Tomada da residência do embaixador japonês em Lima: tudo sobre o caso

O que foi a tomada da residência do embaixador japonês em Lima?

A tomada da residência do embaixador japonês em Lima, ocorrida em 17 de dezembro de 1996, foi um evento de magnitude global que abalou a estabilidade política do Peru e capturou a atenção do mundo. Um comando de 14 guerrilheiros do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) invadiu a residência durante uma festa que celebrava o 63º aniversário do Imperador Akihito do Japão. Este ato audacioso transformou uma celebração diplomática em um pesadelo de reféns, com centenas de convidados de alto perfil aprisionados.

O objetivo principal do MRTA, um grupo marxista-leninista que havia perdido grande parte de sua força nos anos anteriores, era forçar o governo peruano a liberar cerca de 400 de seus membros que estavam detidos em prisões de segurança máxima, incluindo a notória prisão de Canto Grande. A escolha do local não foi aleatória; a festa reunia a elite política, militar e diplomática do Peru, juntamente com empresários e representantes da comunidade japonesa, oferecendo ao grupo um conjunto de reféns de alto valor estratégico.

O evento marcou um dos mais longos e tensos impasses de reféns na história moderna, estendendo-se por 126 dias. Durante esse período, a residência do embaixador, outrora um símbolo de relações internacionais cordiais, transformou-se em uma fortaleza sitiada, palco de negociações complexas e uma intensa pressão diplomática. A crise expôs a vulnerabilidade da segurança em um país ainda lidando com resquícios de insurgência e testou a resiliência do governo de Alberto Fujimori.

A situação escalou rapidamente de um incidente de segurança local para uma crise internacional, com o Japão desempenhando um papel crucial nas discussões e na busca por uma solução pacífica. A incerteza sobre o destino dos reféns, somada à implacável postura do governo peruano em não ceder às demandas dos sequestradores, criou um ambiente de tensão palpável. Este episódio se tornou um marco na história peruana, simbolizando a luta do Estado contra o terrorismo e as complexidades de lidar com situações de reféns em nível global.

Quando a crise ocorreu e quanto tempo durou?

A crise de reféns na residência do embaixador japonês em Lima teve seu início na noite de 17 de dezembro de 1996, um dia que deveria ser de celebração e confraternização. Foi precisamente durante a festa de aniversário do Imperador Akihito que o comando do MRTA invadiu o local, tomando centenas de pessoas como reféns. Este evento inesperado e brutal marcou o início de um período de angústia e incerteza para o Peru e para a comunidade internacional.

O impasse se estendeu por um período considerável, durando 126 dias, o equivalente a pouco mais de quatro meses. Durante esse tempo, a residência do embaixador japonês, Morihisa Aoki, permaneceu sob o controle dos guerrilheiros, transformando-se em um ponto focal de tensão e negociações intensas. A longa duração da crise intensificou a pressão sobre o governo peruano e as famílias dos reféns, que viviam em eterna apreensão.

A cada dia que passava, a expectativa por uma solução pacífica ou um resgate militar crescia, mas a complexidade da situação impedia uma resolução rápida. O mundo observava, através das notícias, o desenrolar lento e doloroso de um drama que parecia não ter fim. Este período de quatro meses foi caracterizado por diversas tentativas de mediação, negociações intermitentes e uma extensa operação de inteligência por parte das forças de segurança peruanas, todas visando uma saída para o impasse.

A crise chegou ao seu fim abrupto e violento em 22 de abril de 1997, com a execução da Operação Chavín de Huántar. Esta operação militar, meticulosamente planejada, pôs fim à tomada de reféns de forma decisiva, mas também de forma trágica e controversa. Os 126 dias de cativeiro e negociações culminaram em uma ação militar que ficaria gravada na história como um exemplo de resgate ousado e letal.

Quem foram os principais atores envolvidos na tomada de reféns?

Os principais atores neste drama foram múltiplos e de diversas naturezas, cada um desempenhando um papel crucial no desenvolvimento e desfecho da crise. No centro da ação estavam os membros do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), um grupo guerrilheiro de orientação marxista-leninista, liderado por Néstor Cerpa Cartolini. Cerpa, conhecido como “Comandante Evaristo”, foi o cérebro por trás da operação e o principal negociador dos sequestradores, agindo com uma mistura de determinação e desespero.

Do lado dos reféns, a lista incluía figuras de grande proeminência nacional e internacional. Entre eles estavam o próprio embaixador japonês, Morihisa Aoki, diversos ministros peruanos — como o então Ministro das Relações Exteriores, Francisco Tudela — e o presidente da Suprema Corte, Víctor Malca Guaylupo. A presença de tantos dignitários e diplomatas elevou o perfil da crise a um nível sem precedentes, tornando-a um problema de Estado com repercussões globais.

O governo peruano, sob a liderança do Presidente Alberto Fujimori, foi o principal adversário dos sequestradores. Fujimori adotou uma postura de firmeza inabalável desde o início, recusando-se a negociar a libertação de prisioneiros do MRTA. Sua estratégia foi marcada por uma combinação de diplomacia cautelosa e a preparação secreta para uma eventual ação militar. A equipe de Fujimori, incluindo membros das forças armadas e de inteligência, trabalhou incansavelmente nos bastidores para encontrar uma solução.

