Entenda a filosofia de Alasdair MacIntyre de forma simples

Alasdair MacIntyre é um filósofo escocês contemporâneo, conhecido por sua crítica contundente à moralidade moderna e por sua defesa de um retorno à ética das virtudes, inspirada em grande parte por Aristóteles e Santo Tomás de Aquino. Seu livro mais famoso, “Depois da Virtude”, publicado em 1981, causou um impacto considerável ao argumentar que a linguagem e a prática moral em nossas sociedades liberais modernas se encontram em um estado de grave desordem, faltando-lhes uma base racional e um propósito compartilhado. MacIntyre não é um filósofo fácil, mas suas ideias oferecem uma perspectiva poderosa para entender os dilemas éticos de nosso tempo.

Quem é Alasdair MacIntyre e por que ele é um crítico da filosofia moderna?

Alasdair MacIntyre, nascido em 1929, é uma figura singular no cenário filosófico contemporâneo. Ao longo de uma longa e prolífica carreira, ele se moveu por diversas posições filosóficas antes de se firmar como o principal proponente moderno da ética das virtudes de tradição aristotélica e tomista. Ele não se encaixa nas escolas de pensamento dominantes do século XX e XXI; em vez disso, ele frequentemente as desafia a partir de uma perspectiva histórica e comunitarista.

MacIntyre é um crítico feroz da filosofia moral moderna que, segundo ele, começou após o Iluminismo. Ele argumenta que os filósofos iluministas, como Kant e Hume (em aspectos diferentes), tentaram fundamentar a moralidade em algo universal e racional, acessível a qualquer indivíduo, independentemente de seu contexto social ou tradição. Kant buscou princípios universais da razão prática, enquanto Hume buscou fundamentos nas paixões e sentimentos humanos universais.

Na visão de MacIntyre, esse projeto iluminista falhou espetacularmente. Ele acredita que, ao tentar remover a moralidade de seu contexto histórico, social e teleológico (orientado a fins), os filósofos modernos a esvaziaram de significado e propósito compartilhado. O resultado, para ele, é o estado atual da moralidade moderna, que é caracterizado pela incomensurabilidade de argumentos morais conflitantes – as pessoas discordam em questões morais fundamentais e não têm um meio racional compartilhado para resolver suas disputas.

Sua crítica não é apenas teórica; MacIntyre argumenta que a falha da filosofia moral moderna se reflete em nossas práticas sociais e políticas. Vivemos em uma cultura onde os debates éticos são muitas vezes reduzidos a expressões de preferências ou sentimentos, e onde a busca por um bem comum coerente foi substituída por um individualismo desenfreado e um foco em direitos e regras abstratas, desvinculadas de um propósito humano compartilhado.

Qual a ideia central do livro “Depois da Virtude”?

A ideia central de “Depois da Virtude” é que a moralidade moderna se encontra em um estado de grave desordem conceitual e prática, comparável a um cenário pós-apocalíptico onde fragmentos de conhecimento científico de uma civilização perdida (fórmulas químicas, pedaços de equipamentos) são usados sem a compreensão do contexto original que lhes dava sentido. MacIntyre argumenta que herdamos um vocabulário moral (palavras como “certo”, “errado”, “dever”, “virtude”) que perdeu seu contexto original, o de uma ética teleológica baseada em virtudes e em uma concepção compartilhada do bem humano.

Ele traça uma história do declínio dessa ética teleológica, começando com Aristóteles, passando pela Idade Média (Tomás de Aquino), e mostrando como o projeto do Iluminismo, ao rejeitar a ideia de um propósito humano inato ou de uma ordem moral natural, demoliu as bases de uma moralidade baseada em virtudes. Os filósofos pós-Iluminismo, em sua tentativa de reconstruir a moralidade em novas bases (razão universal, sentimento), falharam, levando à fragmentação e ao relativismo do pensamento moral moderno.

O que restou, na visão de MacIntyre, é o que ele chama de Emotivismo, que é a doutrina subjacente à maioria dos desacordos morais modernos, mesmo que as pessoas não a professem explicitamente. O emotivismo sustenta que todos os julgamentos de valor – e, mais especificamente, todos os julgamentos morais – são nada mais do que expressões do sentimento ou da preferência do falante. Quando alguém diz “Matar é errado”, para o emotivista, isso é equivalente a dizer “Eu desaprovo matar” ou “Boo! Matar!”.

A consequência desse estado, segundo MacIntyre, é que nossos debates morais se tornam intermináveis e irracionais, pois não há critérios objetivos ou um telos (fim) compartilhado contra o qual possamos avaliar diferentes reivindicações. A ética se torna uma questão de manipulação e poder, não de razão e virtude. “Depois da Virtude” é, portanto, um diagnóstico da crise moral moderna e uma proposta para superar essa crise, resgatando a ética das virtudes e o conceito de comunidade que a sustenta.

