Quais foram as origens e os primeiros passos de Louis Renault?
A história da Renault, uma das mais emblemáticas fabricantes de automóveis do mundo, começa com a visão de um jovem engenheiro e inventor, Louis Renault. Nascido em Paris em 1877, Louis demonstrava desde cedo uma fascinante paixão por mecânica e engenharia, transformando o quintal da casa de sua família em um verdadeiro laboratório. Essa inclinação precoce para a inovação técnica o distinguia, preparando o terreno para futuras conquistas no emergente setor automotivo. Seus irmãos, Marcel e Fernand, mais velhos e com experiência em negócios, desempenhariam papéis cruciais na formalização da empresa que viria a dominar estradas e corações por décadas a fio. A energia e o foco de Louis eram palpáveis em suas primeiras invenções.
Em 1898, Louis Renault construiu seu primeiro veículo, um triciclo De Dion-Bouton modificado que possuía uma inovadora caixa de câmbio de três velocidades, com a primeira transmissão direta do mundo na marcha mais alta. Esta invenção, testada com sucesso na íngreme Rue Lepic em Montmartre, Paris, não apenas validou sua proeza técnica, mas também atraiu a atenção de potenciais compradores. Era um feito notável para a época, um verdadeiro marco que indicava o potencial revolucionário da engenharia de Louis. A receptividade inicial foi extremamente positiva, solidificando a crença de que havia um mercado substancial para essas novas máquinas motorizadas. A curiosidade e o entusiasmo do público eram evidentes.
Ainda em 1898, o sucesso do triciclo modificado levou a uma demanda por veículos mais sofisticados, e Louis rapidamente começou a projetar e construir carros sob encomenda. A necessidade de formalizar a operação cresceu rapidamente, culminando na fundação da Société Renault Frères em 25 de fevereiro de 1899. Louis era o cérebro por trás da engenharia e da produção, enquanto Marcel e Fernand cuidavam da administração e das finanças, uma divisão de trabalho que se mostrou extremamente eficaz nos anos iniciais. Esta parceria familiar foi fundamental para estabelecer as bases de uma futura potência industrial. A sinergia entre os irmãos impulsionava a empresa para frente.
Os primeiros modelos da Société Renault Frères, como o Voiturette Tipo A, eram caracterizados pela sua robustez e design prático, elementos que rapidamente conquistaram a confiança dos primeiros motoristas. O Voiturette, em particular, tornou-se um símbolo da inovação e acessibilidade da marca, atraindo uma clientela diversificada, desde a burguesia parisiense até entusiastas de corridas. A participação e o sucesso em competições automobilísticas da época foram estratégias de marketing brilhantes, mostrando a durabilidade e velocidade dos veículos Renault. Essas corridas eram o palco perfeito para testar e exibir a superioridade técnica dos carros. A reputação da marca crescia exponencialmente.
O envolvimento em corridas, infelizmente, trouxe uma grande tragédia para a família Renault. Em 1903, Marcel Renault faleceu em um acidente durante a corrida Paris-Madri, um evento que abalou profundamente Louis e Fernand. Apesar da perda imensa, a empresa seguiu em frente, impulsionada pela determinação de Louis em honrar o legado de seu irmão e continuar a expandir a marca. A resiliência da família foi posta à prova, mas o compromisso com a inovação e a excelência permaneceu inabalável. A dor da perda, de certa forma, reforçou a dedicação à visão original da empresa. O espírito de superação prevaleceu em meio ao luto.
Após a morte de Marcel, Fernand Renault se retirou da empresa em 1908 por motivos de saúde, vendendo sua parte para Louis, que então renomeou a empresa para Société des Automobiles Renault. Louis Renault se tornou o único proprietário e o principal impulsionador da visão da empresa, assumindo controle total sobre as operações e a direção estratégica. Este período marcou a transição da Renault de uma empresa familiar para uma corporação sob a liderança singular de seu fundador, permitindo uma tomada de decisão mais ágil e um foco ainda maior na expansão industrial e tecnológica. A consolidação do poder nas mãos de Louis abriu caminho para novas ambições e expansão global.