Outro ator essencial foi o governo japonês, que se viu diretamente envolvido na crise devido ao sequestro de seu embaixador e de outros cidadãos japoneses. O Japão exerceu pressão diplomática constante e esteve ativamente engajado nas negociações, enviando enviados especiais e oferecendo apoio. A relação entre Lima e Tóquio foi testada, mas a cooperação mútua na busca por uma solução foi fundamental. Finalmente, a comunidade internacional, através de organizações como a Cruz Vermelha Internacional e outros mediadores, desempenhou um papel de apoio humanitário e facilitação do diálogo.

Por que o MRTA escolheu a residência do embaixador japonês como alvo?

A escolha da residência do embaixador japonês em Lima como alvo para a tomada de reféns não foi um ato aleatório, mas uma decisão estratégica e calculada por parte do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA). A data e o local ofereciam uma oportunidade sem igual para o grupo alcançar seus objetivos. A festa de aniversário do Imperador Akihito era um evento de grande prestígio social e diplomático, reunindo a nata da sociedade peruana e da comunidade internacional.

A residência, na noite de 17 de dezembro de 1996, estava repleta de convidados de alto perfil, incluindo ministros do governo, juízes da Suprema Corte, líderes militares, embaixadores de diversas nações e empresários influentes. Essa concentração de indivíduos com alto valor estratégico como reféns garantia que o MRTA chamaria a atenção global e exerceria pressão máxima sobre o governo de Alberto Fujimori. A presença de tantos dignitários transformou um ato de terrorismo em um problema de segurança nacional e internacional instantâneo.

Além do valor dos reféns, o MRTA via o Japão como um símbolo do capitalismo global e da influência estrangeira no Peru. Embora a ideologia primária do grupo fosse a luta contra o governo peruano e suas políticas neoliberais, atingir um representante de uma potência econômica como o Japão enviava uma mensagem poderosa sobre a natureza de sua revolta. A escolha de um alvo japonês também refletia, em parte, uma tentativa de explorar as complexas relações econômicas e a ajuda externa que o Japão fornecia ao Peru.

Finalmente, a residência em si oferecia certas vantagens táticas. Embora teoricamente segura, a afluência de convidados para uma festa de grande porte apresentava desafios para a segurança perimetral. O planejamento minucioso do MRTA permitiu-lhes explorar essas falhas, invadindo a propriedade com uma audácia surpreendente. A tomada de reféns na residência do embaixador japonês foi, portanto, uma combinação de oportunismo tático, a busca por reféns de alto valor e uma declaração ideológica contra o que o MRTA percebia como a ordem estabelecida.

Quais eram as demandas do MRTA durante a crise?

As demandas do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) durante a crise eram claras e tinham como objetivo principal a libertação de seus companheiros aprisionados. O grupo exigia a soltura de aproximadamente 400 membros do MRTA detidos em diversas prisões peruanas, com foco especial naqueles mantidos na prisão de segurança máxima de Canto Grande. Para o MRTA, a libertação desses combatentes era essencial para a sobrevivência e reestruturação de sua organização, que havia sido severamente enfraquecida pelas políticas antiterroristas do governo Fujimori.

Além da libertação dos prisioneiros, o MRTA também apresentava demandas de natureza ideológica e política, embora estas fossem secundárias à exigência de liberdade para seus camaradas. Eles buscavam uma plataforma para denunciar as políticas neoliberais do governo, a repressão estatal e as supostas violações de direitos humanos no Peru. Os sequestradores viam a tomada da residência como uma oportunidade de reafirmar sua presença e lembrar ao mundo que a luta revolucionária ainda existia no país, mesmo que de forma minguante.

Outra demanda, embora menos explícita no início, era a obtenção de um corredor seguro para a fuga dos sequestradores e dos prisioneiros libertados para uma área “liberada” ou um país vizinho, onde pudessem se reagrupar. Esta exigência sublinhava a intenção do MRTA de não apenas libertar seus membros, mas também de garantir a impunidade para a própria liderança da operação. A recusa do governo em ceder a esta demanda, e a qualquer troca de prisioneiros, foi um dos principais pontos de impasse nas negociações.

Em resumo, as exigências do MRTA podem ser sintetizadas como:

• Libertação de cerca de 400 membros do MRTA detidos em prisões peruanas, incluindo a prisão de Canto Grande.
• Denúncia pública das políticas do governo Fujimori e das condições prisionais no Peru.
• Obtenção de um corredor seguro para a saída dos guerrilheiros e dos prisioneiros libertados.
• Reconhecimento do MRTA como uma força política legítima, apesar de ser considerado um grupo terrorista pelo Estado.

Essas demandas representavam um desafio direto à autoridade do Estado peruano e à sua política de “tolerância zero” contra grupos insurgentes, tornando qualquer negociação extremamente delicada e complexa.

Quantos reféns foram inicialmente feitos e quem eram eles?

Na noite de 17 de dezembro de 1996, o número de reféns inicialmente feitos na residência do embaixador japonês em Lima foi impressionante e chocante. Estima-se que mais de 800 convidados estavam presentes na festa de aniversário do Imperador Akihito, e todos eles foram subitamente aprisionados pelo comando de 14 guerrilheiros do MRTA. A escala da tomada de reféns foi um dos fatores que imediatamente transformou o incidente em uma crise internacional de grandes proporções.