Por que MacIntyre acredita que a moralidade moderna falhou?

A crença de Alasdair MacIntyre na falha da moralidade moderna decorre de sua análise histórica e filosófica do desenvolvimento do pensamento ético, especialmente após o período do Iluminismo. Ele argumenta que a tentativa de construir um sistema moral universal, racional e independente de qualquer tradição ou concepção teleológica (de propósito ou fim) estava fadada ao fracasso.

Antes do Iluminismo, e notadamente na ética aristotélica, a moralidade estava ligada a um telos (fim ou propósito) do ser humano. Uma vida moralmente boa era aquela que ajudava a pessoa a alcançar seu pleno potencial ou florescimento (eudaimonia). As virtudes eram as qualidades de caráter que permitiam a uma pessoa mover-se de seu estado atual para esse telos. Havia uma compreensão compartilhada, dentro de uma comunidade e tradição, do que significava ser um ser humano que funcionava bem.

O Iluminismo rejeitou essa visão teleológica, seja por razões científicas (a visão de mundo mecanicista) ou filosóficas (a dificuldade em provar a existência de um telos inato). Filósofos como Kant tentaram encontrar uma base para a moralidade na pura razão prática universal (“o dever pelo dever”), enquanto outros, como Hume, buscaram no sentimento e na simpatia. No entanto, para MacIntyre, nenhuma dessas tentativas conseguiu fornecer uma justificativa racional e coercitiva para os juízos morais que fosse aceitável para todos.

O resultado dessa falha, segundo MacIntyre, é que nos encontramos com uma coleção de regras morais fragmentadas (como “não mentir”, “cumprir promessas”) que antes faziam sentido dentro de estruturas teleológicas (como a lei divina ou a busca pela eudaimonia), mas que agora flutuam sem uma base ou propósito unificador. Desacordos sobre como aplicar essas regras ou quais regras priorizar tornam-se insolúveis racionalmente. Não temos mais um critério compartilhado derivado de uma concepção de um fim humano para resolver essas disputas.

Essa fragmentação leva ao estado que MacIntyre descreve como emotivista, onde os debates morais se tornam primariamente expressões de sentimentos ou vontades, disfarçadas de argumentos racionais. A falha da moralidade moderna, portanto, não é apenas uma questão de discordância sobre questões específicas, mas uma crise fundamental na própria linguagem e estrutura do raciocínio moral.

O que é o “Emotivismo” na visão de MacIntyre e por que ele o critica?

O Emotivismo, na análise de Alasdair MacIntyre, é a doutrina filosófica (muitas vezes implícita na prática, mesmo que não explicitamente defendida) de que todos os juízos morais e avaliativos são, em última instância, nada mais do que expressões de sentimento, atitude ou preferência subjetiva. Quando uma pessoa diz “X é bom” ou “Y é errado”, o emotivista entende isso como equivalente a dizer “Eu aprovo X” ou “Eu desaprovo Y”. Não há fatos objetivos ou verdades sobre o bem e o mal que tornem essas afirmações objetivamente verdadeiras ou falsas.

MacIntyre argumenta que, embora poucos filósofos hoje se autodenominem emotivistas puros (a posição tem suas origens no positivismo lógico do início do século XX com figuras como A.J. Ayer), a forma como a moralidade funciona na prática em muitas sociedades modernas é profundamente influenciada pelo emotivismo. Nossos debates políticos e sociais frequentemente se resumem a facções expressando e reafirmando seus sentimentos e vontades, com pouca ou nenhuma base racional compartilhada para resolver os conflitos de valor. O debate se torna mais uma questão de persuasão e manipulação emocional do que de raciocínio e busca pela verdade moral.

MacIntyre critica o emotivismo por várias razões. Primeiro, ele acredita que o emotivismo falseia a natureza de nossos juízos morais. Quando dizemos “Tortura é errada”, sentimos que estamos afirmando algo sobre a tortura em si, e não apenas sobre nossos próprios sentimentos. A linguagem moral pretende ser objetiva e fazer reivindicações sobre o mundo, não apenas sobre nosso estado psicológico interno.

Segundo, o emotivismo torna o raciocínio moral impossível no sentido tradicional. Se os juízos morais são apenas expressões de sentimento, não há como usar a razão para argumentar a favor ou contra eles. Não se pode “provar” um sentimento como certo ou errado de forma objetiva. Isso leva à incomensurabilidade dos debates morais que MacIntyre diagnostica: as pessoas apenas reafirmam suas posições emotivas sem poder construir um argumento racionalmente convincente para quem discorda.

Para MacIntyre, o emotivismo é tanto um sintoma quanto uma causa da crise moral moderna. É um sintoma porque surge da perda de um quadro moral teleológico e compartilhado. É uma causa porque, ao reduzir a moralidade a sentimentos, ele impede a possibilidade de reconstruir um discurso moral racional e baseado em virtudes.