A partir daí, Louis Renault investiu pesadamente na modernização das fábricas e na otimização dos processos de produção, antecipando-se à crescente demanda por veículos e pavimentando o caminho para a produção em massa. A sua visão não se limitava apenas à construção de carros, mas à criação de um império industrial que abrangia desde a fabricação de motores até a produção de outros componentes, solidificando a Renault como uma força dominante na nascente indústria automobilística. A empresa estava se transformando de uma pequena oficina para uma potência industrial em plena ascensão, preparada para enfrentar os desafios e as oportunidades do século XX. A base para um crescimento extraordinário estava firmemente estabelecida.
Como a Renault se expandiu e inovou no início do século XX?
O início do século XX testemunhou uma rápida expansão e diversificação para a Renault, impulsionada pela liderança singular de Louis Renault e sua incessante busca por aprimoramento tecnológico. A empresa, agora sob o controle total de seu fundador, começou a otimizar seus processos de produção, implementando técnicas que prenunciavam a linha de montagem, embora ainda não fosse o sistema fordista completo. A ênfase na eficiência e na qualidade dos componentes se tornou um pilar fundamental da filosofia da marca, garantindo que cada veículo que saía de suas fábricas em Billancourt fosse robusto e confiável. Essa mentalidade de melhoria contínua permeava todas as áreas da operação.
Uma das inovações mais significativas do período foi a introdução do sistema de táxis Renault em Paris, a partir de 1905. Os famosos “Táxis do Marne”, modelos AG1, desempenharam um papel crucial na Primeira Guerra Mundial, transportando tropas para a frente de batalha, solidificando a imagem da Renault como uma marca de confiança e utilidade pública. Esta frota de táxis não só demonstrou a durabilidade dos veículos Renault em um ambiente urbano exigente, mas também os tornou um elemento familiar e indispensável da paisagem parisiense. A visibilidade e o uso prático desses veículos impulsionaram ainda mais a reputação da empresa. A cidade de Paris se beneficiou enormemente desta inovação.
A Renault não se limitou apenas a carros de passeio e táxis; a empresa também se aventurou na fabricação de veículos comerciais, como ônibus e caminhões, e até mesmo motores para embarcações e aeronaves. Essa diversificação estratégica foi fundamental para a resiliência da empresa, permitindo-lhe atender a uma gama mais ampla de necessidades de transporte e aproveitar as oportunidades em mercados emergentes. A capacidade de adaptar sua engenharia e produção para diferentes tipos de veículos demonstrou a versatilidade industrial da Renault. A visão de Louis Renault era a de uma empresa que não se limitaria a um único segmento. A amplitude de sua atuação era verdadeiramente impressionante.
Durante os anos pré-Primeira Guerra Mundial, a Renault continuou a investir em tecnologia e patentes, consolidando sua posição como líder em inovação automotiva. O foco em motores mais potentes e eficientes, juntamente com melhorias no conforto e na segurança dos veículos, atraiu uma clientela sofisticada e exigente. A empresa buscava constantemente refinar cada aspecto de seus automóveis, desde o design exterior até os detalhes mecânicos mais intrincados. Essa dedicação à engenharia de ponta garantia que a Renault permanecesse na vanguarda do desenvolvimento automotivo. A busca pela perfeição era uma constante na filosofia da empresa.
A expansão fabril foi uma prioridade, com as instalações em Billancourt crescendo exponencialmente para acomodar o aumento da produção. Louis Renault foi um dos primeiros a adotar a ideia de uma cadeia de produção integrada, onde a maioria dos componentes era fabricada internamente. Isso garantia controle de qualidade e reduzia a dependência de fornecedores externos, uma estratégia que se provaria vital em tempos de crise. A autonomia na fabricação era uma vantagem competitiva significativa, permitindo à Renault maior flexibilidade e eficiência operacional. A visão de um complexo industrial autossuficiente estava se concretizando. As instalações se tornavam cada vez mais complexas e eficientes.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) transformou a Renault em uma das maiores fornecedoras militares da França. A empresa rapidamente adaptou suas linhas de produção para fabricar munições, motores de avião, tanques (o famoso Renault FT-17, um dos primeiros tanques modernos com torre giratória) e veículos militares. Essa transição demonstrou a capacidade de adaptação e a robustez industrial da Renault em tempos de crise nacional. O papel da empresa na guerra foi fundamental para o esforço de guerra francês, solidificando seu status como um pilar da indústria nacional. A contribuição da Renault para a defesa do país foi imensa.