A lista de reféns incluía uma ampla gama de personalidades de alto escalão e influência. Entre os mais proeminentes estavam o próprio embaixador japonês, Morihisa Aoki, cujo aniversário estava sendo celebrado. Além dele, havia diversos ministros do governo peruano, incluindo o então Ministro das Relações Exteriores, Francisco Tudela, e o Ministro da Agricultura, Rodolfo Muñante. A presença do irmão do presidente Fujimori, Santiago Fujimori, também acrescentava um elemento de urgência para o governo.

Outros reféns de destaque incluíam chefes de Estado-Maior das Forças Armadas, como o General Walter Chacón Málaga, bem como o presidente da Suprema Corte, Víctor Malca Guaylupo, e vários outros juízes de alto escalão. Embaixadores de diversas nações, empresários influentes e líderes da comunidade japonesa no Peru também estavam entre os aprisionados. Essa diversidade e o alto valor institucional dos reféns sublinharam a ousadia e a percepção estratégica do MRTA em escolher o alvo.

A vasta maioria dos reféns, entretanto, era composta por diplomatas de escalão inferior, funcionários da embaixada, jornalistas e outros convidados que, embora não fossem figuras públicas de destaque, contribuíam para o enorme número e a complexidade logística da situação. A grande quantidade de pessoas aprisionadas criava um enorme desafio humanitário para os sequestradores e para as forças de segurança que se preparavam para o eventual desfecho. A tensão e a ansiedade inicial foram exacerbadas pela incerteza sobre o destino de tantos indivíduos importantes.

Quais eram as condições dos reféns dentro da residência?

As condições dentro da residência do embaixador japonês eram inicialmente caóticas e extremamente estressantes, mas melhoraram ligeiramente após as primeiras liberações de reféns. Nos primeiros dias, a residência estava superlotada e insalubre, com centenas de pessoas abrigadas em espaços limitados. A falta de saneamento adequado e a dificuldade de acesso a itens básicos, como alimentos e água em quantidade suficiente, representavam um risco imediato à saúde e ao bem-estar dos reféns.

Com o passar do tempo e as negociações que levaram à libertação de mulheres e alguns homens, o número de reféns diminuiu para cerca de 72, o que aliviou um pouco a superlotação. No entanto, a situação permaneceu precária e tensa. Os reféns eram submetidos a um controle rigoroso por parte dos guerrilheiros, que mantinham uma vigilância constante. A liberdade de movimento era limitada e a comunicação com o exterior era praticamente inexistente, exceto por meio de mediadores da Cruz Vermelha.

A rotina dos reféns incluía momentos de tédio e ociosidade, intercalados com períodos de intensa ansiedade. Eles tentavam se adaptar à vida em cativeiro, formando laços de solidariedade e buscando formas de ocupar o tempo. A comida, embora insuficiente e monótona, era fornecida pelos sequestradores e, em alguns momentos, também por meio de entregas externas supervisionadas. A higiene pessoal era um desafio constante, com acesso limitado a banheiros e suprimentos.

O impacto psicológico do cativeiro era profundo e generalizado. O medo da violência, a incerteza sobre o futuro e a separação de suas famílias geravam um estresse crônico. Embora os sequestradores geralmente evitassem violência física contra os reféns, a coerção psicológica era uma ferramenta constante. A residência, outrora um lar luxuoso, havia se tornado uma prisão, um espaço de confinamento onde a esperança e o desespero se alternavam no dia a dia dos prisioneiros.

Como o governo peruano respondeu à crise inicialmente?

A resposta inicial do governo peruano à crise de reféns foi marcada por uma combinação de choque e determinação. O presidente Alberto Fujimori adotou uma postura intransigente desde o primeiro momento, declarando publicamente que não negociaria a libertação de terroristas presos em troca dos reféns. Esta posição firme era consistente com sua política de “mão de ferro” contra o terrorismo, que havia sido fundamental para sua ascensão política e para a derrota da Sendero Luminoso e o enfraquecimento do MRTA nos anos anteriores.

Imediatamente após a tomada da residência, as forças de segurança peruanas cercaram o perímetro, estabelecendo um forte cordão de segurança para conter os sequestradores e evitar qualquer fuga. A área foi isolada e transformada em uma zona de alta vigilância, com atiradores de elite posicionados e equipamentos de monitoramento sendo rapidamente instalados. O objetivo inicial era garantir que a situação não se expandisse e que os sequestradores não recebessem reforços externos.

Simultaneamente à contenção militar, o governo iniciou um processo de negociação indireta, utilizando a Cruz Vermelha Internacional e outros mediadores como canais de comunicação. Embora Fujimori insistisse em não ceder à principal demanda do MRTA – a libertação de seus membros – ele permitiu o diálogo para discutir condições humanitárias para os reféns, como a entrega de alimentos, água e medicamentos. Esta abertura inicial visava ganhar tempo e aliviar a pressão sobre os reféns, enquanto se preparava para outras eventualidades.

Nos bastidores, enquanto a diplomacia estava em andamento, o governo de Fujimori e as Forças Armadas peruanas começaram a planejar uma opção militar de resgate. Esta preparação era altamente secreta e envolvia um extenso trabalho de inteligência, incluindo o monitoramento constante das atividades do MRTA dentro da residência. A resposta inicial foi, portanto, multifacetada: firmeza política, contenção militar imediata e o início de uma estratégia de longo prazo que combinava negociação e preparação para uma ação decisiva.

Que papel a diplomacia internacional desempenhou nas negociações?