Aqui estão algumas implicações do emotivismo criticado por MacIntyre:

• Debates morais sem solução: Resumidos a confrontos de preferências.
• Linguagem moral como ferramenta: Usada para expressar e influenciar atitudes, não para descrever a realidade moral.
• Ausência de critérios objetivos: Impossibilidade de determinar a verdade ou falsidade de juízos morais.
• Risco de manipulação: A ética pode se tornar uma questão de poder e persuasão, não de razão.

O que MacIntyre quer dizer com o conceito de “Prática”?

Para reconstruir uma ética das virtudes, Alasdair MacIntyre introduz o conceito crucial de “prática”. Uma prática, para MacIntyre, é uma forma coerente e complexa de atividade humana cooperativa através da qual os bens internos a essa forma de atividade são realizados no curso de tentar alcançar aqueles padrões de excelência que são apropriados a essa forma de atividade, com o efeito de estender as concepções humanas dos fins e bens envolvidos.

Essa definição densa pode ser desdobrada. Primeiro, uma prática é uma atividade social. Ela envolve mais de uma pessoa trabalhando juntas de alguma forma. Segundo, é coerente e complexa, com regras, procedimentos e objetivos próprios. Exemplos que MacIntyre usa incluem jogar xadrez, praticar medicina, construir uma casa, fazer pesquisa científica, tocar música, pintar, cultivar a terra, até mesmo criar uma família.

O ponto central das práticas são os bens internos. MacIntyre distingue entre bens internos e bens externos. Bens externos são coisas como dinheiro, poder, fama ou status. Eles são externos à prática porque podem ser obtidos de várias maneiras diferentes e, quando um indivíduo os ganha, outro indivíduo necessariamente os perde (são bens de soma zero, no sentido de que sua posse por um diminui a quantidade disponível para outros). Os bens externos são frequentemente o que atrai as pessoas a participar de práticas (ser pago para ser médico, ganhar um troféu no xadrez).

Os bens internos, por outro lado, são intrínsecos à prática em si. Eles só podem ser alcançados participando da prática e aderindo aos seus padrões de excelência. Quando são alcançados por um indivíduo, beneficiam toda a comunidade da prática (não são de soma zero). Por exemplo, no xadrez, um bem interno é a beleza de uma estratégia ou a compreensão mais profunda do jogo que se obtém ao jogá-lo bem. Na medicina, é a recuperação da saúde do paciente ou o avanço do conhecimento médico. Esses bens internos só podem ser apreciados e avaliados por aqueles que participam da prática e entendem seus padrões.

É a busca e a realização desses bens internos, juntamente com a adesão aos padrões de excelência, que definem uma prática. E é dentro desse contexto de práticas que MacIntyre redefine o conceito de virtude.

Exemplos de Práticas segundo MacIntyre:

• Jogar xadrez
• Praticar medicina
• Construir uma ponte
• Tocar um instrumento musical
• Conduzir pesquisa científica
• Cultivar a terra
• Criar e educar crianças

Como ele define uma “Virtude” dentro de uma prática?

Com o conceito de prática em mãos, Alasdair MacIntyre redefine a virtude não como uma qualidade abstrata ou universal, mas como uma disposição ou qualidade de caráter que permite a um indivíduo alcançar os bens internos de uma prática e superar os obstáculos que surgem no caminho dessa busca.

Uma virtude, nesse sentido, é algo que se desenvolve e se demonstra dentro do contexto de participar de uma prática específica. Para jogar xadrez bem (alcançar os bens internos do jogo, como a compreensão estratégica), você precisa de virtudes como honestidade (não trapacear), paciência e atenção. Para praticar medicina bem (alcançar a saúde do paciente, avançar o conhecimento médico), você precisa de virtudes como integridade, diligência, compaixão e competência técnica.

É importante notar que, para MacIntyre, as virtudes não são apenas meios para alcançar bens externos. Embora a honestidade no xadrez possa eventualmente levar a ganhar mais jogos (um bem externo), ela é primariamente uma virtude porque é essencial para a própria natureza da prática do xadrez e para a realização de seus bens internos (como a beleza estratégica que só pode ser apreciada em um jogo jogado honestamente). As virtudes são essenciais para a excelência na prática.

Além de permitir a realização dos bens internos de uma prática, as virtudes também são necessárias, na visão de MacIntyre, para a busca do bem de uma vida humana como um todo, que ele entende como uma unidade narrativa e uma busca pelo bem. Virtudes como a justiça, a coragem e a honestidade não são importantes apenas dentro de práticas individuais, mas são essenciais para integrar as várias práticas e relacionamentos em uma vida coerente e direcionada.