Os anos de guerra, embora desafiadores, consolidaram a reputação da Renault como uma força industrial capaz de entregar em grande escala e sob pressão extrema. A experiência em produção militar também trouxe novos conhecimentos em manufatura em massa e logística, que seriam aplicados na produção civil pós-guerra. A resiliência demonstrada nesse período preparou a empresa para um novo capítulo de crescimento e desenvolvimento. A capacidade de resposta da Renault a desafios complexos era um testemunho de sua organização e engenhosidade. A empresa emergiu da guerra com uma nova compreensão de suas próprias capacidades. A fundação para uma nova era de prosperidade estava lançada.
Como a Renault se destacou no período entre-guerras?
O período entre as duas Grandes Guerras Mundiais foi uma fase de intensa reestruturação e inovação para a Renault, à medida que a empresa se adaptava às novas realidades econômicas e sociais do pós-guerra. A experiência adquirida na produção militar, especialmente em manufatura em grande escala, foi imediatamente aplicada para otimizar a produção de veículos civis. Louis Renault, com sua visão industrial, investiu massivamente na modernização das fábricas em Billancourt, buscando a eficiência máxima na produção de automóveis. A linha de montagem, embora ainda não tão rígida como a de Henry Ford, foi aprimorada para aumentar o volume e reduzir os custos de fabricação. A busca pela otimização era constante.
A década de 1920 viu a introdução de modelos que se tornariam icônicos e que refletiam as crescentes demandas por carros mais acessíveis e confiáveis. Modelos como o Renault NN, lançado em 1924, foram essenciais para popularizar o automóvel na França, oferecendo uma combinação de robustez, economia e um design que agradava às famílias. A estratégia de oferecer uma gama diversificada de veículos, desde carros pequenos e econômicos até modelos de luxo, permitiu à Renault capturar diferentes segmentos de mercado. A empresa estava se posicionando como uma escolha versátil para o consumidor. A adaptabilidade era um fator chave para o sucesso comercial.
A inovação não se limitou apenas aos veículos de passeio. A Renault continuou a ser uma pioneira em veículos comerciais e industriais, produzindo caminhões, ônibus e até mesmo tratores agrícolas. Essa diversificação de produtos foi uma estratégia inteligente para mitigar os riscos de flutuações no mercado de automóveis de passeio e garantir uma fonte de receita mais estável. A ênfase na durabilidade e na capacidade de carga desses veículos comerciais os tornava escolhas preferenciais para empresas e agricultores, consolidando a presença da Renault em diversos setores da economia. A ampla gama de produtos era uma prova da capacidade de engenharia da empresa. A empresa construía uma reputação de versatilidade e robustez.
A Renault também foi uma das primeiras empresas automotivas a compreender a importância da engenharia de design e do conforto do motorista. Os anos 1930 viram o desenvolvimento de carros com carrocerias mais aerodinâmicas e interiores mais sofisticados, refletindo uma mudança nas expectativas dos consumidores. Modelos como o Renault Juvaquatre, introduzido em 1937, antecipavam tendências de design e engenharia que seriam amplamente adotadas após a guerra. A preocupação com a estética e a experiência do usuário começou a se tornar um diferencial competitivo, mostrando que a Renault olhava além da mera funcionalidade. A empresa estava atenta às nuances do mercado. O estilo e a funcionalidade andavam de mãos dadas.
A empresa também enfrentou desafios significativos durante o período entre-guerras, incluindo as crises econômicas globais e as crescentes tensões políticas na Europa. A Grande Depressão, em particular, exigiu que a Renault adotasse medidas de racionalização e eficiência para manter a lucratividade e proteger os empregos de seus trabalhadores. A capacidade de Louis Renault de navegar por esses períodos turbulentos, mantendo a empresa no caminho do crescimento e da inovação, demonstrava sua liderança astuta e resiliente. A habilidade de se adaptar a condições econômicas adversas era crucial para a sobrevivência e o crescimento. A gestão da crise era um teste à visão de Louis.