A diplomacia internacional desempenhou um papel crucial e multifacetado nas negociações durante a crise da residência do embaixador japonês. Desde o primeiro momento, a tomada de reféns de diplomatas e cidadãos de várias nações elevou o incidente a um problema global, exigindo uma resposta coordenada da comunidade internacional. O Japão, como país do embaixador sequestrado, estava diretamente envolvido e exerceu uma pressão diplomática significativa sobre o governo peruano, embora de forma cuidadosa para não prejudicar as chances de um desfecho pacífico.

Organizações internacionais e países amigos atuaram como mediadores e facilitadores do diálogo entre o governo peruano e o MRTA. A Cruz Vermelha Internacional (CICV) foi uma presença constante e vital, servindo como o principal canal de comunicação, entregando suprimentos para os reféns e garantindo um mínimo de condições humanitárias. Sua neutralidade e experiência em crises de reféns foram indispensáveis para manter alguma forma de interlocução com os sequestradores, mesmo quando as negociações diretas eram tensas ou inexistentes.

Diversos diplomatas e figuras políticas internacionais também se envolveram na tentativa de encontrar uma solução pacífica. O Canadá, através de seu embaixador Anthony Vincent, e a Santa Sé, com a participação do arcebispo Juan Luis Cipriani Thorne, foram particularmente ativos no Grupo de Garantidores, um comitê que buscava facilitar as negociações. Esses atores internacionais trabalhavam para construir pontes, transmitir mensagens e explorar possíveis saídas que pudessem evitar um derramamento de sangue, mesmo diante da inflexibilidade do governo peruano em suas principais exigências.

Apesar dos esforços diplomáticos, a influência das negociações internacionais foi, em última análise, limitada pela postura irredutível do Presidente Fujimori em não ceder às principais demandas do MRTA. No entanto, a presença e a pressão da comunidade internacional garantiram que a crise permanecesse no olhar do público global e que as considerações humanitárias fossem, até certo ponto, mantidas. A diplomacia internacional atuou como um contraponto moral e prático, buscando uma solução negociada, mesmo quando as circunstâncias apontavam para um desfecho militar.

Como foram orquestradas as primeiras libertações de reféns?

As primeiras libertações de reféns foram orquestradas através de uma combinação de pressão humanitária e negociações cautelosas com o MRTA. Nos primeiros dias da crise, o enorme número de reféns, muitos deles mulheres, idosos e pessoas com problemas de saúde, criou uma situação logisticamente insustentável para os sequestradores e um foco de preocupação humanitária para o mundo. O MRTA, buscando projetar uma imagem de “revolucionários” e não de meros criminosos, cedeu a essa pressão, permitindo liberações graduais.

A primeira grande onda de libertações ocorreu em 20 de dezembro de 1996, apenas três dias após a tomada. Cerca de 38 mulheres foram liberadas, incluindo a mãe do embaixador japonês. Esta decisão do MRTA foi interpretada como um gesto para aliviar a pressão internacional e mostrar que o grupo não era inteiramente inflexível em questões humanitárias. A Cruz Vermelha Internacional desempenhou um papel crucial na facilitação dessas liberações, garantindo um processo seguro e acompanhando os reféns libertados.

Nos dias e semanas seguintes, outras libertações se seguiram. Em 22 de dezembro, mais 203 reféns foram libertados, incluindo a maioria das mulheres remanescentes e alguns homens que apresentavam condições médicas ou que não tinham valor estratégico significativo. Essas libertações foram resultado de conversas contínuas, embora indiretas, entre os sequestradores e os mediadores, e uma demonstração da logística complexa de lidar com tantos indivíduos em cativeiro. O MRTA tinha um interesse em reduzir o número de reféns para concentrar-se nos de maior valor político.

Ao final de 1996, o número de reféns havia diminuído drasticamente de mais de 800 para cerca de 72. Essas libertações iniciais não foram uma vitória para o governo peruano em termos de suas demandas principais, mas foram vitais para salvar vidas e reduzir a complexidade da situação. Elas também permitiram ao governo concentrar seus esforços de inteligência nos reféns de alto valor que permaneceram, enquanto a preparação para um possível resgate militar ganhava tração nos bastidores.

O que foi “Operação Chavín de Huántar”?

“Operação Chavín de Huántar” foi o nome-código da missão de resgate militar executada pelas forças especiais peruanas em 22 de abril de 1997, que pôs fim à crise de reféns na residência do embaixador japonês em Lima. Nomeada em homenagem a um antigo complexo arqueológico pré-incaico conhecido por seus túneis e passagens subterrâneas, a operação refletia a natureza engenhosa e secreta de seu plano. Este foi um dos resgates de reféns mais ambiciosos e complexos da história moderna, marcado por uma preparação minuciosa e execução arriscada.

O objetivo principal da operação era a libertação dos 72 reféns restantes e a neutralização dos 14 sequestradores do MRTA. O plano envolvia a construção secreta de uma rede de túneis subterrâneos que se estendiam por baixo da residência do embaixador. Esses túneis, cavados ao longo de meses, seriam usados para infiltrar as equipes de assalto, permitindo-lhes surpreender os sequestradores em múltiplos pontos simultaneamente. A precisão e o sigilo na construção desses túneis foram componentes cruciais para o sucesso da operação.

A execução da operação foi dividida em fases: a explosão sincronizada de cargas dentro dos túneis para abrir buracos no chão da residência, seguida pela rápida invasão das forças especiais através dessas aberturas e de outros pontos de entrada, como o telhado e as janelas. As equipes de assalto, treinadas exaustivamente em uma réplica da residência, agiram com velocidade e coordenação notáveis. O elemento surpresa era fundamental para minimizar as baixas entre os reféns e as próprias forças de segurança.

