um veredicto que foi recebido com emoções mistas, mas que representou um desfecho judicial para as vítimas e para a nação.

Quais foram as consequências e o legado do atentado para Boston?

O Atentado na Maratona de Boston deixou consequências profundas e um legado duradouro para a cidade, transformando a paisagem emocional e física de Boston. A tragédia, embora devastadora, paradoxalmente reforçou o espírito de comunidade e a resiliência de seus cidadãos. O lema “Boston Strong” (Boston Forte) não foi apenas uma frase de efeito, mas uma manifestação tangível de solidariedade, que se viu em iniciativas de apoio às vítimas, em eventos de arrecadação de fundos e na determinação coletiva de não permitir que o terror vencesse. A cidade se uniu de uma maneira que antes não se imaginava possível.

A resposta imediata ao ataque consolidou Boston como um exemplo de excelência em resposta a emergências e medicina de trauma. A rápida e eficaz ação dos primeiros socorros, dos hospitais e de profissionais de saúde em toda a região salvou inúmeras vidas e se tornou um estudo de caso global. A colaboração entre agências de aplicação da lei, como o FBI e a polícia local, também foi elogiada por sua eficiência e coordenação na identificação e captura dos suspeitos. Essa experiência serviu como um modelo para outras cidades na preparação para eventos de grande escala e para a resposta a crises.

Em termos de memória e comemoração, Boston abraçou o legado das vítimas e a importância de lembrar o que aconteceu. Um memorial permanente foi erguido perto da linha de chegada na Boylston Street, com três monólitos de pedra para as vítimas e um monumento de granito menor para o oficial Sean Collier. A cada ano, no aniversário do ataque, a cidade realiza cerimônias solenes, incluindo um momento de silêncio, para honrar aqueles que foram mortos e feridos. A maratona em si se tornou um símbolo de superação e força, com medidas de segurança reforçadas, mas mantendo o espírito de celebração e competição.

O atentado também teve um impacto tangível na segurança de grandes eventos. A cidade de Boston, e outras grandes cidades, reavaliaram e fortaleceram seus protocolos de segurança para maratonas, desfiles e outras aglomerações públicas. Houve um aumento na vigilância por câmeras, um policiamento mais ostensivo e a implementação de barreiras mais robustas. Apesar das cicatrizes emocionais e físicas, Boston emergiu da tragédia com um senso renovado de identidade, orgulho e uma lembrança constante da importância da vigilância, da solidariedade e da resiliência humana.

Como a segurança de grandes eventos foi impactada após o ataque?

O Atentado na Maratona de Boston teve um impacto profundo e duradouro na forma como a segurança de grandes eventos públicos é planejada e implementada nos Estados Unidos e globalmente. Antes de 2013, a segurança em maratonas e outros eventos abertos era muitas vezes menos visível, focada principalmente no controle de multidões e na assistência médica. Após o ataque, houve uma reavaliação completa e imediata das vulnerabilidades e das melhores práticas para proteger aglomerações massivas. A necessidade de uma abordagem mais robusta e multicamadas tornou-se inegável.

Uma das mudanças mais visíveis foi o aumento significativo na presença policial e de segurança. Em maratonas e eventos de grande escala, é comum agora ver um número muito maior de oficiais uniformizados e à paisana, incluindo agentes de inteligência e cães farejadores de explosivos. Barreiras físicas mais robustas, como veículos e blocos de concreto, são frequentemente usadas para controlar o acesso e impedir a entrada de veículos em áreas de grande aglomeração. A visibilidade dessas medidas, embora possa diminuir ligeiramente a sensação de liberdade, visa dissuadir potenciais atacantes e proteger o público.

Além da presença física, houve um investimento substancial em tecnologias de vigilância e inteligência. O número de câmeras de segurança em locais públicos foi ampliado, e a capacidade de monitoramento em tempo real foi aprimorada, com centros de comando e controle que integram informações de diversas fontes. A análise de vídeo e o uso de software de reconhecimento facial tornaram-se ferramentas mais comuns para identificar comportamentos suspeitos. Há também um maior foco na coleta de informações de inteligência e na colaboração entre agências federais, estaduais e locais para identificar ameaças potenciais antes que elas se materializem.