Para se manter competitiva e relevante, a Renault investiu pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, explorando novas tecnologias e materiais. A criação de laboratórios de testes e a contratação de engenheiros talentosos foram passos cruciais para assegurar que a empresa permanecesse na vanguarda da inovação automotiva. A busca por motores mais eficientes, sistemas de suspensão aprimorados e maior segurança era uma prioridade, refletindo o compromisso da Renault com a excelência técnica. Essa dedicação à pesquisa e ao desenvolvimento pavimentou o caminho para futuros avanços e modelos revolucionários. A inovação era o motor do progresso da empresa.
A Renault não era apenas uma força industrial, mas também um empregador significativo na França, com um forte impacto social. A empresa implementou programas de bem-estar para seus funcionários e investiu em moradias e serviços, contribuindo para o desenvolvimento das comunidades ao redor de suas fábricas. Essa responsabilidade social, embora motivada em parte por considerações de produtividade, demonstrava uma compreensão mais ampla do papel da indústria na sociedade. O relacionamento com os trabalhadores e as comunidades era uma parte intrínseca da identidade da empresa. A influência da Renault se estendia muito além de suas linhas de produção, moldando a vida de milhares de pessoas. A empresa era um pilar social e econômico em sua região.
Qual foi o impacto da Segunda Guerra Mundial e da nacionalização na Renault?
A eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939 marcou um período de profundas transformações e turbulência para a Renault, alterando drasticamente o curso de sua história. Com a ocupação nazista da França, as fábricas da Renault em Billancourt foram requisitadas para a produção de veículos e equipamentos para o exército alemão. Louis Renault, o fundador, foi forçado a cooperar sob ameaça, o que mais tarde resultaria em acusações de colaboracionismo. A empresa, sob controle alemão, fabricou componentes para aviões e veículos militares, uma situação que colocou a Renault em uma posição extremamente delicada e controversa. A autonomia e a direção da empresa foram brutalmente comprometidas pela guerra.
A fábrica de Billancourt, um alvo estratégico, sofreu pesados bombardeios aliados ao longo do conflito, resultando em danos extensos e paralisações na produção. A destruição das instalações industriais da Renault foi um golpe severo, mas também um testemunho do papel vital que a empresa desempenhava na cadeia de suprimentos de guerra, mesmo sob ocupação. Os trabalhadores da Renault, muitos dos quais eram membros ativos da Resistência Francesa, frequentemente sabotavam a produção e forneciam informações aos aliados, demonstrando um ato de desafia silenciosa em face da opressão. A resiliência e o patriotismo dos empregados eram inegáveis.
Com a libertação de Paris em 1944, a situação de Louis Renault se tornou insustentável. Acusado de colaboracionismo com o inimigo, ele foi preso em setembro de 1944. Sua morte na prisão, antes de qualquer julgamento, em outubro do mesmo ano, permanece um tema de debate e especulação. O destino trágico de Louis Renault encerrou um capítulo fundamental na história da empresa que ele construiu. A controvérsia em torno de suas ações durante a ocupação lançou uma longa sombra sobre seu legado pessoal e profissional. A história da guerra se entrelaçou de forma complexa com a trajetória do fundador da Renault.
Em 16 de janeiro de 1945, o governo provisório francês, liderado por Charles de Gaulle, nacionalizou a Renault por decreto, alegando o colaboracionismo de Louis Renault. A empresa foi transformada na Régie Nationale des Usines Renault (RNUR). Essa nacionalização teve um impacto profundo na estrutura e na filosofia da empresa, marcando o fim da propriedade privada e o início de uma nova era sob controle estatal. A decisão foi um ato político significativo que visava tanto punir o alegado colaboracionismo quanto reorganizar a indústria francesa pós-guerra sob a égide do estado. A empresa passou de uma entidade privada para um serviço público de relevância nacional.
Sob a nova gestão estatal, a RNUR tinha a missão de desempenhar um papel crucial na reconstrução econômica da França. A empresa foi encarregada de produzir veículos acessíveis e robustos para as massas, contribuindo para a motorização do país em um período de escassez e necessidade. A filosofia mudou de um foco puramente comercial para um propósito mais amplo de serviço público e desenvolvimento nacional. Essa nova direção influenciou as decisões de design e produção, priorizando a utilidade e a economia sobre o luxo. A Renault se tornou um símbolo da determinação francesa em se reerguer. A reconstrução do país passava pela vitalidade de sua indústria.