A “Operação Chavín de Huántar” durou apenas 38 minutos, um testemunho da eficácia e da intensidade do assalto. Embora tenha sido um sucesso retumbante na libertação da maioria dos reféns, ela também resultou em baixas significativas: todos os 14 sequestradores foram mortos, um refém faleceu devido a um ataque cardíaco e dois soldados das forças especiais peruanas perderam a vida. A operação foi amplamente aclamada no Peru e por muitos no exterior como um exemplo de bravura e planejamento militar, mas também gerou controvérsias e acusações de execuções extrajudiciais que persistem até hoje.

Quem foram os principais figuras no planejamento e execução da operação de resgate?

O planejamento e a execução da Operação Chavín de Huántar envolveram um círculo restrito de indivíduos de alto escalão, liderados diretamente pela Presidência da República e pelas forças armadas peruanas. A figura central foi, sem dúvida, o Presidente Alberto Fujimori. Ele foi o arquiteto da decisão política de não negociar uma troca de prisioneiros e o principal impulsionador da opção militar. Fujimori acompanhou de perto cada detalhe da preparação, supervisionando os treinos e tomando decisões estratégicas cruciais.

Ao lado de Fujimori, o General Nicolás de Bari Hermoza Ríos, então Comandante-Geral do Exército, e o General Julio Salazar Monroe, chefe do Serviço de Inteligência Nacional (SIN), foram os cérebros militares e de inteligência por trás da operação. Hermoza Ríos foi responsável pela coordenação geral das forças armadas e pela seleção e treinamento das unidades especiais, enquanto Salazar Monroe, através do SIN, forneceu a inteligência vital sobre a disposição dos sequestradores e a estrutura da residência. A sinergia entre esses três homens foi essencial para o sucesso do plano.

A execução da operação ficou a cargo de unidades de elite das Forças Armadas peruanas, incluindo comandos do Exército, da Marinha e da Força Aérea. Os grupos mais proeminentes foram o Centro de Comando de Operações Especiais (CCOES) e a Unidade de Luta Contra o Terrorismo (ULCT). Os soldados que compunham essas unidades foram cuidadosamente selecionados e submetidos a um treinamento exaustivo e secreto em uma réplica da residência do embaixador. A liderança tática no campo foi exercida por oficiais como o Coronel Rolando Patrón e o Capitão Juan Valer Sandoval (que viria a falecer na operação).

Além dos militares, engenheiros e outros técnicos desempenharam um papel fundamental na construção dos túneis e no monitoramento de escutas. O trabalho deles, muitas vezes invisível, foi indispensável para a surpresa do ataque. A equipe de inteligência também empregou métodos criativos, como o uso de microfones camuflados e o estudo de rotinas dos sequestradores. O sucesso da Operação Chavín de Huántar foi, portanto, o resultado de um esforço coordenado de alto nível, envolvendo a liderança política, militar, de inteligência e o sacrifício pessoal dos comandos.

Como foi construída a rede de túneis subterrâneos?

A construção da rede de túneis subterrâneos sob a residência do embaixador japonês foi um dos aspectos mais engenhosos e sigilosos da Operação Chavín de Huántar. Este projeto hercúleo, que durou meses, foi iniciado logo após a tomada de reféns e conduzido com absoluta discrição para garantir o elemento surpresa. A ideia era criar múltiplas vias de acesso para as forças especiais, permitindo-lhes emergir em diferentes pontos da residência simultaneamente, pegando os sequestradores totalmente desprevenidos.

Os túneis foram escavados a partir de casas vizinhas que haviam sido secretamente adquiridas pelo governo peruano ou cedidas por moradores. O trabalho era realizado por engenheiros do exército e mineiros civis especializados, que trabalhavam em turnos, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Para evitar que o barulho da escavação fosse detectado pelos guerrilheiros, que sabiam da possibilidade de um ataque por túneis, o governo implementou uma série de medidas de disfarce. Músicas altas, como óperas e marchas militares, eram frequentemente tocadas por alto-falantes ao redor do perímetro da residência, mascarando o som das escavações.

A terra e os escombros removidos dos túneis eram transportados em pequenos carrinhos e removidos da área sob o disfarce de atividades civis comuns, como obras de construção ou limpeza de ruas. A rede de túneis não era apenas horizontal; ela incluía rampas e poços que permitiam o acesso a diferentes níveis da residência. Os túneis eram equipados com ventilação e iluminação precárias, e a tarefa de escavá-los era extremamente perigosa e árdua, dada a necessidade de silêncio e o risco de desabamento.

A inteligência desempenhou um papel vital na construção, fornecendo plantas detalhadas da residência e monitorando a movimentação dos sequestradores para determinar os melhores locais para as saídas dos túneis. A precisão foi tamanha que até maquetes em tamanho real do interior da residência foram construídas para os comandos treinarem. O ponto culminante da construção foi o posicionamento de cargas explosivas nas pontas dos túneis, sob o chão da residência, que seriam detonadas no momento exato do assalto para abrir caminho para os comandos. Essa rede subterrânea foi a chave tática que permitiu o sucesso da Operação Chavín de Huántar.

Que desafios as forças especiais peruanas enfrentaram durante o assalto?