Portanto, a definição de virtude de MacIntyre é teleológica (orientada a fins), mas os fins primários são os bens internos das práticas e o bem de uma vida inteira. As virtudes são os hábitos e qualidades que nos permitem não apenas ter sucesso no sentido externo, mas florescer no sentido interno, tanto dentro de atividades específicas quanto na totalidade de nossa existência.

Relação entre Prática, Bens e Virtude:

• Prática: Atividade cooperativa com padrões de excelência.
• Bens Internos: Realizados apenas dentro da prática, compartilhados pela comunidade da prática.
• Bens Externos: Obteníveis fora da prática, bens de competição.
• Virtude: Qualidade de caráter necessária para alcançar bens internos e o bem da vida.

O que significa ter uma “Unidade Narrativa da Vida” para MacIntyre?

No terceiro estágio de sua argumentação em “Depois da Virtude”, Alasdair MacIntyre introduz o conceito da “unidade narrativa da vida humana”. Ele argumenta que a vida de uma pessoa não é apenas uma série de eventos desconectados, mas sim uma história, uma narrativa contínua que dá sentido e coerência às ações e experiências individuais.

Pensar na vida como uma narrativa significa entender que nossas ações são inteligíveis apenas dentro do contexto da história de nossa vida como um todo. Quando fazemos uma escolha ou realizamos uma ação, ela é uma “cena” em uma história que começou com nosso nascimento e se estende em direção a um futuro incerto. Essa história tem um começo, um meio e um fim (ou um futuro antecipado), e nossa identidade se constrói através dessa narrativa. Perguntas como “Quem sou eu?” são respondidas contando a história de como nos tornamos a pessoa que somos.

Essa unidade narrativa é crucial para a ética das virtudes de MacIntyre. Ele argumenta que a busca pelo bem humano não é apenas a busca por bens internos em práticas individuais, mas a busca por um bem que unifica toda a vida. Qual é o propósito ou o fim da minha vida? O que dá coerência aos meus diferentes papéis (pai, profissional, cidadão, etc.) e às diferentes práticas em que participo?

A vida é vista como uma busca (quest) por esse bem unificador, mas essa busca não ocorre no vácuo. Ela está inserida no contexto de uma tradição moral (o próximo conceito chave) e de relacionamentos com outros. A narrativa de nossas vidas se cruza e se entrelaça com as narrativas de outras pessoas, formando as histórias de famílias, comunidades e tradições.

Ter uma unidade narrativa da vida implica em um compromisso com a coerência e a consistência ao longo do tempo, e a responsabilidade por nossas ações passadas, presentes e futuras como parte da mesma história. É a capacidade de nos vermos como os autores de nossas vidas, mas também como personagens dentro de histórias maiores. Essa visão de vida como narrativa é fundamental para MacIntyre, pois fornece o quadro no qual a busca pelas virtudes e a integração das diferentes práticas encontram seu propósito último.

Qual o papel das “Tradições Morais” em sua filosofia?

O quarto e último conceito chave na estrutura de “Depois da Virtude” é o de “tradição moral”. Para Alasdair MacIntyre, as práticas, as virtudes e as narrativas individuais de vida não existem isoladamente, mas estão sempre inseridas e só fazem sentido dentro do contexto de uma ou mais tradições morais vivas.

Uma tradição moral, na visão de MacIntyre, não é apenas um conjunto estático de crenças herdadas do passado. É uma argumentação estendida no tempo sobre como o bem humano deve ser concebido e alcançado. É uma história contínua de debates, conflitos, interpretações e revisões. As tradições são vivas; elas evoluem através do engajamento crítico de seus participantes.

Exemplos de tradições morais incluem a tradição aristotélica, a tradição agostiniana/tomista, a tradição do Iluminismo (embora MacIntyre a critique, ele a trata como uma tradição), e talvez até mesmo tradições religiosas ou culturais específicas. Cada tradição possui sua própria história, seus textos fundadores (sejam eles filosóficos, religiosos ou literários), seus heróis e vilões, e suas formas características de argumentação e raciocínio.

É dentro de uma tradição moral que as práticas adquirem seu significado histórico e social mais amplo, as virtudes são compreendidas e transmitidas de geração em geração, e as narrativas individuais de vida encontram seu contexto e propósito. A tradição fornece o vocabulário e os recursos conceituais necessários para que as pessoas compreendam a si mesmas, suas práticas e sua busca pelo bem.

MacIntyre argumenta que a crise da moralidade moderna se deve, em parte, à perda do domínio de uma tradição moral coerente e abrangente que pudesse fornecer uma base compartilhada para o raciocínio e a ação. Em vez disso, vivemos em uma sociedade onde fragmentos de diferentes tradições coexistem e colidem sem um meio de arbitragem racional, levando à incomensurabilidade que ele descreve.