A nacionalização também trouxe uma ênfase renovada nas relações trabalhistas. Sob a égide da RNUR, a empresa se tornou um modelo de benefícios sociais e participação dos trabalhadores, implementando programas de habitação, saúde e educação para seus funcionários. A gestão, agora com uma dimensão social mais forte, buscava um ambiente de trabalho mais equitativo e produtivo. Essa abordagem mais progressista no tratamento dos empregados ajudou a solidificar a lealdade e o engajamento da força de trabalho, um fator crucial para a recuperação e o crescimento pós-guerra. A empresa buscava conciliar a produção industrial com o bem-estar social. A coesão social era vista como um trunfo para a produtividade.
Apesar da controvérsia e dos desafios iniciais da nacionalização, a Renault, como RNUR, conseguiu se reerguer das cinzas da guerra com uma notável resiliência. A empresa se preparou para lançar modelos que se tornariam símbolos da reconstrução francesa e da motorização popular, estabelecendo as bases para um futuro de crescimento e domínio de mercado. A transição de Louis Renault para a gestão estatal foi um marco divisor, inaugurando uma nova era de desenvolvimento industrial e social para a marca. A Renault estava pronta para escrever um novo capítulo, deixando para trás os traumas da guerra e da ocupação e focando na prosperidade futura. A história da empresa continuava a evoluir de forma drástica.
Como a Renault impulsionou a motorização popular na França pós-guerra?
O período pós-Segunda Guerra Mundial foi uma era de reconstrução e otimismo para a França, e a Renault, agora como a Régie Nationale des Usines Renault (RNUR), desempenhou um papel central na motorização popular do país. Sob a direção de Pierre Lefaucheux, o primeiro CEO da RNUR, a empresa focou na produção de veículos pequenos, econômicos e acessíveis, ideais para as necessidades de uma nação em processo de recuperação. A estratégia era clara: colocar a França sobre rodas, proporcionando mobilidade a milhões de pessoas com carros práticos e eficientes. A visão de um veículo para cada família francesa estava em pleno desenvolvimento.
O primeiro grande sucesso da era pós-nacionalização foi o Renault 4CV, carinhosamente apelidado de “a joia do pós-guerra”. Lançado em 1946, o 4CV era um carro pequeno, de motor traseiro, extremamente econômico e confiável, que rapidamente se tornou um fenômeno de vendas. Seu design compacto e sua facilidade de manutenção o tornaram ideal para as famílias francesas que buscavam um meio de transporte acessível. O 4CV simbolizou a capacidade de recuperação da indústria francesa e a democratização do automóvel. Ele era mais do que um carro; era um símbolo de esperança e progresso para a nação.
A popularidade do 4CV foi seguida pelo lançamento do Renault Dauphine em 1956, que se tornou um sucesso ainda maior e um dos primeiros carros franceses a alcançar reconhecimento internacional. O Dauphine era um pouco maior e mais sofisticado que o 4CV, mantendo a confiabilidade e a economia de combustível, mas com um toque de elegância que o tornava atraente para o mercado de exportação, especialmente nos Estados Unidos. A exportação do Dauphine foi um marco importante, demonstrando a competitividade da Renault no cenário global. A empresa estava provando que podia competir com os grandes nomes da indústria automotiva mundial. O Dauphine abriu novos horizontes para a marca.
Para atender à crescente demanda, a Renault investiu pesadamente na expansão de suas fábricas e na modernização dos métodos de produção. As instalações em Flins, por exemplo, foram construídas para incorporar os mais recentes avanços em automação e linhas de montagem, aumentando drasticamente a capacidade de produção. Essa expansão foi crucial para manter os preços baixos e a disponibilidade dos veículos, garantindo que a Renault pudesse suprir o mercado de massa que estava se formando. A eficiência da produção era uma prioridade máxima para a empresa. A capacidade de produzir em larga escala era fundamental para o sucesso da motorização popular.
A RNUR não apenas fabricava carros; ela também construiu uma rede de concessionárias e serviços pós-venda robusta, garantindo que os proprietários de Renault tivessem acesso a peças e manutenção em todo o país. Essa infraestrutura de suporte foi vital para a confiança do consumidor e para a longevidade dos veículos em um período em que possuir um carro era um investimento significativo. A capilaridade da rede Renault facilitou a adoção em massa dos automóveis, tornando-os uma parte integrante da vida cotidiana. A empresa compreendia que a venda era apenas o começo do relacionamento com o cliente. O suporte ao cliente era tão importante quanto o produto em si.