Durante o assalto da Operação Chavín de Huántar, as forças especiais peruanas enfrentaram uma série de desafios complexos e perigosos. O primeiro e mais significativo era o elemento surpresa: apesar da elaborada rede de túneis, a garantia de que os sequestradores não reagiriam a tempo de causar baixas massivas entre os reféns era uma incerteza constante. A detonação das cargas explosivas que abriram os buracos no chão da residência e o subsequente barulho do assalto poderiam ter alarmado o MRTA antes que os comandos pudessem neutralizá-los, resultando em uma tragédia maior.

A proteção dos reféns foi o desafio primordial. Os comandos tinham que atuar com extrema precisão para evitar atingir os reféns durante o tiroteio intenso. A visibilidade em muitos ambientes da residência era limitada, especialmente nos primeiros segundos do assalto, e a necessidade de identificar rapidamente sequestradores e distingui-los dos reféns era crítica sob pressão. Ações rápidas e decisivas foram necessárias para guiar os reféns para locais seguros, enquanto os sequestradores eram confrontados e neutralizados.

O ambiente confinado e desconhecido da residência apresentava obstáculos táticos. Embora os comandos tivessem treinado em uma réplica exata, a realidade de um combate real em um espaço cheio de móveis, corredores e possíveis esconderijos exigia uma adaptação imediata. A coordenação entre as diversas equipes de assalto, que invadiam de múltiplos pontos – túneis, telhado e janelas – era vital para evitar fogo amigo e garantir que todos os sequestradores fossem encurralados e não pudessem reagir de forma coordenada.

Finalmente, o desafio de lidar com a reação dos sequestradores foi imediato e violento. Embora pegos de surpresa, os membros do MRTA reagiram com disparos. Os comandos tiveram que enfrentar uma resistência armada, garantindo a sua própria segurança enquanto cumpriam a missão de resgate. Dois comandos, o Coronel Juan Valer Sandoval e o Tenente Raúl Jiménez Chávez, perderam a vida, um testemunho da ferocidade do confronto e dos riscos inerentes a uma operação tão audaciosa. A operação foi um exemplo de coragem e planejamento militar diante de adversidades extremas.

Quais foram os resultados imediatos da operação de resgate?

Os resultados imediatos da Operação Chavín de Huántar foram marcados por um sucesso retumbante na libertação da maioria dos reféns, mas também por um custo humano. Em apenas 38 minutos de ação intensa, as forças especiais peruanas conseguiram invadir a residência e dominar os sequestradores. A principal vitória foi a libertação de 71 dos 72 reféns restantes, que estavam aprisionados há 126 dias. A imagem dos reféns, alguns visivelmente emocionados e exaustos, sendo resgatados da residência, foi um alívio monumental para o Peru e para o mundo.

No entanto, a operação não foi isenta de perdas. Todos os 14 sequestradores do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) foram mortos durante o assalto. Essa fatalidade total dos guerrilheiros gerou controvérsias imediatas sobre a letalidade da operação e levantou questões sobre possíveis execuções extrajudiciais. Independentemente das discussões futuras, a imediata eliminação da ameaça do MRTA foi um resultado direto e decisivo da ação militar.

Tragicamente, um dos reféns, o Juiz da Suprema Corte Carlos Giusti Acuña, faleceu devido a um ataque cardíaco durante o caos do assalto. Sua morte foi uma sombra sobre a vitória da operação, lembrando a fragilidade da vida em situações de extremo estresse. Além disso, dois militares peruanos de elite, o Coronel Juan Valer Sandoval e o Tenente Raúl Jiménez Chávez, perderam a vida em combate, tornando-se heróis nacionais e um lembrete do sacrifício envolvido no resgate.

Os resultados imediatos da operação foram amplamente aclamados no Peru e por muitos governos estrangeiros como uma vitória decisiva contra o terrorismo e uma demonstração da capacidade militar peruana. A libertação dos reféns trouxe um fim a um período de intensa ansiedade nacional e internacional, permitindo que o país virasse uma página na sua luta contra a insurgência. No entanto, a forma como a operação foi conduzida, especialmente a morte de todos os sequestradores, plantou as sementes para futuras investigações e debates sobre direitos humanos.

Quais foram as baixas de ambos os lados?

A Operação Chavín de Huántar, embora um sucesso tático no resgate dos reféns, não foi isenta de um custo humano significativo. No que diz respeito aos sequestradores, todas as 14 pessoas que compunham o comando do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) foram mortas durante o assalto. Isso incluiu o líder do grupo, Néstor Cerpa Cartolini, e todos os seus subordinados. A eliminação total da força invasora foi um dos objetivos da operação, visando garantir que não houvesse mais ameaças ou fugas, mas gerou intenso debate sobre a legalidade de cada morte.

Do lado dos reféns, a maioria escapou ilesa, um testemunho do planejamento e da execução das forças especiais para protegê-los. No entanto, houve uma baixa trágica: o juiz da Suprema Corte, Carlos Giusti Acuña, faleceu de um ataque cardíaco durante o tumulto e o tiroteio que acompanharam o início da operação. Sua morte, embora não diretamente por ferimentos de bala, foi uma consequência direta do estresse e da violência do resgate, representando uma perda lamentável para a nação.