Para MacIntyre, a recuperação da moralidade exige um engajamento consciente e comprometido com uma tradição moral viva. Não é um retorno nostálgico ao passado, mas o reconhecimento de que o raciocínio moral significativo só pode ocorrer dentro de uma estrutura narrativa e histórica fornecida por uma tradição. É um convite para reingressar em um debate contínuo sobre o que é a vida boa, utilizando os recursos de uma tradição para dar sentido ao presente e direcionar o futuro.

Os elementos interconectados na ética de MacIntyre:

• Práticas: Onde se adquirem virtudes iniciais e bens internos.
• Virtudes: Qualidades que permitem excelência nas práticas e na vida.
• Unidade Narrativa: A vida como uma busca coerente pelo bem.
• Tradição Moral: O contexto histórico e social que dá sentido a práticas, virtudes e narrativas.

Por que ele critica o liberalismo e o individualismo moderno?

Alasdair MacIntyre é um crítico implacável do liberalismo e do individualismo que, segundo ele, dominam as sociedades modernas. Sua crítica decorre diretamente de sua análise da crise moral e sua defesa de uma ética baseada em virtudes, prática, narrativa e tradição.

Ele argumenta que o liberalismo político e moral, com sua ênfase na neutralidade do Estado em relação a diferentes concepções de vida boa e na primazia dos direitos individuais e da autonomia, é inerentemente falho. O liberalismo tenta criar um quadro onde pessoas com concepções de vida boa radicalmente diferentes possam coexistir pacificamente, focando em regras processuais e direitos que protejam a escolha individual. No entanto, para MacIntyre, essa tentativa de neutralidade é ilusória. O próprio liberalismo é uma tradição moral específica, com sua própria concepção (implícita) do bem, que valoriza a autonomia individual e a liberdade de escolha acima de tudo.

O problema, na visão de MacIntyre, é que o liberalismo, ao evitar endossar explicitamente qualquer concepção substancial de vida boa (qualquer telos), acaba por esvaziar o debate moral e político de seu significado. Ele cria um espaço onde os argumentos morais se tornam incomensuráveis, pois não há uma referência compartilhada a um bem humano. Os debates políticos se tornam meros confrontos de interesses e preferências, gerenciados por burocratas e especialistas que tratam as questões sociais como problemas técnicos, não como questões éticas profundas.

O individualismo moderno, que MacIntyre vê como um produto e sustentáculo do liberalismo, também é alvo de sua crítica. Ele argumenta que a concepção de indivíduo autônomo e autossuficiente, capaz de escolher seus próprios valores independentemente de seu contexto social e histórico, é uma ilusão. Somos, fundamentalmente, seres sociais e históricos, cujas identidades e concepções de bem são moldadas pelas práticas e tradições em que participamos. A ênfase liberal na autonomia individual ignora nossa profunda dependência e interconexão.

Para MacIntyre, o liberalismo e o individualismo moderno desmantelam as comunidades morais e as tradições que são essenciais para o florescimento humano e para a prática das virtudes. Eles promovem uma forma de vida atomizada onde a busca por bens externos e a expressão de preferências subjetivas substituem a busca compartilhada por bens internos e pelo bem da vida inteira dentro de uma comunidade moral. A solução de MacIntyre não é um estado liberal neutro, mas a revitalização de comunidades morais locais onde uma concepção compartilhada do bem possa ser buscada através da participação em práticas e da vida de uma tradição.

Como a comunidade se encaixa em sua ética?

A comunidade ocupa um lugar absolutamente central na ética de Alasdair MacIntyre. Diferente das filosofias liberais que tendem a ver a sociedade como uma coleção de indivíduos autônomos, MacIntyre argumenta que o desenvolvimento moral e o florescimento humano só são possíveis dentro do contexto de uma comunidade moral viva e vibrante.

A comunidade é onde as práticas são sustentadas e transmitidas de geração em geração. Os padrões de excelência das práticas e o conhecimento dos bens internos são ensinados e mantidos através da interação social, do aprendizado com mestres e colegas. Sem uma comunidade que valorize e sustente uma prática (seja o xadrez, a medicina ou a agricultura), a prática em si e os bens que ela oferece se deterioram.

A comunidade também é o berço e o sustentáculo das tradições morais. É dentro de uma comunidade que a narrativa de uma tradição é contada, debatida e vivida. A comunidade fornece o contexto linguístico, histórico e social que dá sentido aos nossos conceitos morais e à nossa busca pelo bem. Fora de uma tradição viva e da comunidade que a encarna, os fragmentos de moralidade que herdamos perdem sua inteligibilidade.

Além disso, a comunidade é onde as narrativas individuais de vida se entrelaçam e adquirem seu pleno significado. A busca pelo bem em uma vida não é uma jornada solitária, mas uma jornada compartilhada. Somos filhos, pais, amigos, colegas, cidadãos – papéis que só fazem sentido em relação a outros e dentro de estruturas sociais. A comunidade fornece o palco e os coadjuvantes para a história de nossas vidas, e é onde aprendemos as virtudes necessárias para viver bem com os outros.