A ênfase da Renault na simplicidade e na facilidade de reparo de seus veículos também contribuiu para sua popularidade. Os carros foram projetados para serem robustos e fáceis de manter, mesmo para proprietários com pouco conhecimento mecânico. Isso reduzia os custos de propriedade e aumentava a durabilidade dos veículos, tornando-os ainda mais atraentes para as famílias de renda média. A filosofia de engenharia prática e voltada para o usuário era um diferencial importante, distinguindo a Renault de alguns de seus concorrentes mais complexos. A acessibilidade da manutenção era um ponto forte para o consumidor comum. A Renault se consolidava como a marca do povo.
A contribuição da Renault para a motorização popular na França foi imensa, transformando a paisagem social e econômica do país. Os carros como o 4CV e o Dauphine não eram apenas meios de transporte; eles representavam a liberdade, a oportunidade de viajar e o progresso em um país que se reerguia. A empresa, sob a égide do estado, conseguiu alinhar seus objetivos comerciais com as necessidades sociais, criando um legado de inovação acessível e impacto duradouro. A Renault solidificou sua posição como uma das marcas mais importantes e influentes da França, moldando a mobilidade de uma geração inteira de franceses e se preparando para a próxima fase de crescimento industrial e globalização.
Quais foram os marcos da Renault durante os “Trente Glorieuses”?
O período conhecido como “Trente Glorieuses” (Os Trinta Gloriosos), de 1945 a 1975, foi uma era de crescimento econômico sem precedentes na França, e a Renault desempenhou um papel de destaque nesse boom, consolidando sua posição como líder industrial e inovadora. Sob a gestão estatal, a empresa teve a liberdade e os recursos para investir pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, além de expandir sua capacidade de produção. A Renault estava na vanguarda da modernização industrial francesa, impulsionando a economia e a sociedade com seus produtos e inovações. Essa foi uma época de ouro para a indústria automobilística francesa.
Um dos lançamentos mais revolucionários desse período foi o Renault 4, conhecido popularmente como “Quatrelle”, em 1961. O R4 foi o primeiro carro de passeio com tração dianteira da Renault, oferecendo uma versatilidade e praticidade inigualáveis para a época, com um design hatchback inovador e um interior espaçoso. Sua suspensão robusta e sua capacidade de adaptação a diferentes terrenos o tornaram um favorito não apenas na França, mas também em mercados emergentes e áreas rurais. O R4 simbolizou a democratização do automóvel, sendo um carro verdadeiramente universal. A engenharia inteligente por trás do R4 o tornou um clássico instantâneo e um sucesso global.
Em 1965, a Renault lançou o Renault 16, um carro que é frequentemente creditado como o pioneiro do conceito de “hatchback familiar”. Com sua carroceria de cinco portas, modularidade interior e motor potente, o R16 oferecia o conforto de um sedã e a praticidade de uma perua, redefinindo as expectativas para um carro familiar. Ele foi um dos primeiros carros a receber o prêmio de Carro do Ano Europeu, solidificando a reputação da Renault como uma força inovadora no design e engenharia automotiva. O R16 demonstrou a capacidade da Renault de antecipar e moldar as necessidades do mercado. A empresa estava claramente na vanguarda do design automotivo.
A Renault também se destacou pela sua abordagem progressista em relação às relações trabalhistas e ao bem-estar dos funcionários. A empresa era conhecida por seus extensos programas sociais, que incluíam centros de saúde, escolas, programas de moradia e atividades culturais para os trabalhadores e suas famílias. Essa política, embora por vezes complexa e sujeita a greves, visava criar um ambiente de trabalho mais harmonioso e produtivo, solidificando a Renault como um modelo de gestão social na França. O bem-estar dos funcionários era visto como um investimento no futuro da empresa. A empresa cultivava um forte senso de comunidade entre seus trabalhadores.
A expansão internacional foi outro pilar do crescimento da Renault. A empresa estabeleceu fábricas e parcerias em diversos países, incluindo Espanha, Argentina, Argélia e Romênia (com o Dacia 1300, baseado no Renault 12). Essa estratégia de globalização permitiu à Renault acessar novos mercados