As forças militares peruanas também sofreram perdas. Dois comandos de elite, o Coronel Juan Valer Sandoval e o Tenente Raúl Jiménez Chávez, foram mortos em combate durante o assalto. Ambos se tornaram símbolos do heroísmo e do sacrifício na luta contra o terrorismo no Peru. Suas mortes destacaram a periculosidade da missão e o alto risco enfrentado pelos soldados que participaram do resgate, reforçando a imagem de que a operação foi uma demonstração de coragem e determinação militar.

Em suma, a tabela de baixas da Operação Chavín de Huántar pode ser resumida da seguinte forma:

As baixas refletem a brutalidade do confronto e o preço pago pela libertação dos reféns, deixando um legado de heroísmo, mas também de questões não resolvidas sobre a justiça do desfecho para os sequestradores.

Qual foi a reação internacional ao resgate?

A reação internacional à Operação Chavín de Huántar foi amplamente de alívio e elogio ao governo peruano pela libertação dos reféns. Muitos líderes mundiais e organizações internacionais expressaram seu apoio e felicitações ao Presidente Alberto Fujimori e às forças especiais peruanas. A conclusão bem-sucedida de uma crise de reféns tão prolongada e de alto perfil foi vista como uma vitória contra o terrorismo e uma demonstração de capacidade militar e determinação política.

O Japão, o país mais diretamente afetado pela crise, expressou um profundo alívio e gratidão pelo resgate de seu embaixador e de outros cidadãos japoneses. O primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto, elogiou a operação, embora também tenha expressado pesar pelas vidas perdidas, incluindo a do juiz peruano. A relação bilateral entre o Japão e o Peru, que havia sido testada durante a crise, foi fortalecida pelo desfecho positivo, solidificando os laços entre as duas nações.

Os Estados Unidos, por meio de seus oficiais e porta-vozes, também aplaudiram a operação, destacando o profissionalismo das forças especiais peruanas. Muitos países europeus e latino-americanos seguiram o exemplo, reconhecendo a coragem da decisão de Fujimori e a eficácia do plano de resgate. A operação foi vista como um exemplo de como um governo poderia lidar com uma situação de reféns sem ceder às demandas dos terroristas, reforçando a política internacional de não concessão.

No entanto, a reação não foi totalmente unânime. Houve setores, especialmente grupos de direitos humanos e algumas vozes na mídia internacional, que levantaram preocupações sobre a morte de todos os 14 sequestradores. Acusações de execuções extrajudiciais começaram a surgir, lançando uma sombra sobre o sucesso da operação. Apesar dessas controvérsias, a impressão geral e a resposta diplomática imediata foram de apoio à ação do Peru, com o foco na libertação dos reféns e na vitória contra o terrorismo, como demonstra a seguinte lista:

• Japão: Profundo alívio e gratidão pelo resgate, com elogios à eficácia da operação e pesar pelas perdas de vidas.
• Estados Unidos: Apoio e congratulações ao governo peruano pela capacidade militar e decisão.
• Organizações Internacionais (ONU, OEA): Expressões de alívio pelo fim da crise, com ressalvas quanto às alegações de direitos humanos.
• Mídia Global: Inicialmente, grande cobertura e celebração do resgate, com a posterior aparição de questionamentos sobre a letalidade.
• Grupos de Direitos Humanos: Expressaram preocupação e solicitaram investigações sobre as alegações de execuções dos sequestradores.

Quais foram as consequências de longo prazo para o Peru e o MRTA?

As consequências de longo prazo da Operação Chavín de Huántar foram profundas e tiveram um impacto significativo tanto para o Peru quanto para o Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA). Para o Peru, a operação foi vista por muitos como o golpe final decisivo contra os grupos insurgentes que haviam assolado o país por mais de uma década. A eliminação do comando do MRTA e a humilhação pública do grupo marcaram o declínio irreversível da organização como uma força militar ou política significativa. A partir daquele momento, o MRTA praticamente desapareceu da cena terrorista peruana, incapaz de se recuperar.

Politicamente, o Presidente Alberto Fujimori emergiu da crise com uma popularidade e prestígio imensos, tanto a nível nacional quanto internacional. A operação solidificou sua imagem como um líder forte e decisivo, capaz de enfrentar e derrotar o terrorismo. Este sucesso foi um fator chave em sua reeleição e na consolidação de seu poder, embora também tenha contribuído para a crescente autoritarismo de seu governo. O “efeito Chavín de Huántar” deu a Fujimori um capital político considerável, permitindo-lhe avançar com políticas mais controversas.

No entanto, o legado da operação não foi totalmente positivo. As alegações de execuções extrajudiciais dos sequestradores persistiram por anos, levando a investigações e processos judiciais. Essas controvérsias mancharam a imagem do governo de Fujimori e contribuíram para o seu eventual descrédito e queda em 2000. O debate sobre a justiça e a legalidade da operação continuou a dividir a sociedade peruana, levantando questões sobre os limites da luta contra o terrorismo e a preservação dos direitos humanos.

Para o MRTA, a consequência foi o seu fim prático. O grupo, que já estava enfraquecido, perdeu sua liderança mais experiente e sua capacidade de operação. Muitos de seus membros remanescentes foram presos ou se exilaram. A tomada da residência foi um último e desesperado ato para tentar reverter seu declínio, mas ironicamente, selou seu destino. A operação “Chavín de Huántar” não foi apenas um resgate de reféns, mas um ponto de virada histórico na luta antiterrorista peruana, encerrando uma era de conflito interno armado, mas deixando um legado complexo de heroísmo e controvérsia.