Para MacIntyre, uma comunidade moral é caracterizada por uma concepção compartilhada do bem, mesmo que essa concepção seja objeto de debate interno e contínuo dentro da tradição dessa comunidade. É essa concepção compartilhada, derivada de uma história e de práticas comuns, que fornece a base para o raciocínio moral e a deliberação sobre o que deve ser feito.

A crise moral moderna, na visão de MacIntyre, é inseparável da erosão das comunidades morais tradicionais pelo avanço do liberalismo e do individualismo. Sua proposta para a recuperação da moralidade não é um sistema filosófico abstrato, mas a revitalização e construção de formas locais de comunidade onde as práticas possam florescer, as virtudes possam ser cultivadas e as tradições morais possam continuar seu debate vital sobre o bem humano.

Funções da comunidade na ética de MacIntyre:

• Sustenta e transmite práticas.
• Encarna e debate tradições morais.
• Contexto para narrativas individuais.
• Base para uma concepção compartilhada do bem.
• Lugar onde as virtudes são aprendidas e exercidas.

O que são os “Animais Racionais Dependentes” e por que isso é importante em seu trabalho posterior?

Em seu trabalho posterior, notavelmente no livro “Dependent Rational Animals” (Animais Racionais Dependentes), Alasdair MacIntyre desenvolve ainda mais e, de certa forma, refina sua ética, focando na natureza fundamentalmente vulnerável e dependente dos seres humanos. Essa ideia é crucial para corrigir o que ele via como uma ênfase excessiva na autonomia e na racionalidade em grande parte da filosofia moral, incluindo aspectos de sua própria obra anterior.

MacIntyre argumenta que os seres humanos não são apenas “animais racionais” (como tradicionalmente definido na filosofia, remontando a Aristóteles), mas são, de forma essencial, dependentes. Desde o nascimento, somos vulneráveis e dependemos dos cuidados de outros para sobreviver e florescer. Essa dependência não é uma fase temporária ou uma exceção; ela faz parte da condição humana ao longo da vida (na infância, na doença, na velhice).

Reconhecer essa dependência fundamental tem implicações profundas para a ética. Se a moralidade fosse apenas sobre o que indivíduos racionais e autônomos devem uns aos outros, ela teria dificuldade em explicar nossas obrigações para com bebês, idosos frágeis, pessoas com deficiência severa ou aqueles que estão doentes. O conceito de Animais Racionais Dependentes coloca a vulnerabilidade e a necessidade de cuidado no centro da ética.

Essa perspectiva destaca a importância de certas virtudes de dependência e interdependência, como a justa generosidade (saber dar e receber ajuda apropriadamente) e a capacidade de reconhecer as necessidades alheias e as próprias limitações. MacIntyre argumenta que a comunidade e as práticas não são apenas espaços para a busca de bens internos e do bem da vida, mas são, crucially, redes de cuidado mútuo onde aprendemos a lidar com nossa própria vulnerabilidade e a responder à vulnerabilidade dos outros.

A crítica ao liberalismo também é aprofundada por essa perspectiva. O liberalismo, ao enfatizar o indivíduo autônomo, tende a mascarar ou marginalizar a realidade da dependência humana. MacIntyre sugere que uma sociedade justa é aquela que reconhece e acomoda a dependência, onde as instituições e as relações sociais são moldadas para garantir que os mais vulneráveis sejam cuidados e possam participar plenamente da vida da comunidade, na medida de suas capacidades.

“Animais Racionais Dependentes” é, portanto, uma extensão vital do pensamento de MacIntyre, reforçando a necessidade de uma ética que seja enraizada na realidade da condição humana como intrinsecamente social, histórica, vulnerável e interdependente.

Como MacIntyre entende a justiça? É uma virtude?

Sim, Alasdair MacIntyre entende a justiça como uma das virtudes fundamentais, e seu tratamento da justiça está integrado à sua estrutura geral de práticas, virtudes, narrativas e tradições. Ele critica as concepções modernas de justiça, que frequentemente a veem como um conjunto de regras abstratas ou procedimentos imparciais, e a redefine no contexto de uma ética teleológica e comunitária.

Para MacIntyre, a justiça, como outras virtudes, é uma disposição de caráter que se manifesta no comportamento e nos julgamentos de uma pessoa. É a virtude que nos permite dar a cada um o que lhe é devido, mas o que é “devido” não é determinado por regras abstratas universais, mas sim pelo contexto das práticas, das tradições e da busca compartilhada pelo bem dentro de uma comunidade.