Outra mudança significativa foi a implementação de revistas mais rigorosas de bolsas e mochilas em pontos de entrada designados, ou a proibição total desses itens em certas áreas. Essa medida visa impedir que explosivos ou outras armas sejam introduzidos nos locais do evento. A cooperação do público é cada vez mais incentivada, com campanhas como “Se Vir Algo, Diga Algo” (If You See Something, Say Something) ganhando mais destaque. Essas mudanças, embora impactem a experiência do público, são consideradas necessárias para garantir a segurança em um mundo onde a ameaça de ataques improvisados e de baixo custo continua presente, alterando a dinâmica de segurança em eventos que antes eram considerados de baixo risco.

Quais lições foram aprendidas pela aplicação da lei e inteligência?

As lições aprendidas pela aplicação da lei e pelas agências de inteligência após o Atentado na Maratona de Boston foram numerosas e impactantes, levando a uma reavaliação de estratégias e procedimentos em várias frentes. Uma das lições mais cruciais foi a necessidade de melhorar a comunicação e a coordenação entre agências federais, estaduais e locais. Embora a resposta à crise tenha sido elogiada, a fase de inteligência pré-ataque revelou lacunas na forma como informações sobre indivíduos potencialmente radicalizados eram compartilhadas e analisadas.

A questão da radicalização doméstica, e em particular o fenômeno dos “lobos solitários” ou “pares de lobos” que não têm conexões diretas com grandes organizações terroristas, tornou-se uma prioridade. As agências de inteligência perceberam que a ameaça poderia vir de indivíduos auto-radicalizados que consomem conteúdo extremista online. Isso levou a um maior foco na monitorização de atividades online suspeitas e na identificação de sinais de radicalização em comunidades, o que representa um desafio complexo devido a preocupações com a privacidade e as liberdades civis. A capacidade de discernir ameaças reais de simples expressão de opiniões extremistas se tornou um exercício delicado.

Outra lição importante foi a importância da análise de vídeo e forense digital em tempo real durante uma crise. As imagens de câmeras de segurança e as filmagens de civis foram absolutamente essenciais para identificar os Tsarnaev. Isso levou a investimentos em tecnologias mais avançadas de análise de vídeo, bem como no treinamento de pessoal para processar grandes volumes de dados visuais rapidamente. A capacidade de extrair pistas cruciais de uma vasta quantidade de informações se mostrou vital para o sucesso da investigação.

A experiência do Atentado de Boston também sublinhou a importância de envolver a comunidade na segurança. A campanha “If You See Something, Say Something” ganhou renovada urgência, e os cidadãos foram encorajados a estarem vigilantes e a relatar qualquer coisa suspeita. A preparação para a resposta a incidentes de massa, incluindo o treinamento de primeiros socorros para lidar com ferimentos traumáticos em grande escala, também foi aprimorada. Em resumo, o ataque serviu como um doloroso, mas essencial catalisador para uma abordagem mais abrangente e integrada da segurança nacional e da aplicação da lei, visando prevenir futuros atos de terrorismo.

Qual é o status atual de Dzhokhar Tsarnaev e o futuro do caso?

O status atual de Dzhokhar Tsarnaev é de condenado à morte e ele está detido em uma prisão de segurança máxima federal. Após ser condenado em 2015 por todas as 30 acusações federais, incluindo as 17 passíveis de pena de morte, e ter recebido formalmente a sentença de morte, Tsarnaev foi transferido para a Penitenciária de Segurança Máxima dos EUA em Florence, Colorado (conhecida como ADX Florence ou “Alcatraz das Montanhas Rochosas”). Esta é a prisão federal mais segura do país, projetada para conter os criminosos mais perigosos e os terroristas de alto perfil. Ele permanece em confinamento solitário a maior parte do tempo, sob condições de segurança extremamente rigorosas.

O futuro do caso de Dzhokhar Tsarnaev é dominado por um longo e complexo processo de apelações que é típico em casos de pena de morte nos Estados Unidos. A defesa de Tsarnaev tem esgotado todas as vias legais para tentar reverter sua condenação ou, pelo menos, sua sentença de morte. Eles argumentam que o julgamento foi injusto devido à notoriedade do caso em Boston e à recusa do tribunal em transferir o processo para outra cidade, o que, segundo eles, impossibilitou a formação de um júri imparcial. A defesa também tem levantado questões sobre a eficácia da assistência jurídica recebida por Tsarnaev durante o julgamento.