Que controvérsias e desafios legais seguiram a operação?

Apesar do sucesso aparente da Operação Chavín de Huántar na libertação dos reféns, o desfecho da missão foi seguido por significativas controvérsias e desafios legais, que continuam a ecoar no Peru até hoje. A principal fonte de discórdia foi a morte de todos os 14 sequestradores do MRTA. Embora o governo peruano tenha inicialmente afirmado que todos os guerrilheiros foram mortos em combate legítimo, testemunhos e evidências posteriores sugeriram que alguns deles podem ter sido executados sumariamente após serem rendidos ou feridos.

As acusações de execuções extrajudiciais levaram a investigações e processos judiciais tanto no Peru quanto em cortes internacionais. Familiares dos sequestradores, juntamente com organizações de direitos humanos, apresentaram denúncias, alegando que os comandos militares haviam violado as leis de guerra e os direitos humanos. O caso chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e, posteriormente, à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), que emitiu pareceres exigindo que o Peru investigasse e punisse os responsáveis por quaisquer execuções.

O governo peruano, sob Alberto Fujimori, e posteriormente seus sucessores, enfrentaram a difícil tarefa de equilibrar a defesa da operação como um ato de heroísmo nacional com a necessidade de abordar as alegações de violações de direitos humanos. Vários militares envolvidos na operação foram processados e julgados em diferentes momentos, com resultados variados, desde absolvições até condenações, e posteriores reversões. Esses processos destacaram a tensão entre a justiça e a segurança nacional, e a dificuldade em estabelecer a verdade em um cenário de combate intenso.

Além das mortes dos sequestradores, também surgiram questionamentos sobre a morte do refém Carlos Giusti Acuña e dos dois comandos militares. Embora oficialmente atribuídas a ataque cardíaco e combate, respectivamente, a natureza caótica do assalto alimentou especulações e exigiu investigações detalhadas. As controvérsias legais da Operação Chavín de Huántar são um lembrete complexo de que, mesmo em operações de resgate bem-sucedidas, as ações em situações de crise podem ter repercussões duradouras para a justiça e a memória histórica de um país.

Como a memória da crise é lembrada hoje?

A memória da crise da residência do embaixador japonês em Lima e da Operação Chavín de Huántar é hoje um componente complexo e multifacetado da história contemporânea do Peru. Para muitos peruanos, a operação é celebrada como um ato de heroísmo nacional e um marco na vitória do Estado contra o terrorismo. Os comandos que participaram do resgate são reverenciados como heróis, e a data do 22 de abril é lembrada como um dia de libertação e orgulho nacional, simbolizando a determinação do país em enfrentar a ameaça insurgente.

Existe um forte sentimento de gratidão e reconhecimento para com as forças armadas, que conseguiram resgatar os reféns após 126 dias de cativeiro, evitando o que muitos temiam ser uma tragédia ainda maior. Monumentos e cerimônias são realizados em homenagem aos comandos que perderam suas vidas, como Juan Valer Sandoval e Raúl Jiménez Chávez, solidificando seu lugar na memória coletiva como mártires da nação. Esta narrativa do triunfo sobre o terror é amplamente divulgada e aceita por uma parte significativa da população.

No entanto, a memória da crise também é marcada por controvérsias persistentes. As alegações de execuções extrajudiciais dos sequestradores, embora frequentemente contestadas por setores militares e políticos, continuam a ser uma ferida aberta para grupos de direitos humanos e para as famílias dos mortos. Estas questões alimentam um debate contínuo sobre a ética da guerra antiterrorista, os limites do poder estatal e a necessidade de responsabilização, mesmo em contextos de emergência nacional. A dualidade entre heroísmo e justiça é uma característica central da lembrança do evento.

Em resumo, a memória da Operação Chavín de Huántar é:

• Um símbolo de vitória e heroísmo nacional contra o terrorismo para muitos peruanos.
• Um lembrete das capacidades e do sacrifício das Forças Armadas do Peru.
• Objeto de debate e controvérsia sobre direitos humanos e execuções extrajudiciais.
• Uma referência importante na história política do Presidente Alberto Fujimori e sua luta contra a insurgência.
• Parte de um capítulo mais amplo sobre a violência política e a busca por justiça e reconciliação no Peru, que continua a ser debatido em livros, documentários e na academia.

A crise serve como um estudo de caso complexo sobre segurança, terrorismo e direitos humanos, cuja interpretação continua a evoluir com o tempo e novas perspectivas históricas.

Bibliografia

• Stempel, Jeffrey D. The Hostage Crisis: Japan, Peru, and the Dilemma of a Diplomatic Solution. University Press of America, 2005.
• Comisión de la Verdad y Reconciliación (CVR). Informe Final. Capítulo 2.15: El MRTA. Lima, 2003.
• McClintock, Cynthia. Revolutionary Movements in Latin America: El Salvador’s FMLN and Peru’s Shining Path. United States Institute of Peace Press, 1998.
• El Comercio (Peru). Arquivos de notícias sobre a crise da Embaixada Japonesa em Lima, 1996-1997 e anos posteriores.
• New York Times. Cobertura da crise dos reféns na residência do embaixador japonês em Lima, 1996-1997.
• Human Rights Watch. Reportagens e comunicados sobre a Operação Chavín de Huántar e suas consequências.
• Peruvian Ministry of Defense. Publicações e relatórios sobre a Operação Chavín de Huántar.