Dentro do contexto das práticas, a justiça se manifesta na avaliação imparcial do mérito e na adesão aos padrões de excelência internos à prática. Um juiz de xadrez justo, um médico justo ou um professor justo são aqueles que aplicam os padrões da prática de forma consistente e imparcial, reconhecendo as realizações e corrigindo as falhas com base nos bens internos da prática, não em considerações externas ou favoritismos.

Mais amplamente, a justiça é crucial para sustentar a comunidade e permitir a busca compartilhada pelo bem. Ela exige que reconheçamos o valor dos outros, que contribuamos de forma equitativa para os empreendimentos comuns e que distribuamos os bens e encargos de forma que promova o florescimento de todos os membros, especialmente os mais vulneráveis (uma ênfase que cresce em seu trabalho posterior). A justiça não é apenas sobre regras de distribuição, mas sobre a qualidade das relações sociais e a forma como reconhecemos a dignidade e as necessidades uns dos outros.

MacIntyre contrasta essa visão de justiça como virtude com as concepções modernas, como a de Rawls (justiça como equidade, focada em princípios escolhidos sob um véu de ignorância) ou as teorias que a reduzem à aplicação de regras formais ou direitos individuais. Ele argumenta que essas concepções falham porque estão desvinculadas de uma compreensão compartilhada do bem humano e do contexto histórico e social das práticas e tradições. Sem uma estrutura teleológica e comunitária, as regras de justiça parecem arbitrárias ou insuficientes para capturar o que é moralmente exigido.

A justiça, portanto, é a virtude essencial para a ordenação da vida social e política de acordo com uma concepção compartilhada do bem. Ela é aprendida e cultivada através da participação em práticas e na vida da comunidade, e é indispensável para a busca individual e coletiva por uma vida florescente.

Qual a relação entre Virtudes e Instituições em sua visão?

Alasdair MacIntyre dedica uma parte significativa de “Depois da Virtude” para discutir a relação tensa e crucial entre virtudes e instituições. Ele argumenta que, embora as virtudes sejam essenciais para a realização dos bens internos das práticas, as práticas e as virtudes que elas cultivam estão sempre em risco de serem corrompidas pelas instituições que as abrigam.

As instituições são as organizações sociais (como universidades, hospitais, empresas, governos) que fornecem a estrutura dentro da qual as práticas operam. As instituições são necessárias; elas fornecem os recursos materiais e organizacionais que permitem que as práticas prosperem. Um hospital fornece os edifícios, equipamentos e salários que tornam possível a prática da medicina; uma universidade fornece salas de aula, bibliotecas e financiamento para a prática da pesquisa e do ensino.

No entanto, as instituições estão primariamente preocupadas com a busca por bens externos: dinheiro, poder, prestígio, reputação. O hospital busca lucro ou financiamento; a universidade busca prestígio, rankings e doações; a empresa busca maximizar os lucros. Essa busca por bens externos é inerente à natureza das instituições e é necessária para sua sobrevivência e funcionamento no mundo moderno.

A tensão surge porque a lógica das instituições (bens externos) pode facilmente minar a lógica das práticas (bens internos) e as virtudes que são necessárias para alcançá-los. A busca por lucro em um hospital pode levar a decisões que comprometem o cuidado do paciente (um bem interno da medicina); a busca por financiamento em uma universidade pode levar a pesquisas questionáveis ou ao ensino superficial; a busca por lucro em uma empresa pode levar a práticas antiéticas.

MacIntyre argumenta que a virtude é o que nos permite resistir à corrupção das instituições. A virtude da integridade, por exemplo, é a disposição de manter a busca pelos bens internos da prática e os padrões de excelência, mesmo quando isso entra em conflito com a lógica dos bens externos buscados pela instituição. Um médico virtuoso se recusará a realizar um procedimento desnecessário apenas para gerar receita para o hospital; um acadêmico virtuoso se recusará a falsificar dados para garantir uma bolsa de pesquisa.

Portanto, a relação entre virtudes e instituições é de dependência mútua e tensão inerente. As instituições fornecem o contexto necessário para as práticas e o cultivo das virtudes, mas a busca pelas virtudes é essencial para proteger as práticas da corrupção institucional e para garantir que as instituições sirvam, em última instância, aos bens internos das práticas que abrigam, e não o contrário. É um lembrete constante da fragilidade das práticas no mundo moderno orientado por bens externos.

Quais são as principais críticas feitas à filosofia de Alasdair MacIntyre?

A filosofia de Alasdair MacIntyre, especialmente sua crítica à modernidade e sua defesa da ética das virtudes baseada em tradições, gerou um debate considerável e enfrentou diversas críticas. Uma das críticas mais comuns diz respeito à aplicabilidade de sua abordagem em sociedades modernas, pluralistas e liberais.