Em julho de 2020, o Tribunal de Apelações do Primeiro Circuito dos EUA anulou a sentença de morte de Tsarnaev, citando irregularidades na seleção do júri. A decisão gerou grande controvérsia e foi um grande alívio para a defesa, mas foi duramente criticada por promotores e familiares das vítimas. O tribunal ordenou uma nova fase de sentença para determinar se Tsarnaev deveria ser condenado à pena de morte ou à prisão perpétua sem liberdade condicional. Essa decisão, no entanto, não anulou as condenações de Tsarnaev, apenas a sentença de morte.

Posteriormente, em março de 2022, a Suprema Corte dos Estados Unidos restabeleceu a pena de morte para Dzhokhar Tsarnaev, revertendo a decisão do tribunal de apelações. A Suprema Corte concluiu que o juiz do julgamento original agiu dentro de sua discrição ao selecionar o júri. Essa decisão significou que a pena de morte foi reintegrada e que Tsarnaev permanece no corredor da morte. Apesar do restabelecimento, o processo de apelações pode continuar, pois a defesa pode buscar outros recursos e levantar novas questões em tribunais inferiores, tornando o desfecho final do caso ainda incerto e sujeito a anos de disputas legais. A trajetória legal de Tsarnaev serve como um lembrete da complexidade do sistema judiciário em casos de alto perfil.

Como a memória das vítimas é honrada e mantida viva em Boston?

A memória das vítimas do Atentado na Maratona de Boston é honrada e mantida viva em Boston através de uma série de iniciativas e tradições que se tornaram parte integrante do tecido da cidade. O luto e a resiliência de Boston foram entrelaçados em um compromisso coletivo de garantir que aqueles que foram perdidos e feridos nunca sejam esquecidos. A comunidade se uniu para criar um legado de lembrança que serve tanto como memorial quanto como um farol de esperança e superação.

Um dos memoriais mais proeminentes é o Boston Marathon Memorial, inaugurado em 2019 na Boylston Street, perto da linha de chegada. O memorial consiste em três monólitos de granito, com os nomes das três vítimas fatais: Krystle Campbell, Lu Lingzi e Martin Richard. Próximo a eles, há uma pedra menor dedicada ao oficial Sean Collier, do MIT, assassinado pelos irmãos Tsarnaev durante a perseguição. O local é visitado anualmente por milhares de pessoas que deixam flores, mensagens e objetos em homenagem aos que sofreram. O design do memorial, que incorpora elementos de pedra e luz, busca ser um local de contemplação e paz.

Além dos memoriais físicos, a Maratona de Boston em si se tornou um evento anual de homenagem e resiliência. A cada ano, no dia da maratona, a cidade realiza um momento de silêncio em homenagem às vítimas e aos que foram feridos. Muitos corredores participam da maratona para levantar fundos para instituições de caridade relacionadas às vítimas ou para causas de prevenção à violência. A presença de corredores que foram vítimas do ataque, ou que correm em homenagem a alguém afetado, é um poderoso testemunho de superação e da capacidade de se recuperar.

Outras iniciativas e organizações surgiram para manter viva a memória das vítimas. A Richard Family Foundation, criada em homenagem a Martin Richard, trabalha para promover a paz, a justiça e a união comunitária. A Krystle Campbell Memorial Fund apoia bolsas de estudo e programas comunitários. Essas fundações não apenas mantêm os nomes das vítimas vivos, mas também transformam a tragédia em ação positiva, buscando construir um futuro mais seguro e pacífico. A mobilização contínua da comunidade e a dedicação para transformar a dor em propósito são o verdadeiro legado da memória em Boston, assegurando que o espírito de “Boston Strong” perdure.

Bibliografia

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• The New York Times. Extensive coverage of the Boston Marathon Bombing. Arquivos do New York Times de abril de 2013 e anos subsequentes.
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• Remnick, David. “The Brothers”. The New Yorker, 29 de abril de 2013.
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• Levy, Shawn. The Last Days of the Boston Marathon Bombings: The Story of How the FBI, Local Police, and the Public Finally Caught the Suspects. Publicado em 2015.
• United States Department of Justice. Comunicados de imprensa e informações sobre o caso de Dzhokhar Tsarnaev.