Críticos argumentam que a visão de MacIntyre parece exigir uma comunidade moral com uma concepção compartilhada do bem, o que é difícil de encontrar ou sustentar em sociedades caracterizadas por uma profunda diversidade de valores e crenças (precisamente a condição que o liberalismo tenta acomodar). Sua crítica ao liberalismo é vista por alguns como excessiva ou injusta, argumentando que o liberalismo, apesar de suas falhas, oferece um quadro melhor para a coexistência pacífica em um mundo plural do que uma volta a éticas baseadas em tradições particulares que podem ser mutuamente incompatíveis.

Outra crítica foca no conceito de tradição. Alguns questionam se a visão de MacIntyre das tradições como “argumentações estendidas no tempo” é uma descrição precisa de como as tradições realmente funcionam, ou se ele idealiza o papel da razão no desenvolvimento das tradições. Há também a preocupação de que uma forte ênfase na tradição possa levar ao conservadorismo excessivo ou à exclusão daqueles que não pertencem à tradição dominante. Como garantir que as tradições evoluam e se corrijam, e não se tornem rígidas ou opressivas?

A dependência da ética de MacIntyre em uma concepção teleológica (orientada a fins) do ser humano e da vida boa também é um ponto de crítica, particularmente para aqueles que rejeitam ou são céticos em relação a essa ideia (como o próprio Iluminismo fez). É possível justificar a existência de um telos humano universal de forma convincente em um mundo pós-metafísico? Se não, em que base sólida sua ética das virtudes se sustenta?

Finalmente, alguns acham que MacIntyre, em “Depois da Virtude”, não oferece um guia prático suficiente para a ação moral em situações concretas. Sua ênfase na comunidade e na tradição pode parecer mais um diagnóstico e uma proposta de vida do que um sistema de regras ou princípios para resolver dilemas éticos específicos no dia a dia, especialmente fora do contexto de uma prática ou comunidade bem definida.

Críticas comuns a MacIntyre:

• Dificuldade de aplicação em sociedades pluralistas.
• Visão idealizada ou potencialmente conservadora das tradições.
• Dependência de um telos humano contestável.
• Falta de orientação prática para dilemas morais concretos.
• Crítica excessiva ao liberalismo.

Como podemos pensar nossas vidas e a ética a partir da perspectiva de MacIntyre?

Pensar nossas vidas e a ética a partir da perspectiva de Alasdair MacIntyre é, antes de tudo, um convite para reavaliar a forma como entendemos a moralidade em um mundo moderno que ele diagnostica como moralmente incoerente. Sua filosofia nos desafia a olhar além das regras abstratas e dos debates incomensuráveis e a considerar o papel das virtudes, das práticas, das narrativas e das tradições em moldar quem somos e como devemos viver.

A partir de MacIntyre, podemos começar a pensar sobre as práticas em nossas próprias vidas – sejam elas profissões, hobbies, papéis familiares ou engajamentos comunitários. Estamos buscando os bens internos nessas práticas, ou estamos primariamente motivados por bens externos como dinheiro ou status? Estamos cultivando as virtudes que nos permitem alcançar a excelência nessas práticas e contribuir para seus bens? Isso nos leva a refletir sobre a qualidade de nosso engajamento em nossas atividades diárias.

Podemos também pensar sobre a unidade narrativa de nossas vidas. Como os diferentes aspectos de nossa vida se encaixam em uma história coerente? Qual é a “busca” que dá sentido à nossa jornada? Essa perspectiva nos encoraja a pensar sobre a integridade ao longo do tempo e a responsabilidade que temos em construir uma narrativa de vida que seja moralmente defensável.

A filosofia de MacIntyre nos força a reconhecer nossa dependência inerente (especialmente com a ideia dos Animais Racionais Dependentes) e a importância das virtudes de cuidado e interdependência. Como nossas comunidades e relacionamentos (familiares, de amizade, de trabalho) refletem ou falham em refletir essa realidade? Estamos cultivando as virtudes necessárias para dar e receber cuidado de forma justa e compassiva?

Finalmente, a perspectiva de MacIntyre nos convida a considerar a importância das tradições morais. Quais tradições (filosóficas, religiosas, culturais) informam nossos valores e nossa compreensão do bem? Estamos engajados criticamente com essas tradições, contribuindo para sua argumentação contínua sobre o que significa viver bem? Isso nos leva a uma apreciação mais profunda da nossa própria historicidade e do contexto social de nossa moralidade.

Em suma, MacIntyre nos oferece uma lente para ver a ética não como um conjunto de regras abstratas a serem aplicadas por indivíduos autônomos, mas como uma forma de vida encarnada em práticas, cultivada através de virtudes, moldada por narrativas pessoais e sustentada por comunidades e tradições. É um convite para buscar a coerência moral e o florescimento em um mundo que, segundo ele, perdeu seu rumo ético, e para fazer isso, muitas vezes, contra a corrente do individualismo e do emotivismo dominantes. Sua filosofia é um chamado para a reconstrução, começando nas pequenas comunidades e práticas de nossas vidas.